segunda-feira, 25 de maio de 2015

Rotulagem de transgênicos: porque não fazer (em poucas palavras)

Eu posso entender que um alimento precise exibir no seu rótulo as informações relativas a sua composição ou origem quando isso afeta a saúde do consumidor. Se contém glúten, que é prejudicial a portadores de doença celíaca, ou se contém castanha do Pará, porque muita gente é alérgica a esta castanha, ou se contém lactose, pois há gente que tem intolerância a este açúcar, e por aí vai. A defesa do consumidor, quando o ingrediente que lhe pode fazer mal está em mistura com outros e não pode ser identificado, só pode vir da rotulagem.

Não é o caso dos transgênicos: a autoridade nacional, a CTNBio, já avaliou os riscos de todas as plantas transgênicas hoje no mercado e concluiu que elas são tão seguras quanto as plantas convencionais para o consumo. Esta conclusão, aliás, foi a mesma para cada uma das plantas transgênicas avaliadas por autoridades nacionais em outros países e na Europa.

Então, a questão resvala da avaliação de risco (que é tarefa da autoridade nacional) para a percepção de risco (que é diferente para cada um de nós). Acontece que, se não há riscos diferentes entre alimentos GM e convencionais, há sim custos altos tanto para se rotular um alimento como transgênico como para rotulá-lo como livre de transgênicos. A rotulagem, por ser obrigatória, encarece os produtos da cesta básica (que leva vários ingredientes potencialmente transgênicos), sem contribuir em nada com a saúde do consumidor.

Alguém poderia argumentar que é um direito do consumidor saber, quando este tiver dúvidas sobre a segurança de um ingrediente, se este está no alimento que será consumido e em que porcentagem. Mas acontece que, não importa que ingrediente se escolha, sempre haverá um grupo de pessoas que considere sua presença no alimento um risco enorme, independentemente de serem os membros do grupo intolerantes ou alérgicos ao tal ingrediente. É o caso de certos aditivos alimentares sintéticos, mas também do sal, determinadas frutas, certas sementes, o alho, a cebola e mais um sem-fim de coisas que, na percepção de risco de uma parte dos brasileiros, representa um risco na alimentação. Ocorre que a autoridade nacional (ou autoridades, em alguns casos) já se pronunciou quanto à segurança do consumo dos vários “ingredientes perigosos”, determinando sua inocuidade. Por isso, os alimentos contendo estes ingredientes, para os quais ninguém é intolerante ou, quando muito, apresenta reações alérgicas raras e discretas, não necessitam de rótulo. Este é exatamente o caso dos transgênicos: ninguém jamais ficou doente ou teve alergias provocadas pelo consumo do ingrediente proveniente de uma planta transgênica hoje no mercado e sua rotulagem só atenderia um temor infundado, que nunca abriu caminho à rotulagem em casos semelhantes.


Por isso tudo, sou contra meter rótulos pequenos ou grandes, com ou sem símbolos, para distinguir os alimentos formulados com plantas transgênicas daqueles obtidos de plantas convencionais. As razões acima me dão esta convicção, independente dos aspectos legais, que são baseados numa lei confusa – presentemente sendo revista - e em decretos ainda mais confusos. Encarecer a comida do brasileiro para atender a um pequeno grupo de consumidores que crê haver perigo onde as autoridades de vários países nada veem não é democrático e não deve ser amparado por lei.

domingo, 24 de maio de 2015

Homenagem a Eugênio César Ulian


Aliando de forma exemplar a formação científica sólida e um raro senso de responsabilidade total na iniciativa privada, Eugênio se destacou na biotecnologia brasileira.

Caros.

Faleceu hoje, vítima de atropelamento, o Dr. Eugênio Ulian, que tive a oportunidade de conhecer e com o qual me relacionei profissionalmente por longos 8 anos. Não sou a pessoa certa para lhe fazer uma bibliografia e, por isso, forneço aqui o link para o CV no sistema Lattes e o resumo dele.

Graduado em Agronomia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, campus de Jaboticabal (1981), mestrado (1988) e doutorado (1991) em Fisiologia Vegetal pela Texas A&M University. Foi pesquisador e gestor de tecnologia do Centro de Tecnologia Canavieira (Copersucar) durante 15 anos e gerente de relações científícas e regulamentação da Monsanto do Brasil Ltda. por 5 anos. Atualmente exerce a função de Vice Presidente para Assuntos Regulatórios da FuturaGene Ltd. Tem experiência na área de Genética, com ênfase em Genética Vegetal, atuando principalmente nos seguintes temas: Biotecnologia de cana-de-açúcar, produção de plantas transgênicas, gestão de pesquisa. Nos últimos anos tem atuado na área regulatória de organismos geneticamente modificados.

Mas gostaria de render-lhe a justa homenagem como avaliador de riscos, no caso específico do eucalipto transgênico: quando me debrucei sobre este evento, com vistas a uma atualização do guia de avaliação de riscos de OGMs que editei, em colaboração com vários colegas, faz três anos quase, recebi do Eugênio opiniões técnicas sempre muito bem fundamentadas. Estas opiniões, na minha visão, derivaram de sua enorme experiência em avaliação de risco e no regulatório de OGMs dentro e fora do Brasil.

