O texto abaixo foi elaborado como réplica a uma entrevista
do ano de 2013 à Revista do IDEC. Na ocasião já havíamos feito comentários
rápidos, que estão no blog neste link.
Moldando a percepção de risco dos brasileiros
Sempre que uma nova tecnologia surge no mercado há duas
ondas que se propagam em sentidos contrários no meio midiático: uma que
apresenta a tecnologia como uma nova maravilha que todos consumirão sem
problemas e a outra que procura demonstrar o lado diabólico da novidade, que
fatalmente levará os consumidores e o país ao Armaggedon. As antenas (ou os
osciladores) que propagam estas ondas estão bem sintonizadas como as agendas
dos grupos que representam e, mais ainda,
o framing (o tom ou a apresentação) das informações é
absolutamente coerente com os objetivos das agendas. Muito bem, não se espera
outra coisa de uma sociedade onde o debate é a tônica, mas a polarização do
tratamento do assunto leva a graves distorções na forma como o conhecimento
dobre o assunto é repassado ao público. No final, é um debate que pouco
contribui para o aprofundamento das questões e o público acaba boiando neste
mar turbulento da mídia, sem poder tomar um rumo consciente.
No caso dos transgênicos, a antena da oposição à tecnologia
é muitas vezes mais poderosa do que a sua defensora e usa um framing
muito mais adequado à sensibilização popular.
O resultado é que a percepção pública vai sendo construída com base no temor e nas
suspeitas levantadas pela mídia, com pouco ou nenhum espaço para
informações que, se não defendem a tecnologia, pelo menos não a tratam como
instrumento de dominação ou como obra direta de mentes malévolas que trabalham
para produzir e fazer germinar sementes do mal.
Um exemplo completo da visão apocalíptica da biotecnologia
agrícola foi apresentado um ano atrás pelo IDEC, que tem o chapéu de defensor
dos consumidores e passa ao público a ideia de que ele está sendo traído pela
CTNBio, pelos cientistas, pesquisadores, professores, reguladores e toda esta
ruma de profissionais “a serviço das forças do mal”. Vamos esquecer esta visão
distorcida e quase fascista que o instituto parece ter da maioria dos
profissionais que discordam dele e prossigamos na análise do texto da Revista do
IDEC: é uma entrevista com a Profa. Marijane Lisboa, atual membro da
CTNBio e árdua opositora da biotecnologia agrícola. No sentido de fazer com que
estes comentários sejam bem compreendidos pelo público, vamos usar o mesmo framing e uma linguagem semelhante
àquela que aparece nos portais de oposição à biotecnologia.
Como tudo começou
Em 1992 lá nos EUA várias empresas já estavam com plantas
transgênicas prontas para o mercado. O Brasil, como grande mercado consumidor
de sementes, tinha desde o início o potencial de usar a biotecnologia.
Entendendo isso, o Governo Federal iniciou discussões sobre uma lei que
estabelecesse o arcabouço regulatório de OGMs (ou transgênicos) no Brasil,
resultando na primeira lei de biossegurança de transgênicos em 1995. Em 1997 a
recém-criada CTNBio já estava avaliando a primeira soja transgênica a ser
cultivada no Brasil e no dia 1 de janeiro de 1998 aprovou seu uso comercial (www.ctnbio.gov.br/upd_blob/0000/326.doc). Tudo estritamente dentro da lei e seguindo os princípios de avaliação
de risco que vinham sendo sedimentados desde a reunião de Asilomar, lá na
década de 70. Mas logo em seguida o IDEC
e o Greenpeace (este último sumiu do cenário de oposição aos transgênicos no
Brasil, mas continua muito ativo em muitos países da América Latina e do Mundo
que não adotaram a biotecnologia agrícola) conseguiram um embargo da liberação
comercial na justiça. Para uma
cronologia deste embargo ler http://www.cnpso.embrapa.br/download/cronologia_sojarr.pdf
.
Quase quatro anos depois o embargo foi
suspenso porque a juíza entendeu corretamente que a CTNBio havia provado com
sua avaliação serem os riscos desta soja insignificantes à saúde ou ao
ambiente. Mas neste meio tempo, de olho no sucesso que a soja transgênica vinha
fazendo na Argentina, os agricultores do sul do Brasil (a região produtora de
soja naquela ocasião) começaram a contrabandear soja para plantar no Brasil. A
produção de soja GM em 1998 foi pequena, mas cresceu em 1999 e mais ainda nos
anos seguintes, enquanto o Governo se debatia com os processos movidos pelas
entidades “ambientalistas” e até por outros órgãos de governo, tentando impedir
a liberação comercial da soja. Este embate jurídico foi fruto de uma lei
confusa que não determinava claramente atribuições.
