segunda-feira, 23 de novembro de 2015

AVALIAÇÃO DE RISCO DE OGMS EXPRESSANDO RNA DE INTERFERÊNCIA: O FEIJÃO TRANSGÊNICO DA EMBRAPA

Caros leitores

Com a chegada do feijão transgênico na mesa dos brasileiros, prevista para 2016, está na hora de ler com atenção o artigo recente intitulado Biosafety research for non-target
organism risk assessment of RNAi-based GE plants. O artigo tem uma visão muito clara sobre a metodologia da avaliação de risco e as considerações que nos traz sobre iRNA são muito importantes. Aqui está o link:
(use o link download article à direita da tela do site)

A compreensão das questões e respostas mostradas neste artigo seguramente eliminará qualquer receio que alguém possa ter sobre o feijão da EMBRAPA resistente ao vírus do mosaico dourado do feijoeiro, que usa o mecanismo de interferência de RNA para impedir a multiplicação do vírus nas células do feijão. A EMBRAPA e a CTNBio seguiram essencialmente os passos delineados neste artigo. Em postagens anteriores analisamos a liberação deste feijão e avaliamos parte de seus riscos. Os links estão abaixo.

1) Rota ao dano pelo RNA de interferência no feijão transgênico da Embrapa

2) A fonte de informação correta para conhecer o feijão GM da EMBRAPA

3) Segurança do feijão GM da Embrapa: sobre a improvável existência de siRNA off target

4) Avaliação de risco do feijoeiro transgênico: serenidade na condução e consistência dos resultados na CTNBio


E também:
a) o texto do Graziano: A história do feijão GM como ela é

b)  “O feijão transgênico da Embrapa é seguro”, artigo de Francisco G. Nóbrega e Maria Lucia Zaidan Dagli

c) CTNBio refuta CONSEA quanto à segurança do feijão transgênico da EMBRAPA



terça-feira, 17 de novembro de 2015

Glifosato e transgênicos: tudo como dantes no quartel de Abrantes


EFSA conclui que o glifosato não é carcinogênico nem tóxico aos seres humanos, contrariando as conclusões da IARC. O que vale mais, a conclusão de uma agência de avaliação de riscos (a EFSA) ou a de uma agência de pesquisas (a IARC)? Leiam abaixo as considerações

Um comunicado da IARC (International Agency for Research on Cancer) de  2015 (Monografia 112, ver IARC 2015 e também Guyton et al., 2015) havia reclassificado o glifosato como  ‘probably carcinogenic to humans’ (group 2A)” “provavelmente carcinogênico para seres humans (grupo 2A)”, levantando uma onda de acusações contra os agricultores que empregam o produto, contra os produtores de variedades de plantas transgênicas que apresentam tolerância ao glifosato e contra todas as agências de risco do Mundo que haviam avaliado “erroneamente” o potencial carcinogênico do herbicida. Alarmistas de plantão imediatamente encontraram (ou ressuscitaram) evidências de que o glifosato causava câncer, autismo, colapso da colmeia de abelhas e muitas outras coisas.

Em novembro a EFSA (European Food and Safety Authority) publicou suas conclusões sobre o potencial carcinogênico do glifosato, à luz das evidências existentes. As conclusões da EFSA, que contrariam as da IARC, e recolocam o glifosato como herbicida de baixo risco para a saúde humana (em particular em relação ao potencial carcinogênico), estão abaixo.

 "EFSA concluded that glyphosate is unlikely to pose a carcinogenic hazard to humans and the evidence does not support classification with regard to its carcinogenic potential according to Regulation (EC) No 1272/2008."

“A EFSA concluiu que é improvável que o glifosato represente um perigo como carcinógeno para seres humanos e que a evidência não apoia a classificação com base em seu potencial carcinogênico de acordo com a Regulação (EC) no. 1272/2008”

O processo de revisão da avaliação de risco (RAR) pela EFSA iniciou em janeiro de 2014 e foi concluído agora (novembro de 2015).  As conclusões foram baseadas na avaliação dos usos representativos do glifosato como herbicida para o controle de ervas daninhas num grande número de culturas. Os detalhes dos usos representativos podem ser encontrados no Apêndice A do estudo da EFSA, linkado acima.

Em relação à carcinogênese, a avaliação da EFSA foi focada no produto ativo (o herbicida glifosato) e pesou todas as evidências disponíveis. A conclusão final é que o glifosato não está classificado nem proposto a sê-lo como carcinogênico ou tóxico.

A EFSA identificou alguns aspectos que demandam mais dados para que se possa concluir sobre segurança: a presença de resíduos (contaminantes) nas preparações comerciais e o destino ambiental do AMPA em solos ácidos(o AMPA é o produto gerado pelas plantas transgênicas quando degradam o glifosato). As questões remanescentes nada têm a ver com o potencial carcinogênico do glifosato.

Concluo alertando os leitores que a EFSA é uma agência de avaliação de risco, mas não a IARC. A avaliação de risco é um processo bem estruturado e, embora baseado em ciência, é pouco conhecido e levado a cabo por cientistas fora das agências de risco, exceto quando são partícipes de desenvolvimento de projetos onde a avaliação de risco é requerida pelos regulatórios de seus países. Não é de estranhar, portanto, que a IARC, uma agência de pesquisa em câncer,  tenha concluído erradamente sobre os riscos do glifosato. Volta-se, portanto, ao que sempre se soube: o glifosato é um herbicida com risco muito baixo para a saúde humana. Resta ver se os arautos do apocalipse agrícola e da intoxicação em massa vão rever suas posições, inclusive nosso Instituto Nacional do Câncer (INCA). Vou esperar sentado...

Referências

Guyton KZ, Loomis D, Grosse Y, El GhissassiF, Benbrahim-Tallaa L, Guha N, Scoccianti C, Mattock H, Straif K, 2015.  Carcinogenicity of tetrachlorvinphos, parathion, malathion, diazinon, and glyphosate. The Lancet (Oncology) 16(5): 490–491.

IARC (International Agency for Research on Cancer), 2015. Monographs, Volume 112: Some organophosphate insecticides and herbicides: tetrachlorvinphos, parathion, malathion, diazinon and glyphosate. IARC Working Group. Lyon; 3–10 March 2015. IARC Monogr Eval Carcinog Risk
Chem Hum.