Também preciso destacar a serenidade com que Eugênio sempre enfrentou os embates públicos e aqueles dentro da CTNBio a respeito do risco dos OGMs. Sua posição ponderada provinha seguramente de uma sólida formação científica e da já mencionada experiência com o regulatório brasileiro.

Sua partida será uma perda para nossa biotecnologia, pois poucos ascenderam tanto na área de avaliação de riscos e de regulação nas empresas do país. Fica aqui registrada a minha admiração e respeito e meus sentimentos de solidariedade humana a sua família e amigos.

Leiam também: http://www.canalrural.com.br/noticias/agricultura/morre-pesquisador-responsavel-pelo-primeiro-eucalipto-transgenico-mundo-56622 

Recife, 24 de maio de 2015
Prof. Paulo Paes de Andrade

Departamento de Genética/ UFPE

terça-feira, 19 de maio de 2015

Resposta detalhada às afirmações de Alan Tygel intituladas “Transgênicos: malefícios do mau uso dos dados e o diálogo mentiroso” publicadas em 11/05/2015 no Jornal da Ciência (SBPC)

Sr. Tygel.

Lamentamos dizer que suas contas foram apressadas. Afinal, segundo suas próprias palavras, o Sr. empregou apenas 10 minutos... enquanto nós levamos bem mais de um mês digerindo esta questão com os números disponíveis, alguma vezes conflitantes e parciais. As suas contas, Sr. Tygel, chegaram a resultados divergentes dos nossos e que não refletem o cerne da nossa discussão: a ausência de relação entre os transgênicos e os agrotóxicos. Vejamos com mais detalhes como os dados que embasaram nossa argumentação foram obtidos e computados.

Na Figura 1 abaixo está um resumo das informações para uma avaliação de produção, área e produtividade da agricultura brasileira. A fonte é o mesmo IBGE que o Sr. consultou. No gráfico está claro que área plantada no cálculo da produtividade não é de toda a agricultura brasileira, mas também não é só a de milho, soja e algodão: ela envolve todos os cereais, leguminosas e oleaginosas. Não houve aumento significativo da área, ainda que existam oscilações ao longo dos anos. A produção também oscilou um pouco ao longo dos anos, mas basta passa a régua e se vê que a produtividade aumentos os 200% que afirmamos, pelo menos para estas culturas.


Figura 1:  Aumento da produção agrícola de cereais, leguminosas e oleaginosas (curva e eixo à direita) e área plantada (barras e eixo à esquerda). Observa-se um grande aumento de produção sem um correspondente aumento de área, o que implica em ganhos de produtividade acentuados no período mostrado.

E o resto do Brasil que usa agrotóxico é ocupado com que? Vejamos o que diz a EMATER

Dos 851 milhões de hectares de nosso território, temos 86 milhões com pastagens plantadas (fora da Amazônia), 60 milhões com lavouras temporárias, inclusive cana-de-açúcar; sete milhões com lavouras permanentes, principalmente frutas e café; cinco milhões com silvicultura; e dois milhões com hortaliças, que somam 160 milhões de hectares, ou apenas 19% de todo o território brasileiro. (http://www.emater.go.gov.br/w/5839)

Baseamos nossos dados aí e na figura acima, no que estão parecidos com o que o Sr. nos traz, mas adicionam alguma novidade: 74 são vários tipos de lavoura e 86 milhões são ocupados por pecuária, o que soma 160 milhões para a agricultura. Lembramos ao Sr. Tygel que a pecuária emprega agrotóxicos de diversos tipos, desde carrapaticidas e inseticidas até herbicidas de amplo espectro e este vasto arsenal de agrotóxicos está também computado no aumento visto nos últimos anos.

Por tudo o que está acima, é evidente que nossa agricultura avançou muitíssimo em produtividade: se não foi 200%, foi perto disso, pelo menos nas nossas contas, baseadas nos dados mostrados. Tomando outros dados disponíveis no IBGE ou no MAPA estas estimativas variam de 130 a 170%, o que é muito bom, de todo jeito, e demonstra o que estamos afirmando: houve uma enorme intensificação de nossa agricultura na última década.

Mas este não o cerne da questão: entre 2004 e 2014 houve um aumento de 1000%  pelo menos na área plantada com transgênicos. Aqui ninguém fez divisão por zero, Sr. Tygel, que isso não existe na matemática. Pode-se usar muito bem 4 milhões de hectares como base de cálculo (3 milhões em 2003 ou os 5 milhões do ano seguinte), porque não é uma área desprezível e porque, desde o primeiro plantio, os agrotóxicos começaram a ser empregados, Aliás, como é de seu conhecimento, logo de início já apareceu o glifosato... Se lhe incomoda muito a tomada de um ponto no início da curva, pode usar também a reta interpolada ao longo da década: vai dar no mesmo número. Não há mau-caratismo nenhum nisso e nem é “conta de chegada”, mas a forma correta de equacionar a questão. Quando nos chama de gente de mau caráter, o Sr. reduz muito a possibilidade de futuros diálogos que poderiam, quem sabe, resultar promissores para nosso país.