Então, é evidente que a adoção das plantas transgênicas começo
certinho dentro da lei, mas foi logo atrapalhada por processos jurídicos que exploravam as
debilidades da primeira lei, processos estes movidos exatamente pelos que se
dizem defensores do ambiente. Com isso acabaram por fomentar o contrabando e os
plantios iniciais foram feitos sem qualquer controle dos órgãos de
fiscalização. Uma chacrinha.
Contando o caso como o caso foi, fica
evidente que a história trazida pela entrevistada do IDEC, a Marijane
Lisboa, está profundamente equivocada
quando relata que as plantas transgênicas “foram introduzidas no país sem ter havido qualquer
avaliação dos impactos à
saúde e ao meio ambiente”: como
vimos, a CTNBio avaliou e liberou o produto com base em extensos estudos dentro e fora do país.
Num salto lógico, a entrevistada ainda conclui que a primeira aprovação da soja
“mostra a inviabilidade de uma
política de biossegurança”. A única coisa que é inviável
aqui é a conclusão dela...
Promessas dos
transgênicos: quem fez e o que se cumpriu
Começamos esta postagem comentando como os
grupos que se opõem aos transgênicos são bons comunicadores e como, em geral,
são maus comunicadores os que desenvolvem a tecnologia, seja nos laboratórios
públicos ou nas empresas, e também os reguladores. Quando as plantas transgênicas começaram a
aparecer no Mundo, muitas empresas e muitos cientistas bestamente venderam a
ideia de que iam ser uma panaceia universal, que iam aumentar a produtividade e
coisas assim. Também disseram que ia haver a adoção de uma agricultura de menor
impacto e que os lucros dos agricultores seriam maiores, no que estavam certos,
como se verá logo adiante.
No duro, as primeiras plantas
transgênicas que chegaram ao Brasil forem desenhadas para reduzir o trabalho do
agricultor no combate às ervas daninhas e diminuir as pulverizações de
inseticidas. As suas coisas implicam em importantes reduções de custos e, em
alguns casos, num pequeno aumento de produção. Estes benefícios são reais e a
prova disso é a adoção MACIÇA das plantas transgênicas em todos os países que aprovaram
a biotecnologia agrícola.
Além disso, as plantas tolerantes aos
herbicidas permitiram uma adoção ampla da tecnologia de plantio direto, que
dispensa o arado, poupa o solo, economiza água, combustível e mão de obra. Já
as plantas resistentes a insetos derrubaram para menos de 20% o uso de
inseticidas, o que leva a um impacto ambiental muito menor. Estes benefícios (ambientais) e vantagens (ao
agricultor, ao consumidor e ao produtor de sementes) são evidentes e só a
miopia teimosa dos opositores impede que sejam identificados. Por isso, não
surge como surpresa a frase de nossa entrevistada: “nesses 10 anos, vemos que
tudo aquilo que foi dito a favor dos transgênicos não se cumpriu”...
Enfim, as promessas muito audaciosas
foram logo reconhecidas pela comunidade cientifica e pelos agricultores como
tolices (acabar com a fome no Mundo era uma delas...), mas havia ainda um bom
número de promessas concretas que de fato se realizaram, como comentado acima.
O que acontece hoje é que os grupos que se opõem à biotecnologia só comentam as
promessas que não se cumpriram ou que eles acham que não se cumpriram e são
absolutamente cegos aos benefícios e ganhos reais da tecnologia. Comportam-se,
assim, como avestruzes.
O feijão (transgênico) nosso de cada dia
A EMBRAPA desenvolveu por quase uma década um feijão
transgênico resistente ao vírus do mosaico dourado. A planta não é tolerante a
herbicidas, nem resistente a insetos e nem mesmo produz qualquer nova proteína.
