domingo, 10 de maio de 2015

Eucaliptos, pinheiros e álamos transgênicos: o Brasil não foi o primeiro a comercializar uma árvore transgênica, nem está sozinho

Sempre me pareceu estranha a afirmação de que o eucalipto transgênico foi a primeira árvore transgênica aprovada para fins comerciais. Depois de uma viagem para a China e umas tantas investigações está claro que não fomos os primeiros.

Os chineses começaram faz tempo a obter álamos (ou choupos) resistentes a inseto através da expressão do gene cry1Ab (sim, ele, sempre...). Já em 1996 tinham várias espécies de Populus transformadas, assim como os híbridos.  Depois disso várias árvores foram transformadas para expressar este e outros genes (http://www.fao.org/docrep/article/wfc/xii/0280-b2.htm) . A China não é muito transparente na questão da divulgação das aprovações comerciais para plantio destas árvores, mas estima-se hoje que muitos milhões de hectares estão plantados com álamo resistente a insetos. Apesar disso, o país é o maior exportador de mel... curioso, não é? Uma boa parte das árvores transformadas pelos chineses é nativa da Ásia, ao contrario do eucalipto no Brasil. Como eles equacionaram a questão do fluxo de genes e como viram os eventuais riscos que isso pode representar para a biodiversidade, não sei: faltam as avaliações de risco disponíveis em qualquer site oficial chinês.

No Brasil, depois de mais de 8 anos de estudo, a CTNBio finalmente aprovou uma variedade de eucalipto transgênico. Isso agora, em 2015. Esta espécie não é nativa do Brasil e está longe de se espalhar como um álamo. Por isso, os riscos ambientais são reduzidos. A questão do impacto em abelhas está completamente resolvida: não existem. Se esta variedade demandar mais águam será uma questão de manejo, uma vez que ela não vai ser um “poço sem fundo” devorador de água, como querem alguns.

Recentemente os americanos liberaram um pinheiro com madeira mais densa. O pinheiro é uma árvore nativa dos EUA e seguramente muito mais “invasora” do que o eucalipto no Brasil. As considerações ambientais foram poucas e logo serão muitos hectares plantados com esta variedade.



Por fim, os americanos também aprovaram uma macieira transgênica, cujo fruto não escurece rapidamente quando cortado, como na maçã comum. Embora a macieira nãos seja exatamente o que costumamos entender como uma espécie florestal, ela é uma perene e pode passar muito tempo no campo. Portanto, as questões ecológicas são parecidas, mas foram consideradas sem maior risco pelas agências amercanas.


Assim, caros quatro ou 5 leitores, não estamos sós e, na verdade, estamos numa posição de muito menos risco que nossos colegas americanos ou chineses. O que se fez, portanto, foi muito barulho por nada: sugiro que o movimento internacional dirija seus olhos para a China e os EUA e vá invadir estações experimentais e empresas por lá: estou curioso para ver o que dá. 

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