Acontece que, no mesmo período, o uso dos agrotóxicos subiu, no máximo, 200%. Como é que se explica que o “responsável” pelo aumento do uso de agrotóxicos possa crescer 10X (ainda que fosse 5 ou 6 X, na concepção matemática do Sr. Tygel) e o uso de agrotóxicos só 2X?  Esta imensa diferença não fecha de forma alguma com a hipótese sem fundamento de que a maior parte do aumento do uso de agrotóxicos seja devida ao plantio de transgênicos. Esta é conta que importa, Sr. Tygel.

A sua conta não fecha  pelo que mostramos antes: uma imensa área do país é palco do uso de agrotóxicos - os tais 160 milhões de hectares. Nos dados do MAPA e de outras agências não há discriminação do que é usado na agricultura ou na pecuária, mas nas contas que se vê na internet, inclusive nas suas, todo o aumento é devido ao uso de transgênicos. Não há invenção nenhuma e o Sr. vai ver as mesmíssimas conclusões a que chegamos também lá no Estadão (http://ciencia.estadao.com.br/blogs/herton-escobar/instituto-culpa-transgenicos-por-aumento-no-uso-de-agrotoxicos-especialistas-rebatem/), num artigo completamente independente do nosso.

Por fim, quando não se consegue destruir uma ideia, tenta-se  destruir o autor. Ao contrário de nosso procedimento, que é baseado na análise de dados, o Sr. e seus colegas que o acompanharam na crítica à nossa postagem no Jornal da Ciência atacam o caráter e o compromisso com a verdade que temos. Este procedimento é nefasto e nada traz de positivo para um diálogo produtivo. Porque os senhores o adotam? Porque, efetivamente não querem diálogo algum.

O Brasil é simplesmente o maior produtor agrícola da região tropical do planeta, e com as maiores produtividades. Produzir nos trópicos é desafiador, uma vez que não temos o frio para diminuir populações de pragas ou paralisar seu ciclo de vida. Mas a agricultura brasileira se modernizou e muitos problemas vistos no passado, como os casos de erosão do solo, são cada vez menos  frequentes, graças ao plantio direto, barreiras físicas etc. Há anos não temos os problemas recorrentes (antes de 2005) de falta de milho para alimentar os animais (principalmente frangos).   Obviamente ainda temos muitos problemas e precisamos trabalhar para gerar soluções. Os agricultores precisam  tomar consciência dos problemas e deixar de ter visão de muito curto prazo.  Muitos outros acham que se houver a perda das tecnologias atuais, novas irão substituí-las   imediatamente, o que sabemos que pode ser falso. Mas não podemos desprezar soluções novas por um viés ideológico, sem base em ciência.


Outra réplica à opinião do Sr. Tygel, redigida a 10 mãos, está em http://www.jornaldaciencia.org.br/edicoes/?url=http://jcnoticias.jornaldaciencia.org.br/34-opiniao-do-leitor/ .

Cientistas reafirmam ausência de correlação entre aumento do uso de agrotóxicos e aumento do uso de transgênicos: ativista erra nas contas e resvala na ética

