Em mesa
redonda recente no Fórum Transgênicos na América
Latina, em Quito no último dia 16 de outubro (2012), organizado pela FLACSO
(Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais – http://www.flacso.org.ec/portal/) ,
o professor catedrático em recursos genéticos da UFSC, Dr. Rubens Onofre Nodari
(link para CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/1871521544483113)
advertiu o público presente e o governo equatoriano sobre os riscos inerentes à
biotecnologia em geral e, em especial, ao feijão geneticamente modificado
resistente ao vírus do mosaico dourado, desenvolvido pela EMBRAPA. Em sua
apresentação o pesquisador ainda apresentou como contundente prova dos riscos
inerentes ao consumo de alimentos formulados com plantas transgênicas o
trabalho de G.E. Séralini, amplamente criticado pela comunidade científica séria,
pelo Mundo afora (veja box para links).
Críticas sérias ao
trabalho de Séralini e cols. sobre a indução de tumores em ratos devida ao
consumo de ração com milho NK603 tolerante ao herbicida glifosato.
É claro que o
pesquisador tem todo o direito de ter suas próprias opiniões sobre a segurança
da tecnologia, mas quando na sua apresentação vende como coisa séria a
trapalhada midiática do Séralini, ainda por cima em um fórum de não especialistas
em biotecnologia, ele deixa de ser um cientista e passa a ser um pseudo arauto
de perigos, um vendedor de temores a um público desavisado. Mais grave ainda:
quando, como professor titular e ex membro da CTNBio, ele lança num simpósio no
exterior todo tipo de dúvidas sobre a pertinência da avaliação de risco da
CTNBio e a capacidade da Embrapa em gerar dados úteis e suficientes para dita
avaliação, vende ao país amigo a imagem de um Brasil irresponsável e
descumpridor de acordos e tratados internacionais sobre biossegurança de
transgênicos.
Boa parte do
que o Prof. Nodari apresentou em Quito já constava do documento que ele
elaborou, com uma colaboradora, e encaminhou no apagar das luzes da avaliação
de risco do feijão transgênico Embrapa 5.1, conduzida pela CTNBio. As
argumentações também constam de artigos que o professor publicou em periódicos
no Brasil. Contra todas aquelas argumentações vários cientistas e membros da
CTNBio se posicionaram, num documento disponível em http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=79511.
À luz deste
documento, talvez nem fosse mais importante refutar certos argumentos
apresentados em Quito, uma vez que todos são antigos na pauta de protestos do
professor. Ainda assim, é conveniente mostrar como uma informação que nada tem
a ver com biossegurança (ambiental ou alimentar) é repassada aos ouvintes como
tal. Alessandra Lucioli e seus colaboradores publicaram um comentário na revista
Nature Biotechnology onde argumentam em termos teóricos sobre a duração e
robustez da tecnologia de iRNA na agricultura (http://192.107.92.31/eneascuola/Allegati/Lucioli%20et%20al%202008%20Nature%20Biotechnology.pdf).
Em nenhum instante avançam um milímetro sequer na área de biossegurança. Mesmo
que o futuro lhes dê razão (no que não acreditamos de forma alguma), o fracasso
da tecnologia nada tem a ver com a biossegurança do produto. O Dr. Nodari,
espertamente, vende gato por lebre.
É preciso
comentar também uma inverdade repassada pelo palestrante em Quito e ecoada pela
mídia, que apenas demonstra total desconhecimento (ou, no caso de um especialista
na área, amnésia?) de genética molecular e da forma como se produzem plantas GM:
esta história de que dos 22 eventos de feijão gerados, apenas 2 realmente
resistiram ao vírus do mosaico dourado. Ora, toda vez que se faz transformação
de plantas, geram-se dezenas, em geral centenas, de candidatos e uns poucos é
que funcionam como o esperado. Porque os outros falham? Há várias razões possíveis, mas
a principal é que a inserção se deu numa área do cromossoma com configuração
estrutural que impede a expressão do transgene e de tudo mais que estiver na
região. Ora, como o que interessa é o que vai ao mercado, não importa nem um
pouco saber onde foram parar os insertos nos eventos não utilizados. Dizer que
isso é insegurança é rematada asneira. Para uma explanação sobre as semelhanças
entre o desenvolvimento de um novo cultivar e de um evento elite, sugerimos a
leitura do guia de avaliação de riscos de OGM, recém publicado e disponível em http://192.107.92.31/eneascuola/Allegati/Lucioli%20et%20al%202008%20Nature%20Biotechnology.pdf
(ainda na versão em espanhol, logo teremos a tradução para o português).
Não queremos
tomar mais tempo ao leitor. Cabe a ele julgar se faz sentido acusar em um
encontro internacional a Embrapa de fazer errado seu serviço quanto á
biossegurança do feijão GM e a CTNBio de fazer tudo errado, como se os
especialistas que lá sentam fossem um bando de mal intencionados ou
incompetentes.
Para a
notícia sobre o fórum no periódico El Comercio (Quito, Equador), veja http://www.elcomercio.com/pais/Ecuador-debate-abierto-transgenicos_0_793120804.html
O Prof. Nodari, a meu ver, é um geneticista no estilo de Trofim Lysenko, que destruiu a genética na antiga URSS quando o poder político lhe deu espaço para perseguir os verdadeiros cientistas. Desde então a biologia e genética russas não conseguiram se reerguer. Sua pregação não tem substância. Quanto ao trabalho que "demonstraria" a insegurança alimentar do milho Bt diria o seguinte:
ResponderExcluirCondeno o trabalho por insuficiência de base científica para sequer iniciá-lo. Um milho que recebeu, frente ao convencional, um gene Bt e que expressa um produto protéico extremamente bem caracterizado, não tóxico, sensível aos sucos digestivos, não gera qualquer suspeita razoável quanto à possibilidade de seu consumo como alimento encerrar possibilidade de carcinogênese. Esta suspeita descabida só pode originar de completo desconhecimento do enorme acervo de conhecimentos que temos sobre a gênese dos cânceres ou de uma posição política/ideológica, sem base factual, com a finalidade de condenar uma determinada teoria ou tecnologia como aconteceu historicamente com o sistema heliocêntrico, a vacinação, a pasteurização do leite, a fluoretação da água, o consumo de batatas por dois séculos na Europa após sua introdução, etc. Considero que os estudos habituais de composição centesimal, toxicidade aguda e digestibilidade, associados ao conhecimento consolidado sobre a função e ubiquidade desses produtos gênicos na natureza e estudos estruturais e imunológicos in silico são suficientes para afastar suspeitas sobre riscos potenciais. E esses estudos indicaram ausência de risco. O parecer dos colegas indicados pela Presidência da CTNBio assim como as manifestações que tenho lido, vindas da Alemanha, dos EUA, da União Européia, Portugal, o recente repúdio de seis academias científicas da França, o parecer da entidade européia de patologistas, apontam as mesmas falhas no artigo de Seralini e col. A meu ver o artigo é nada mais que peça de propaganda enganosa anti-OGM por um grupo de ativistas que sabiam que o estudo seria condenado universalmente mas o impacto midiático seria persistente e benéfico para a agenda dos autores e seus interesses comerciais (dois livros e um filme, pelo menos). Esta agenda conta com o apoio poderoso do movimento ambientalista radical que é anti-ciência e anti-humanidade.
Francisco G Nóbrega