Ela expressa apenas um RNA fita dupla que interfere na replicação do vírus,
tornando a planta imune à virose. A avaliação dos riscos deste feijão para a
saúde e para o ambiente foi amplamente discutida e, na verdade, foi das mais
fáceis que a CTNBio fez até hoje, uma vez que a planta não tem parentes
silvestres, não expressa qualquer proteína nova e se mostra idêntica em
composição e em comportamento ao feijoeiro convencional, exceto pela
resistência à virose (bch.cbd.int/database/attachment/?id=13795) . Na ocasião
algumas pessoas levantaram dúvidas sobre a segurança de ingerir RNA fita dupla:
ora, todos os dias ingerimos milhares destes RNAs, provenientes de nossa dieta
variada, muitos deles essencialmente idênticos aos nossos e que poderiam até
interferir com nosso metabolismo, não fosse o fato de que não existe via
alguma pela qual isso seja possível.
Além disso, a sequência de RNA que é produzida pela construção genética
do vírus da EMBRAPA não tem qualquer semelhança com genes humanos (http://genpeace.blogspot.com.br/2013/04/rota-ao-dano-pelo-rna-de-interferencia.html;
Avaliação
de risco de OGMs obtidos por tecnologia de interferência de
RNA:
sistemática da CTNBio e o caso do feijão Emprapa 5.1). Acertadamente,
a CTNBio deliberou que não havia risco algum adicional deste feijoeiro GM.
Ao contrário, seguindo um caminho que nada tem a ver com
avaliação de risco caso a caso, a entrevistada do IDEC afirma erradamente que
deveriam ter sido feitos testes toxicológicos e, ainda, acha que deveriam ser
de longa duração. Para avaliar o que, se
não há novas proteínas e o RNA dupla fita é prontamente degradado pelo
cozimento? Além disso, juntando os dados fajutos do Séralini , obtidos com
milho tolerante a glifosato, e a avaliação do feijão, a entrevistada junta óleo
e água, numa mistura impossível, além de insistir num artigo pseudocientífico
que já foi inúmeras vezes desmascarado por todos os fóruns sérios (ver http://genpeace.blogspot.com.br/2013/09/o-artigo-do-seralini-e-um-cavalo-morto.html).
O fato é que o feijão GM da EMBRAPA é tão seguro quanto o
convencional e vai contribuir decisivamente para a segurança alimentar do
brasileiro. Por que? Porque hoje perdemos 20 a 40% de nossa safra de
feijão para a virose e precisamos importar feijão, um item da cesta básica. Nunca
foi possível obter uma variedade melhorada de forma convencional que seja
significativamente resistente ao vírus do mosaico dourado. O feijão transgênico
da EMBRAPA resolve totalmente este problema. Espertamente, o IDEC esconde isso
do consumidor e a entrevistada parece também desconhecer o “pormenor”.
Pesquisas “independentes” e conclusões erradas
Sempre que um assunto polêmico aparece, aparecem também alguns
pesquisadores que conseguem publicar aqui e ali artigos que “mostram” problemas
onde ninguém mais vê. O que representam estas vozes isoladas? O que são as vozes
isoladas na ciência: quebra de paradigma ou desvio metodológico? O assunto foi
detalhadamente destrinchado em outra postagem nossa e em essência podemos resumi-lo da
seguinte forma: se os resultados foram obtidos com o uso de uma metodologia
científica sólida, as conclusões são válidas, mas precisarão ser referendadas
pelos pares para serem amplamente aceitas, sobretudo se forem controversas. Se,
por outro lado, os resultados tiverem origem numa metodologia falha, violando
as normas da pesquisa científica, só servem para a lata de lixo, nem
sequer podendo servir de alerta. Toda e qualquer nova conclusão e, sobretudo,
as quebras de paradigma, terão que ser apoiadas pela maioria. É assim que
funciona a ciência, como se pode ler nas postagens Maioria e Reducionismo na CTNBio e Ciência, independência e voto.