Sobre afirmações de Alan Tygel intituladas “Transgênicos: malefícios do mau uso dos dados e o diálogo mentiroso” publicadas em 11/05/2015 no JC
O Sr. Alan Tygel, na seção Opinião do Leitor teceu considerações que pretendem refutar afirmações que fizemos em artigo denominado “Transgênicos: benefícios e diálogo”. A uma certa altura xinga os autores daquele artigo de “mau caratismo”, uma prática comum nos últimos 13 anos, segundo a qual se costuma desqualificar o oponente acusando-o de qualquer coisa, desde que a acusação seja derrogatória. Essa prática imediatamente identifica a tribo à qual pertence quem fez o ataque. Mas não vamos discutir isso.
Nosso artigo quis mostrar que ao perceberem que atacar os transgênicos não funciona porque há 20 anos são consumidos sem evidência de danos ao ambiente ou seres vivos, os ativistas, para não perder a causa, passaram a repetir ad nauseam os dois termos “transgênicos e agrotóxicos” de forma a incutir na população uma percepção inconsciente de sinonímia. O Sr. Tygel afirma, em determinado ponto de sua peroração, que “transgênico é feito para ser resistente a agrotóxico”. Ora, isso é uma inverdade que apenas serve para enganar os incautos. Afirmamos, alto e bom som, que nem todos os transgênicos são feitos para ser resistentes a agrotóxicos. Há muitos que não são: podem ser resistentes a insetos, a vírus ou crescer mais rapidamente, para ficar apenas nos que a CTNBio aprovou.
É verdade que a soja transgênica foi construída para resistir ao agroquímico glifosato que – só para lembrar o leitor – mata todas as ervas daninhas que, assim, deixam de competir com a soja por nutrientes, solo e luz. É verdade também que o primeiro registro de plantação de soja transgênica marca 3 milhões de hectares em 2003 e 5 milhões em 2004. Portanto, nada demais considerar 4 milhões como ponto inicial de cálculo. Segundo as informações atuais (Informativo Céleres IC15.04 de 16/04/2015) a plantação de soja da safra 2014/2015 ocupa 31,4 milhões de hectares. Logo, a plantação de soja cresceu 7,8 vezes. Se considerarmos o número inicial como 5 milhões o crescimento terá sido de 6,3 vezes. É óbvio que aumentando a produção de soja aumenta o uso de glifosato. No entanto, assim que foi lançado, o glifosato tornou-se rapidamente o herbicida mais usado, muito antes do aparecimento da soja transgênica. No ano de 2000 o Brasil consumiu 40.000 toneladas de glifosato e a soja foi introduzida oficialmente em 2004. Nesse ano de 2004, o Brasil já consumia quase 80.000 toneladas desse agroquímico. O consumo atual gira em torno de 180.000 toneladas, isto é, um aumento de 2,25 vezes no período 2004 – 2014. Na verdade, sendo o Brasil um país tropical, o consumo de agroquímicos (nome mais adequado, pois, nem todos têm a mesma toxicidade) aumenta em proporção à atividade agrícola. Para evitar confusão com palavras repetimos um trecho de texto que se encontra emhttp://www.emater.go.gov.br/w/5839 : “Dos 851 milhões de hectares de nosso território, temos 86 milhões com pastagens plantadas (fora da Amazônia), 60 milhões com lavouras temporárias, inclusive cana-de-açúcar; sete milhões com lavouras permanentes, principalmente frutas e café; cinco milhões com silvicultura; e dois milhões com hortaliças, que somam 160 milhões de hectares, ou apenas 19% de todo o território brasileiro.” A soma de tudo isso é 160 milhões de hectares. E por que usamos esse número? A razão é simples: é muito difícil separar, nos dados existentes, o que é pecuária e o que é agricultura. E agricultura não é só milho e soja, mas cereais em geral, leguminosas e oleaginosas.  E para a nossa finalidade não importa separar porque ambas as atividades usam agroquímicos (agrotóxicos): carrapaticidas, inseticidas, herbicidas de amplo espectro e outros. Portanto, o aumento de 200% no uso de agrotóxicos nos últimos 10 anos, isto é, 2 vezes, deve ser atribuído a toda atividade agrícola que, no período, também cresceu 200%. Se considerarmos que a área plantada com transgênicos – incluindo agora milho, algodão e a soja já comentada – é de 47,5 milhões de toneladas, não importa se consideramos o ponto inicial como 4 ou 5 porque teríamos um aumento respectivo de 11,8 e 9,5 vezes de área plantada com transgênicos o que, aproximadamente, é 1000% mais ou menos, mas sem dúvida muito mais do que o aumento do uso de agrotóxicos.
É evidente que o aumento da produção de soja transgênica nos últimos dez anos acompanhou a tendência crescente da atividade agrícola brasileira (aumento de 200%) no uso de agroquímicos (aumento de 200%). No entanto, não há correlação causal entre aumento do uso de agroquímicos e o aumento de área plantada com todos os transgênicos, já que esta cresceu significativamente mais.
Por fim, se quisermos exemplificar o que seja mau caratismo diríamos que é o ato de induzir a crença na população de uma mentira, isto é, que transgênicos e agrotóxicos são sinônimos. Uma mentira vira verdade se repetida muitas vezes, já dizia Goebbels.
Paulo Paes de Andrade, geneticista, UFPE
Francisco G. Nóbrega, microbiólogo, ex-ICB/USP
Zander Navarro, sociólogo, EMBRAPA
Flávio Finardi Filho, farmacêutico, FCF/USP
Walter Colli, bioquímico, IQ/USP

domingo, 10 de maio de 2015

Eucaliptos, pinheiros e álamos transgênicos: o Brasil não foi o primeiro a comercializar uma árvore transgênica, nem está sozinho

Sempre me pareceu estranha a afirmação de que o eucalipto transgênico foi a primeira árvore transgênica aprovada para fins comerciais. Depois de uma viagem para a China e umas tantas investigações está claro que não fomos os primeiros.

Os chineses começaram faz tempo a obter álamos (ou choupos) resistentes a inseto através da expressão do gene cry1Ab (sim, ele, sempre...). Já em 1996 tinham várias espécies de Populus transformadas, assim como os híbridos.  Depois disso várias árvores foram transformadas para expressar este e outros genes (http://www.fao.org/docrep/article/wfc/xii/0280-b2.htm) . A China não é muito transparente na questão da divulgação das aprovações comerciais para plantio destas árvores, mas estima-se hoje que muitos milhões de hectares estão plantados com álamo resistente a insetos. Apesar disso, o país é o maior exportador de mel... curioso, não é? Uma boa parte das árvores transformadas pelos chineses é nativa da Ásia, ao contrario do eucalipto no Brasil. Como eles equacionaram a questão do fluxo de genes e como viram os eventuais riscos que isso pode representar para a biodiversidade, não sei: faltam as avaliações de risco disponíveis em qualquer site oficial chinês.

