O Brasil é o único país grande produtor de plantas
transgênicas que é signatário do Protocolo de Cartagena e assim tem direito a
voz e voto nas reuniões da COP-MOP, promovidas a cada dois anos pelo
Secretariado da Convenção de Biodiversidade (CBD).
Numa virada previsível (já havia uma sinalização na última
COP-MOP no Japão), a Europa retirou seu apoio financeiro a um grande leque de
ações que vinha apoiando. Com isso, mais de 100 países pequenos, em geral em
desenvolvimento, ficam sem recursos para continuar no cenário de discussões da
CBD e perdem muito em poder de pressão para aprovar normas, guias e outras
diretrizes que obrigariam os países produtores de OGMs a pagar-lhes algum tipo
de tributo, seja na forma de um seguro contra eventuais riscos que os OGM pudessem
trazer ao meio ambiente, seja na forma de uma divisão de benefícios ou
pagamento por acesso a conhecimento ou patrimônio genético, ou ainda de outras
formas a serem imaginadas a discutidas no futuro. Não há nesta atitude dos
países pequenos qualquer vislumbre de preocupação real com a segurança
ambiental, no que diz respeito especificamente ao uso de OGMs, mas apenas uma
forma de abiscoitar os lucros advindos do comércio de plantas transgênicas pelo
mundo (apesar de muitos de seus arautos dizerem abertamente que as plantas GM
só causam prejuízos aos agricultores...).
Agora a representante da Bolívia (que mantém fortes vínculos
com grupos anti OGM) propõe que os países produtores de plantas GM passem a
financiar a presença dos países pequenos na COP-MOP. Lido de forma realista, isso
significa dizer que o Brasil deveria pagar pela participação dos 100 ou mais
países pequenos nas reuniões pelo mundo afora agendadas pela CBD. Isso é
realmente muito imaginativo: o Brasil pode e deve ter interesse na
biossegurança, e assim tem procedido, tendo uma das mais ativas comissões de
avaliação de risco do mundo e participando ativamente das ações da CBD,
inclusive com a manutenção da transparência através do portal da Biosafety
Clearing House. Mas daí a ajudar os países pequenos a conseguirem uma forma de
abiscoitar os lucros do país na exportação de seus produtos, é uma enorme
distância. Ao contrário de parte dos países da Europa, que até hoje insistem na
sua posição anti-OGM, o Brasil se beneficiou imensamente da tecnologia e nunca
viu qualquer dano causado por ela, depois de mais de 10 anos de cultivo no
país. Assim, a Europa tinha interesse em bombear o temor e a super-precaução
entre os países pequenos, mas o Brasil está numa situação diametralmente
oposta.
Em pouco tempo se encerrará a discussão em Hyderabad (sede
da atual COM-MOP). Veremos o que sai deste fórum.
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