EFSA
conclui que o glifosato não é carcinogênico nem tóxico aos seres humanos,
contrariando as conclusões da IARC. O que vale mais, a conclusão de uma agência
de avaliação de riscos (a EFSA) ou a de uma agência de pesquisas (a
IARC)? Leiam abaixo as considerações
Um comunicado da IARC (International Agency for Research on
Cancer) de 2015 (Monografia 112, ver
IARC 2015 e também Guyton et al., 2015) havia reclassificado o glifosato como ‘probably carcinogenic to humans’ (group 2A)” “provavelmente
carcinogênico para seres humans (grupo 2A)”, levantando uma onda de acusações
contra os agricultores que empregam o produto, contra os produtores de
variedades de plantas transgênicas que apresentam tolerância ao glifosato e
contra todas as agências de risco do Mundo que haviam avaliado “erroneamente” o
potencial carcinogênico do herbicida. Alarmistas de plantão imediatamente
encontraram (ou ressuscitaram) evidências de que o glifosato causava câncer,
autismo, colapso da colmeia de abelhas e muitas outras coisas.
Em novembro a EFSA (European Food and Safety Authority)
publicou suas conclusões sobre o potencial carcinogênico do glifosato, à luz
das evidências existentes. As conclusões da EFSA, que contrariam as da IARC, e recolocam
o glifosato como herbicida de baixo risco para a saúde humana (em
particular em relação ao potencial carcinogênico), estão abaixo.
"EFSA
concluded that glyphosate is unlikely to pose a carcinogenic hazard to humans
and the evidence does not support classification with regard to its
carcinogenic potential according to Regulation (EC) No 1272/2008."
“A EFSA concluiu que é improvável que o glifosato represente
um perigo como carcinógeno para seres humanos e que a evidência não apoia a
classificação com base em seu potencial carcinogênico de acordo com a Regulação
(EC) no. 1272/2008”
O processo de revisão da avaliação de risco (RAR) pela EFSA iniciou
em janeiro de 2014 e foi concluído agora (novembro de 2015). As conclusões foram baseadas na avaliação dos
usos representativos do glifosato como herbicida para o controle de ervas
daninhas num grande número de culturas. Os detalhes dos usos representativos
podem ser encontrados no Apêndice A do estudo da EFSA, linkado acima.
Em relação à carcinogênese, a avaliação da EFSA foi focada
no produto ativo (o herbicida glifosato) e pesou todas as evidências
disponíveis. A conclusão final é que o glifosato não está classificado nem
proposto a sê-lo como carcinogênico ou tóxico.
A EFSA identificou alguns aspectos que demandam mais dados
para que se possa concluir sobre segurança: a presença de resíduos (contaminantes)
nas preparações comerciais e o destino ambiental do AMPA em solos ácidos(o AMPA
é o produto gerado pelas plantas transgênicas quando degradam o glifosato). As
questões remanescentes nada têm a ver com o potencial carcinogênico do
glifosato.
Concluo alertando os leitores que a EFSA é uma agência de
avaliação de risco, mas não a IARC. A avaliação de risco é um processo bem
estruturado e, embora baseado em ciência, é pouco conhecido e levado a cabo por
cientistas fora das agências de risco, exceto quando são partícipes de
desenvolvimento de projetos onde a avaliação de risco é requerida pelos
regulatórios de seus países. Não é de estranhar, portanto, que a IARC, uma
agência de pesquisa em câncer, tenha
concluído erradamente sobre os riscos do glifosato. Volta-se, portanto, ao que
sempre se soube: o glifosato é um herbicida com risco muito baixo para a saúde
humana. Resta ver se os arautos do apocalipse agrícola e da intoxicação em massa vão rever suas posições, inclusive nosso Instituto Nacional do Câncer (INCA). Vou esperar sentado...
Referências
Guyton KZ, Loomis D, Grosse Y, El GhissassiF, Benbrahim-Tallaa
L, Guha N, Scoccianti C, Mattock H, Straif K, 2015. Carcinogenicity of tetrachlorvinphos,
parathion, malathion, diazinon, and glyphosate. The Lancet (Oncology) 16(5): 490–491.
IARC (International Agency for Research on Cancer), 2015.
Monographs, Volume 112: Some organophosphate insecticides and herbicides:
tetrachlorvinphos, parathion, malathion, diazinon and glyphosate. IARC Working
Group. Lyon; 3–10 March 2015. IARC Monogr Eval Carcinog Risk
Chem Hum.
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