No Brasil, depois de mais de 8 anos de estudo, a CTNBio finalmente aprovou uma variedade de eucalipto transgênico. Isso agora, em 2015. Esta espécie não é nativa do Brasil e está longe de se espalhar como um álamo. Por isso, os riscos ambientais são reduzidos. A questão do impacto em abelhas está completamente resolvida: não existem. Se esta variedade demandar mais águam será uma questão de manejo, uma vez que ela não vai ser um “poço sem fundo” devorador de água, como querem alguns.

Recentemente os americanos liberaram um pinheiro com madeira mais densa. O pinheiro é uma árvore nativa dos EUA e seguramente muito mais “invasora” do que o eucalipto no Brasil. As considerações ambientais foram poucas e logo serão muitos hectares plantados com esta variedade.



Por fim, os americanos também aprovaram uma macieira transgênica, cujo fruto não escurece rapidamente quando cortado, como na maçã comum. Embora a macieira nãos seja exatamente o que costumamos entender como uma espécie florestal, ela é uma perene e pode passar muito tempo no campo. Portanto, as questões ecológicas são parecidas, mas foram consideradas sem maior risco pelas agências amercanas.


Assim, caros quatro ou 5 leitores, não estamos sós e, na verdade, estamos numa posição de muito menos risco que nossos colegas americanos ou chineses. O que se fez, portanto, foi muito barulho por nada: sugiro que o movimento internacional dirija seus olhos para a China e os EUA e vá invadir estações experimentais e empresas por lá: estou curioso para ver o que dá. 

terça-feira, 5 de maio de 2015

Transgênicos: benefícios e diálogo


Em resposta a artigo publicado no JC Notícias no último dia 30 de abril, questionando decisões da CTNBio, pesquisadores demonstram que “o aumento no uso de agrotóxicos nada tem a ver com os transgênicos, mas com a agricultura intensiva brasileira”

Pode-se perfeitamente entender a preocupação de Hugh Lacey, José Corrêa Leite, Marcos Barbosa de Oliveira, e Pablo Rubén Mariconda* em relação aos transgênicos: afinal, ela reflete uma percepção pública do risco, que é o produto da base analítica de cada um de nós, da mídia e das expectativas que temos para nosso futuro. Mas as decisões de Governo sobre novas tecnologias não podem ser tomadas com base no senso comum e sim na avaliação de risco, que trata do impacto direto e específico do organismo geneticamente modificado (OGM) na natureza, e da análise de risco, que envolve outros aspectos ligados à tecnologia. A separação dos dois procedimentos analíticos não é uma manobra antidemocrática ou reducionista, mas é um posicionamento técnico aceito e referendado no mundo todo e em sintonia com os tratados e acordos internacionais de comércio e de proteção à saúde e ao ambiente.

Tendo esta informação em mente, percebe-se que estão equivocados nossos colegas do IEA/USP quando pedem que a CTNBio se debruce sobre a questão dos agrotóxicos: ela não pode fazê-lo pela lei 11.105/2005 e não lhe cabe tal tarefa, que é de alçada exclusiva da ANVISA e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Em que pese o fato de que os agrotóxicos tenham impacto na saúde humana e animal, este é um assunto que foge do escopo da CTNBio. Poder-se-ia argumentar que os transgênicos e os agrotóxicos estão sempre associados, mas esta é uma percepção que, embora muito difundida na mídia alternativa, não encontra amparo na realidade, como comentaremos a seguir.

De fato, o Brasil usa agrotóxicos em centenas de diferentes cultivos, assim como na pecuária, mas os transgênicos representam apenas 30% da área plantada: são 160 milhões de hectares cultivados com as mais diversas culturas no país contra apenas 45 milhões com cultivos transgênicos. Por isso, a contribuição dos transgênicos no consumo de agrotóxicos é menor. Esta primeira inferência é claramente referendada pela análise do aumento do uso de agrotóxicos nos últimos 10 anos e do aumento da área plantada com transgênicos: para o primeiro o valor é de 200%, enquanto a área com transgênicos cresceu mais de 1000%! O que justifica, então, o aumento do uso de agrotóxicos? Basta olhar o aumento da produtividade geral da agricultura brasileira nos mesmos 10 anos: foi de 200%. Este valor não é uma coincidência, mas resulta da intensificação do processo produtivo, que demanda um controle mais rígido das ervas daninhas e das pragas em geral. A conclusão é clara: o aumento no uso de agrotóxicos nada tem a ver com os transgênicos, mas com a agricultura intensiva brasileira.

Vale lembrar ainda que as plantas transgênicas resistentes a inseto levaram a uma importante redução do uso de inseticidas, que também são agrotóxicos. Aliás, uma análise da literatura, do banco de dados do Sinitox e da ANVISA, mostra que os inseticidas estão entre os que causam mais malefício à saúde humana e, portanto, devemos neste sentido ser gratos à adoção das plantas transgênicas resistentes a insetos, que reduziram de forma global o uso destes agrotóxicos em soja e milho. Aqui estamos falando da tecnologia Bt, uma simplificação do nome da bactéria Bacillus thuringiensis que mata as lagartas que comem as plantas. Originalmente, essa bactéria foi usada por plantadores orgânicos. Os cientistas apenas usaram os genes dessa bactéria, incorporando-os na planta. Por isso, com a tecnologia Bt incorporada evita-se, em muito, o excesso de uso dos agrotóxicos.