Então, o que é a ciência “independente”? No caso dos
transgênicos não é diferente daquilo que acontece com muitas outras áreas da
tecnologia - as vacinas, os aditivos
alimentares, os celulares, os preservativos e por aí vai. Em todos estes casos
há e haverá sempre alguns pesquisadores que, empregando uma metodologia que não
é reconhecida como válida pelos pares (embora possa sê-lo pelo editor da
revista), concluem sobre a existência de riscos que os demais não veem. Os arautos da desgraça, de plantão em todas
as áreas polêmicas, e seguindo o princípio de que uma grande desgraça é
uma boa notícia, seguem empurrando como válidos os resultados obtidos
de uma metodologia que viola a ciência. Que argumentos usam estes adeptos do
Armaggedom permanente? A existência de cientistas “independentes”, que não são
pagos, como supostamente todos os outros, pelos grandes interesses
corporativos. Além da suposição ser um tremendo desrespeito aos milhões de
pesquisadores do mundo todo, que ralam anos a fio para produzir resultados
confiáveis, quase sempre pagos com verbas públicas ou de instituições sem fins
lucrativos, ela propositalmente esquece que a qualidade dos
trabalhos destes “independentes” é nula ou muito baixa e que seus resultados
estão inteiramente isolados dos demais, sem uma relação causa efeito e sem
reprodutibilidade, seja porque violam os princípios da ciência, seja porque não
se baseiam numa hipótese cientificamente plausível.
Nossa entrevistada acredita nos cientistas “independentes”.
Podemos dar um desconto porque sua área de atuação passa longe da biologia
molecular, mas a compreensão dos princípios científicos e da forma como se faz
ciência de verdade não pode deixar de estar na mente dos membros da CTNBio.
Defender ciência “de mentirinha” em nome de uma ideologia qualquer é uma
forçada de barra cruel.
Desde que começaram a ser comercializados, faz mais de 15
anos, os transgênicos vem sendo anunciados pelos “independentes” como a fonte
de inevitáveis problemas de saúde. Acontece que, na prática e na ciência de
verdade, nunca se viu nada disso: 100 bilhões de animais foram alimentados com
rações a base de transgênicos, ingerindo muito mais destes produtos do que nós
poderíamos fazer, e absolutamente nada foi visto (exceto as doideiras da Judy
Carman, do Séralini e de mais uns 4 outros grupos “independentes”). O que
conclui nossa entrevistada? “Os efeitos nunca vão aparecer assim, pois não
há como identificar, na saúde das pessoas, aquilo que possa ser consequência só
da introdução do alimento transgênico, a não ser que se faça uma pesquisa
isoladamente. É possível que esteja havendo uma incidência maior de certas
doenças, como alergias, câncer, doenças do sistema imunológico etc. Para comprovar,
é preciso ter uma pesquisa específica, como essa que comentei [estudo francês]”.
Muito melhor que o estudo francês, descartado do âmbito da ciência séria, é a
constatação de que as proteínas transgênicas não fazem mal, resultante de centenas
de outros estudos sérios e com boa metodologia.
É muito cômodo dizer que há efeitos nas populações humanas, mas que não
vemos porque não há uma metodologia adequada: é quase um dogma religioso,
contra o qual a ciência é, de fato, inteiramente impotente.
Avaliação de risco e impacto de herbicidas e outros pesticidas
Uma afirmativa que aparece com frequência na internet é a de
que, quando se avalia os riscos de uma planta transgênica, deve-se embutir os
riscos da tecnologia associada. Assim, quando a CTNBio avalia os riscos de um
milho tolerante ao 2,4-D (um herbicida bastante empregado em muitas culturas
não transgênicas no Brasil e no Mundo), deve avaliar os impactos do milho e
também do herbicida. Ora, a coisa não funciona assim: no Mundo todo, a
avaliação de risco de OGMs se debruça sobre os impactos diretos dele sobre o
ambiente ou sobre a saúde. Os
avaliadores de risco de OGMs não avaliam a tecnologia associada, que cabe aos
órgãos de fiscalização e registro. Assim, no Brasil, a CTNBio avalia o impacto
direto do OGM e a AVISA, o IBAMA e o MAPA podem avaliar impactos de produtos
associados à tecnologia, como herbicidas, por exemplo. Não cabe à CTNBio esta
avaliação que, inclusive, lhe é vetada por lei. O que cabe à CTNBio está
pormenorizadamente descrito em nosso blog na postagem O que cabe à CTNBio e quais são seus procedimentos.
A entrevistada parece querer mudar a avaliação de risco de
transgênicos, que está muito bem sedimentada no Brasil e no Mundo (ver http://genpeace.blogspot.com.br/2013/09/guia-para-avaliacao-do-risco-ambiental_687.html).
Embora seja uma preocupação válida, o impacto dos herbicidas é assunto de
outros órgãos e agências no Brasil.
