sábado, 20 de outubro de 2012

Imagem da biotecnologia brasileira, da EMBRAPA e da CTNBio seriamente comprometida no fórum Transgênicos na América do Sul (Quito, Equador) – transgênicos demonizados e desenvolvedores e avaliadores de risco tachados de incompetentes



Em mesa redonda recente no Fórum Transgênicos na América Latina, em Quito no último dia 16 de outubro (2012), organizado pela FLACSO (Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais – http://www.flacso.org.ec/portal/) , o professor catedrático em recursos genéticos da UFSC, Dr. Rubens Onofre Nodari (link para CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/1871521544483113) advertiu o público presente e o governo equatoriano sobre os riscos inerentes à biotecnologia em geral e, em especial, ao feijão geneticamente modificado resistente ao vírus do mosaico dourado, desenvolvido pela EMBRAPA. Em sua apresentação o pesquisador ainda apresentou como contundente prova dos riscos inerentes ao consumo de alimentos formulados com plantas transgênicas o trabalho de G.E. Séralini, amplamente criticado pela comunidade científica séria, pelo Mundo afora (veja box para links).

É claro que o pesquisador tem todo o direito de ter suas próprias opiniões sobre a segurança da tecnologia, mas quando na sua apresentação vende como coisa séria a trapalhada midiática do Séralini, ainda por cima em um fórum de não especialistas em biotecnologia, ele deixa de ser um cientista e passa a ser um pseudo arauto de perigos, um vendedor de temores a um público desavisado. Mais grave ainda: quando, como professor titular e ex membro da CTNBio, ele lança num simpósio no exterior todo tipo de dúvidas sobre a pertinência da avaliação de risco da CTNBio e a capacidade da Embrapa em gerar dados úteis e suficientes para dita avaliação, vende ao país amigo a imagem de um Brasil irresponsável e descumpridor de acordos e tratados internacionais sobre biossegurança de transgênicos.
Boa parte do que o Prof. Nodari apresentou em Quito já constava do documento que ele elaborou, com uma colaboradora, e encaminhou no apagar das luzes da avaliação de risco do feijão transgênico Embrapa 5.1, conduzida pela CTNBio. As argumentações também constam de artigos que o professor publicou em periódicos no Brasil. Contra todas aquelas argumentações vários cientistas e membros da CTNBio se posicionaram, num documento disponível em http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=79511.
À luz deste documento, talvez nem fosse mais importante refutar certos argumentos apresentados em Quito, uma vez que todos são antigos na pauta de protestos do professor. Ainda assim, é conveniente mostrar como uma informação que nada tem a ver com biossegurança (ambiental ou alimentar) é repassada aos ouvintes como tal. Alessandra Lucioli e seus colaboradores publicaram um comentário na revista Nature Biotechnology onde argumentam em termos teóricos sobre a duração e robustez da tecnologia de iRNA na agricultura (http://192.107.92.31/eneascuola/Allegati/Lucioli%20et%20al%202008%20Nature%20Biotechnology.pdf). Em nenhum instante avançam um milímetro sequer na área de biossegurança. Mesmo que o futuro lhes dê razão (no que não acreditamos de forma alguma), o fracasso da tecnologia nada tem a ver com a biossegurança do produto. O Dr. Nodari, espertamente, vende gato por lebre.
É preciso comentar também uma inverdade repassada pelo palestrante em Quito e ecoada pela mídia, que apenas demonstra total desconhecimento (ou, no caso de um especialista na área, amnésia?) de genética molecular e da forma como se produzem plantas GM: esta história de que dos 22 eventos de feijão gerados, apenas 2 realmente resistiram ao vírus do mosaico dourado. Ora, toda vez que se faz transformação de plantas, geram-se dezenas, em geral centenas, de candidatos e uns poucos é que funcionam como o esperado. Porque os outros falham? Há várias razões possíveis, mas a principal é que a inserção se deu numa área do cromossoma com configuração estrutural que impede a expressão do transgene e de tudo mais que estiver na região. Ora, como o que interessa é o que vai ao mercado, não importa nem um pouco saber onde foram parar os insertos nos eventos não utilizados. Dizer que isso é insegurança é rematada asneira. Para uma explanação sobre as semelhanças entre o desenvolvimento de um novo cultivar e de um evento elite, sugerimos a leitura do guia de avaliação de riscos de OGM, recém publicado e disponível em http://192.107.92.31/eneascuola/Allegati/Lucioli%20et%20al%202008%20Nature%20Biotechnology.pdf (ainda na versão em espanhol, logo teremos a tradução para o português).
Não queremos tomar mais tempo ao leitor. Cabe a ele julgar se faz sentido acusar em um encontro internacional a Embrapa de fazer errado seu serviço quanto á biossegurança do feijão GM e a CTNBio de fazer tudo errado, como se os especialistas que lá sentam fossem um bando de mal intencionados ou incompetentes.
Para a notícia sobre o fórum no periódico El Comercio (Quito, Equador), veja http://www.elcomercio.com/pais/Ecuador-debate-abierto-transgenicos_0_793120804.html

Um comentário:

  1. O Prof. Nodari, a meu ver, é um geneticista no estilo de Trofim Lysenko, que destruiu a genética na antiga URSS quando o poder político lhe deu espaço para perseguir os verdadeiros cientistas. Desde então a biologia e genética russas não conseguiram se reerguer. Sua pregação não tem substância. Quanto ao trabalho que "demonstraria" a insegurança alimentar do milho Bt diria o seguinte:

    Condeno o trabalho por insuficiência de base científica para sequer iniciá-lo. Um milho que recebeu, frente ao convencional, um gene Bt e que expressa um produto protéico extremamente bem caracterizado, não tóxico, sensível aos sucos digestivos, não gera qualquer suspeita razoável quanto à possibilidade de seu consumo como alimento encerrar possibilidade de carcinogênese. Esta suspeita descabida só pode originar de completo desconhecimento do enorme acervo de conhecimentos que temos sobre a gênese dos cânceres ou de uma posição política/ideológica, sem base factual, com a finalidade de condenar uma determinada teoria ou tecnologia como aconteceu historicamente com o sistema heliocêntrico, a vacinação, a pasteurização do leite, a fluoretação da água, o consumo de batatas por dois séculos na Europa após sua introdução, etc. Considero que os estudos habituais de composição centesimal, toxicidade aguda e digestibilidade, associados ao conhecimento consolidado sobre a função e ubiquidade desses produtos gênicos na natureza e estudos estruturais e imunológicos in silico são suficientes para afastar suspeitas sobre riscos potenciais. E esses estudos indicaram ausência de risco. O parecer dos colegas indicados pela Presidência da CTNBio assim como as manifestações que tenho lido, vindas da Alemanha, dos EUA, da União Européia, Portugal, o recente repúdio de seis academias científicas da França, o parecer da entidade européia de patologistas, apontam as mesmas falhas no artigo de Seralini e col. A meu ver o artigo é nada mais que peça de propaganda enganosa anti-OGM por um grupo de ativistas que sabiam que o estudo seria condenado universalmente mas o impacto midiático seria persistente e benéfico para a agenda dos autores e seus interesses comerciais (dois livros e um filme, pelo menos). Esta agenda conta com o apoio poderoso do movimento ambientalista radical que é anti-ciência e anti-humanidade.

    Francisco G Nóbrega

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