Vale, então, a pergunta: porque a insistência em ligar os agrotóxicos aos transgênicos? A resposta é simples: porque após 20 anos de produção e consumo verifica-se que as plantas transgênicas no mercado não prejudicam o ambiente ou a saúde humana e animal. A nova forma de atacar a biotecnologia agrícola é ligá-la ao uso de produtos que são tóxicos para uma série de organismos e também para o homem, se ingeridos ou assimilados pelo nosso organismo acima de certa dose. Como mostramos acima, esta associação é falsa.

De fato, atualmente no mundo 180 milhões de hectares são cultivados com plantas transgênicas, sem qualquer impacto diferente daquele observado nas plantas convencionais cultivadas em iguais condições. Bilhões de animais e pessoas se alimentam com produtos formulados a partir de soja, milho, canola e outras plantas transgênicas e nenhum, absolutamente nenhum, problema de saúde foi comprovado. Não há base científica alguma para esperar estes danos e é aí que entra a avaliação de risco, função da CTNBio: depois de 15 anos de plantio e consumo no Brasil, não há sequer uma demonstração de que os OGMs façam mal à saúde ou ao ambiente no nosso país, o que prova, até agora, o acerto das decisões da CTNBio. Lembramos aos leitores também que milhares de outros produtos derivados da biotecnologia fazem parte de nosso dia a dia, indo de fármacos até sabões, tudo consumido e produzido de forma segura. Um exemplo contundente é a insulina, que hoje é idêntica à humana e que antes era derivada de suínos e produzia uma longa lista de problemas colaterais, tanto para o paciente como para o ambiente.

Finalmente, gostaríamos de esclarecer aos nossos colegas do IEA/USP que os membros da CTNBio empregam uma vasta literatura para apoiar seus pareceres e não apenas os dados trazidos pela empresa (inverdade muito encontrada na internet, infelizmente). Além disso, lembramos que os produtos que chegam à linha final da liberação comercial estão, em geral, na ponta de um longo procedimento de avaliação que começa nas casas de vegetação e passam pelos experimentos a campo, muitos anos antes da liberação comercial. Lembramos também que, embora alguns pontos específicos (em geral sobre a construção genética do transgênico) sejam confidenciais, a maioria esmagadora dos processos é pública: basta acessar o e-SIC do MCTI e pedir uma cópia. Por fim, afirmamos aos colegas que a geração de dados pelos cientistas brasileiros e estrangeiros é, de forma muito ampla, independente de financiamento das empresas, pois, o que vale é a consistência do método científico e não quem fez o trabalho ou quem o financiou. Entra aí a honestidade do profissional e sua adesão aos princípios morais de sua carreira e de sua sociedade.

Se os filósofos do IEA/USP ou qualquer outro grupo que crê haver erros na forma de agir da CTNBio desejam de fato o diálogo com a Comissão ou com as sociedades científicas, devem primeiro despir-se do preconceito que revelam a respeito da conduta dos membros da Comissão e dos cientistas em geral, acusando-os de emitirem seus pareceres porque têm apoio indireto ou direto do setor privado que leva seus produtos à CTNBio ou de produzirem dados favoráveis às empresas em troca de financiamentos. Tal posição, além de falsa, é desrespeitosa e não leva a diálogo algum.

Paulo Paes de Andrade, geneticista, UFPE
Francisco G. Nóbrega, microbiólogo, ex-ICB/USP
Zander Navarro, sociólogo, EMBRAPA
Flávio Finardi Filho, farmacêutico, FCF/USP
Walter Colli, bioquímico, IQ/USP

Veja o artigo anterior no link abaixo:

Instituto culpa transgênicos por aumento no uso de agrotóxicos, sem provas; especialistas rebatem

Autor: HERTON ESCOBAR
23 Abril 2015 | 14:00

Instituto Nacional de Câncer (Inca) diz que sementes geneticamente modificadas são responsáveis pelo país ser o maior consumidor de pesticidas no mundo. Representantes do setor agrícola e da biotecnologia dizem que diagnóstico é “grosseiro”, não considera outros fatores e não retrata a realidade no campo.

O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, e o segundo maior produtor de transgênicos, com mais de 42 milhões de hectares plantados com soja, milho e algodão geneticamente modificados.

Uma coisa está relacionada à outra? O Instituto Nacional de Câncer (Inca) diz que sim, apesar de não haver dados que comprovem isso diretamente. Em um posicionamento oficial sobre o uso de agrotóxicos e seus impactos na saúde, publicado em 10 de abril, o instituto chama atenção para o fato de que o Brasil é o maior consumidor de defensivos agrícolas do mundo, e atribui esse consumo elevado ao plantio de lavouras transgênicas.