O Agente Laranja, a Guerra do Vietnam e o herbicida 2,4-D
Ninguém pode negar o horror que foi a Guerra do Vietnam. Na
ocasião, os militares americanos, a grande mídia e muitas outras fontes vendiam
a ideia de que os vietnamitas eram uns monstros, que não davam valor à vida
como nós, ocidentais, cristãos e...brancos. Uma visita ao país agora nos fez descobrir que
os vietnamitas são os brasileiros de olho puxado: adoram conversar, são alegres, comilões, criativos
e ligados num futebolzinho. Têm um tremendo orgulho do país deles, mas não
dispensam as tecnologias desenvolvidas em nenhuma parte do Mundo: importam e
adaptam os produtos americanos e acabaram de promulgar uma lei para os
transgênicos extremamente sensata, que lhes permitirá adotar a biotecnologia
agrícola muito rápido. O que isso tudo tem com o Agente Laranja?
Primeiro, o IDEC e a entrevistada confundem seriamente o
Agente Laranja e o 2,4-D. Na Guerra do Vietnam o tal agente continha 2,4-D, que
é um herbicida seguro, mas tinha outros produtos: um outro herbicida, o 2,4,5-T
(em partes iguais ao 2,4-D) e, o que era pior, a 2,3,7,8-tetrachorodibenzodioxina
(TCDD), extremamente tóxica e que vinha como contaminante do...2,4,5-T!!!. Como
o agente foi empregado numa guerra imbecil e injusta, ninguém se preocupava com
isso. Os terríveis efeitos que este agente causou nada têm a ver com o 2,4-D,
mas com a dioxina. Quem não conhece este
assunto, não deve repetir como um papagaio alucinado o que ouve por aí, com o
risco de confundir os brasileiros e, sobretudo, com o grave risco de
ofender nossos irmãos antípodas, que sofreram e sofrem com os efeitos das dioxinas,
e não dos herbicidas. Instruam-se, povos do mundo todo! Nem é preciso ir muito
longe, basta ler http://en.wikipedia.org/wiki/Agent_Orange.
O propósito das audiências públicas promovidas pela CTNBio
A entrevistada do IDEC comenta que a CTNBio deveria ter
feito uma audiência pública para as plantas com tolerância ao 2,4-D. Será
mesmo? Para que a CTNBio promove uma audiência pública? Qual o objetivo de tal
audiência? É comum que o cidadão imagine a audiência como uma oportunidade de
aprender com o proponente da audiência sobre o tema em pauta. Mas não é nada
disso, juto ao contrário: a Audiência é feita para ouvir a opinião dos cidadãos
e grupos sociais. Ora, a CTNBio já havia feito audiência sobre plantas
transgênicas resistentes a herbicidas e, do ponto de vista técnico, isso basta.
Não importa nem um pouco se o herbicida é o glifosato, o Tordon ou outro
qualquer.
Acertadamente, a audiência foi rechaçada pela Plenária e
também acertadamente, foi promovida pelo MPF. Se o Ministério quer aprofundar
seu conhecimento e burilar sua percepção de risco sobre uma planta tolerante ao
2,4-D, é justo que ouça os brasileiros,
uma vez que não se interessou por isso na primeira audiência que a própria
CTNBio promoveu nem pediu ele mesmo uma tal audiência para os demais eventos
transgênicos tolerantes a herbicidas. A audiência não trouxe qualquer novidade
para a CTNBio (ler aqui).
Observações finais
Em nossa leitura, não há nada de novo nesta entrevista e, o
mais sério, a avaliação dos 10 anos de transgênicos no Brasil não traz
informações concretas ao leitor, apenas discussões de bastidor e suspeitas
infundadas. O fato é que, nestes 10 anos, a biotecnologia agrícola disparou e
hoje o país adota de forma maciça as plantas transgênicas. O fato, també, é que
a agricultura brasileira avançou enormemente e somos grandes exportadores de
produtos que antes importávamos.
Apenas como informação que não deve ser esquecida: milho e
soja transgênicos entram diariamente na alimentação humana no Brasil e, mais
ainda, na animal. Seguramente muito mais do que o feijão, na média dos
brasileiros. Por que? Porque os produtos derivados de soja e milho GM estão em
toda parte, nos óleos, margarinas, recheios, aditivos proteicos, sucos, etc. Se
nossa entrevistada se preocupa mais com o feijão, que nem expressa proteína
transgênica, do que com os milhos e sojas que estão aí, precisa se reciclar em
nutrição.
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