“É importante destacar que a liberação do uso de sementes transgênicas no Brasil foi uma das responsáveis por colocar o país no primeiro lugar do ranking de consumo de agrotóxicos, uma vez que o cultivo dessas sementes geneticamente modificadas exigem o uso de grandes quantidades destes produtos”, afirma o Inca, que é vinculado ao Ministério da Saúde e fica no Rio de Janeiro. Para ler a íntegra do posicionamento, clique aqui: INCA-Agrotoxicos-Posicionamento

O documento, porém, não apresenta nenhuma estatística ou trabalho científico que corrobore essa afirmação. Procurado pela reportagem, o instituto forneceu uma pequena lista de referências que dariam sustentação ao seu posicionamento, incluindo reportagens e artigos científicos. Desses, apenas dois (um deles com mais de 10 anos) traçam uma relação estatística entre plantio de transgênicos e aumento no consumo de agrotóxicos, e nenhum deles é específico para o Brasil: GMO-PesticideUse-Benbrook e SojaGM-Pelaez-2004

Segundo Márcia de Campos Mello, toxicologista da Unidade Técnica de Exposição Ocupacional, Ambiental e Câncer do Inca, o consumo de agrotóxicos no Brasil aumentou de aproximadamente 700 milhões de litros por ano em 2005 (dois anos após a legalização dos transgênicos no País) para cerca de 1 bilhão de litros por ano, em 2013. “Quando você faz a correlação dessas datas, observa-se que houve um aumento muito grande no consumo de agrotóxicos (desde a liberação dos transgênicos)”, justifica.

“Me assusta muito um instituto como o Inca, que trabalha com câncer — uma doença multifatorial, que não se presta a generalizações grosseiras — fazer esse tipo de generalização com a biotecnologia”, diz a bioquímica Adriana Brondani, diretora-executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB). O uso intensivo de agrotóxicos no país, segundo ela, deve-se a uma série de fatores relacionados à agricultura brasileira. “O Inca faz um diagnóstico equivocado, olhando apenas para os dados brutos, sem levar em conta o que acontece no campo.”

“Somos o maior consumidor de agrotóxicos porque somos a maior agricultura tropical do mundo.” - Júlio Britto, coordenador de agrotóxicos do Ministério da Agricultura

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) confirma que o consumo de agrotóxicos cresceu significativamente no Brasil nos últimos dez anos, e que o País é hoje o maior consumidor desses produtos no mundo. Mas discorda da avaliação feita pelo Inca. Segundo Júlio Britto, coordenador geral de Agrotóxicos e Afins do MAPA, o aumento no uso de agrotóxicos no País é reflexo do aumento da área plantada e da produção agrícola, independentemente de ela ser transgênica ou não.

“Vivemos num país tropical, de clima quente, em que se planta o ano inteiro, com alta incidência de pragas”, diz. As mesmas condições excepcionais de clima e solo que favorecem a produtividade das lavouras favorecem o crescimento de ervas daninhas, insetos e outras pestes tropicais. “Não usamos agrotóxicos porque queremos, mas porque precisamos. Sem defesa das lavouras, você não produz”, completa Britto, ressaltando que, relativamente ao tamanho da área plantada, o Brasil usa muito menos agrotóxicos (por hectare) do que países do primeiro mundo, como o Japão.

No caso dos transgênicos Bt, que são resistentes ao ataque de determinadas lagartas, houve uma “redução drástica” no uso de inseticidas contra esses insetos: de 20 para 4 aplicações por lavoura, segundo Adriana. “Ainda assim, a plantação é atacada por outras pragas, para as quais é necessário aplicar outros produtos”, completa.



Ameaças múltiplas

A cultura transgênica mais plantada no Brasil e no mundo é a soja resistente ao herbicida glifosato, desenvolvida pela Monsanto. Com o aumento da área plantada dessa variedade, aumentou também o uso do glifosato, enquanto que o uso de outros herbicidas diminuiu, segundo Britto. Paralelamente, aumentou o uso de inseticidas e fungicidas, devido ao surgimento de novas pragas, como a ferrugem da soja (causada por um fungo) e a lagarta helicoverpa, para as quais os transgênicos não oferecem proteção.

Quando todos os fatores são computados, diz Britto, o volume total de agrotóxicos usados no País aumentou apesar das vantagens oferecidas pelos transgênicos, e não por causa deles.

A conclusão é clara: o aumento no uso de agrotóxicos nada tem a ver com os transgênicos, mas com a agricultura intensiva brasileira.” - Pesquisadores, em artigo publicado no Jornal da Ciência da SBPC

Em uma carta publicada pelo Jornal da Ciência da SBPC no dia 4 de maio, cinco pesquisadores também desmontam o suposto elo entre transgênicos e aumento no uso de pesticidas: “De fato, o Brasil usa agrotóxicos em centenas de diferentes cultivos, assim como na pecuária, mas os transgênicos representam apenas 30% da área plantada: são 160 milhões de hectares cultivados com as mais diversas culturas no país contra apenas 45 milhões com cultivos transgênicos. Por isso, a contribuição dos transgênicos no consumo de agrotóxicos é menor. Esta primeira inferência é claramente referendada pela análise do aumento do uso de agrotóxicos nos últimos 10 anos e do aumento da área plantada com transgênicos: para o primeiro o valor é de 200%, enquanto a área com transgênicos cresceu mais de 1000%! O que justifica, então, o aumento do uso de agrotóxicos? Basta olhar o aumento da produtividade geral da agricultura brasileira nos mesmos 10 anos: foi de 200%. Este valor não é uma coincidência, mas resulta da intensificação do processo produtivo, que demanda um controle mais rígido das ervas daninhas e das pragas em geral. A conclusão é clara: o aumento no uso de agrotóxicos nada tem a ver com os transgênicos, mas com a agricultura intensiva brasileira.”

A carta é assinada pelo geneticista Paulo Paes de Andrade (da UFPE), pelo microbiólogo Francisco Nóbrega (ex-ICB/USP), o sociólogo Zander Navarro (Embrapa), o farmacêutico Flávio Finardi Filho (FCF/USP) e o bioquímico Walter Colli (IQ/USP). O texto foi escrito em resposta a um artigo, também publicado no Jornal da Ciência, no dia 30 de abril, em que três pesquisadores ligados ao Instituto de Estudos Avançados da USP (Hugh Lacey, José Corrêa Leite, Marcos Barbosa de Oliveira, e Pablo Rubén Mariconda) defendem o relatório do Inca e criticam a atuação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) na aprovação de transgênicos no Brasil.

“Cada um tem o seu discurso, pela causa com que está comprometido”, afirma Márcia, do Inca. “A nossa causa é proteger a saúde da população.” Segundo ela, ainda não há garantias de que os transgênicos sejam seguros para a saúde. Isso, apesar de eles já serem plantados e consumidos em larga escala, há mais de duas décadas, com a aprovação dos órgãos reguladores de vários países do mundo, sem qualquer registro de efeitos adversos à saúde humana. “Os efeitos só poderão ser notados com o tempo”, argumenta. “Nossa posição é reduzir o uso de agrotóxicos e incentivar a agricultura orgânica.”

Polêmica do glifosato

O posicionamento do Inca surge na sequência de uma outra publicação polêmica: Um relatório da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer (IARC, em inglês), um braço da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado em 20 de março, reclassificando o herbicida glifosato como uma substância “provavelmente carcinogênica (causadora de câncer) para seres humanos”. Veja o relatório aqui: http://goo.gl/j3IU4i

O glifosato é o herbicida mais produzido no mundo, e é classificado por várias agências reguladoras — incluindo a Agência de Proteção Ambiental (EPA), nos Estados Unidos, e a Anvisa, no Brasil — como não carcinogênico e de baixa toxicidade, tanto para o ambiente quanto para os seres humanos. Nas lavouras transgênicas, o fato de a soja ou o milho serem resistentes a ele permite que os agricultores pulverizem toda a plantação com glifosato, para matar todas as ervas daninhas com um único produto, sem prejudicar a lavoura. Por isso, com a adoção dos transgênicos, aumentou o consumo de glifosato e diminuiu o consumo de outros herbicidas.

A publicação inicial feita pela IARC, na revista The Lancet, inclui apenas uma descrição muito breve dos dados científicos que serviram de base para a reclassificação. Segundo a agência, há “evidências limitadas de carcinogenicidade” do glifosato para seres humanos em casos de linfoma não-Hodgkin, “evidências convincentes” de que o glifosato pode causar câncer em animais de laboratório e “evidências suficientes” de carcinogenicidade em células humanas in vitro. Um relatório mais detalhado é esperado para os próximos meses.

“As três linhas de evidência nos dizem mais ou menos a mesma coisa, que devemos nos preocupar com isso”, disse ao jornal The New York Times Aaron Blair, um epidemiologista aposentado do Instituto Nacional do Câncer dos EUA, que coordenou o trabalho de revisão do herbicida. Com isso, o glifosato passa a fazer parte do Grupo 2A, que inclui substâncias e atividades “provavelmente carcinogênicas”, como acrilamida, beber chá mate quente, trabalhar em salões de beleza, fazer plantões noturnos, fabricar vidro e respirar fumaça de madeira queimada dentro de casa. Veja a lista completa aqui: http://goo.gl/VVEQ4y

“Do meu conhecimento, não há nada que justifique essa classificação”, diz o toxicologista Flavio Zambrone, da empresa Planitox. “Temos que esperar a publicação definitiva (do IARC) para ver se há algum dado escondido que dê razão a isso. Não dá para transmitir uma notícia dessa forma, sem base científica, criando pânico na população.” Segundo ele, os estudos mencionados pelo IARC na publicação inicial são trabalhos já “desacreditados” pela comunidade científica.

Outros acusam a agência de ter selecionado estudos de forma enviesada, destacando uma minoria que mostra efeitos negativos e ignorando uma maioria que mostra não haver risco para a saúde.
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Post atualizado às 18h15 do dia 4 de maio, para acrescentar informações publicadas no Jornal da Ciência da SBPC.

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