terça-feira, 23 de dezembro de 2014

O feijão transgênico, a ideologia, as opiniões de grupo e a Ciência: riscos percebidos e riscos reais depreendidos de uma entrevista e da avaliação de risco

Em artigo enviado ao Jornal da Ciência e publicado em 22 de dezembro de 2014, o Dr. Nagib Nassar (UnB) defende decisão da Embrapa de não liberar o feijão transgênico e contesta posição da CTNBio (http://jcnoticias.jornaldaciencia.org.br/6-o-feijao-transgenico-decisao-e-licoes/) . Sua posição é diametralmente oposta à da maioria dos cientistas que se debruçaram sobre a avaliação de risco deste feijão (evento EMBRAPA 5.1) e que está resumidamente exposta em http://bch.cbd.int/database/attachment/?id=13795 . A seguir rebato, parágrafo por parágrafo, o texto do Nagib enviado ao Jornal da Ciência (SBPC), que já havia publicado outro texto sobre o assunto, de autoria do Dr. Walter Colli, com o qual me alinho inteiramente. Também publiquei aqui uma carta do Dr. Luiz Antônio Barreto de Castro, protestando contra novos atrasos na liberação comercial efetiva deste feijão.

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Nagib: Numa decisão inédita, corajosa e consciente , a atual diretoria da Embrapa cancelou experimentos de avaliação de feijão transgênico e impediu seu uso e consumo. A variedade é a mesma que foi desenvolvida pela instituição e lançada com muita euforia três anos atrás.
Minhas observações: O Nagib está enganado: a diretoria não cancelou experimento algum, apenas aparentemente adiou a colocação no mercado. Digo “aparentemente” porque o texto da Nota Técnica, já retirada do portal da EMBRAPA, não deixava claro que poderia haver sequer este adiamento. Ainda que numa nota oficial, ainda online, a EMBRAPA apoie integralmente o feijão EMBRAPA 5.1 (https://www.embrapa.br/esclarecimentos-oficiais/-/asset_publisher/TMQZKu1jxu5K/content/tema-feijao-embrapa-5-1-), as reações negativas à Nota foram muitas e a diretoria, seguramente, deve nos próximos dias esclarecer a questão aos brasileiros, que merecem respeito e atenção de qualquer empresa, mormente uma que seja “nossa”, isto é, do Governo.


(Em tempo: apenas 3 dias após a publicação das duas cartas de protesto, a Diretoria Executiva da Emprapa lança um esclarecimento que, de certa forma, tranquiliza os que lutam pela adoção de novas tecnologias que possam trazer benefícios para este país, sem impactos negativos, o que exatamente o caso do feijão GM. Leiam as explicações oficiais da EMPRAPA neste link.)

Nagib:A Embrapa verificou pela experimentação científica no campo e sob condições naturais, que esta variedade seria inútil como técnica de controle de vírus de feijão.
Minhas observações: Mais uma vez, o Nagib se engana: o que a EMBRAPA verificou era a existência de mais um novo vírus, mas isso em nada invalida a eficiência do feijoeiro EMBRAPA 5.1 no controle do vírus do mosaico dourado. Razão tem o Dr. Colli, não adotar o feijão GM por causa de outra virose é o mesmo que não tratar um paciente contra uma infecção por causa de outra, apenas porque os remédios são diferentes.

Nagib: Há uma história dramática desde o lançamento e aprovação dessa variedade há três anos. A história vivida por nós agrônomos,
 Ambientalistas e geneticistas, e até jornalistas atraídos por falsa promessa, fez com que um deputado afirmasse antecipadamente, num jornal de grande porte, que nós (já) havíamos resolvido o problema da fome e alimentos no Brasil.
Minhas observações: Deputados, eleitores e também cientistas podem se enganar e fazer escolhas e afirmações sem base na realidade, como a do deputado e, por que não, como as do Nagib neste texto ao Jornal da Ciência. A afirmação do deputado e estas aqui, do cientista, não podem ser levadas muito adiante.

Há três anos, por decisão tomada por quinze integrantes de CTNBio, formado por representantes de ministérios como Defesa , Relações Exteriores e outros, autorizou plantio e consumo de feijão transgênico, enquanto quatro outros votos de saúde ,
 Meio Ambiente e ONGs, defenderem realizar mais estudos. O Conselho de Segurança Alimentar (CONSEA) na mesma época – no mês de julho do mesmo ano – manifestou para a presidente da República sua preocupação com a atuação da CTNBio em relação a precaução e a violação ali cometida , e alertou para a insuficiência de estudos para liberação do feijão transgênico .
Minhas observações: O Nagib propositalmente começa com os Ministérios que parecem ter menos relação com a avaliação de risco do OGM, escondendo ao leitor que, nos “outros” estão o Ministério da Ciência e Tecnologia, as sociedades científicas e o Ministério da Agricultura. Toda a celeuma histórica está comentado nos links http://genpeace.blogspot.com.br/2011/10/avaliacao-de-risco-do-feijoeiro.html e http://genpeace.blogspot.com.br/2011/10/avaliacao-de-risco-do-feijoeiro.html , entre outros. Este último, aliás, comenta um artigo publicado em 2011 no mesmo Jornal da Ciência, que contém essencialmente as mesmas argumentações do Nagib.

Nagib: Mais do que isso, foi voto vencido o relato de especialista relator que criticou o fato de estudos serem baseados em apenas 3 ratos ; número pequeno demais para chegar a conclusões estatísticas válidas de biossegurança. Mesmo assim todos machos abatidos antes de idade adulta apresentaram tendência de diminuição de tamanho de rins e de aumento do peso de fígado.
Minhas observações: Foram muitos os relatores e só um viu “problemas”, até na tramitação do processo. A oposição foi voto largamente vencido porque não havia ciência nem substância legal em suas argumentações. Os experimentos com animais eram, desde o início, perfeitamente inúteis, porque não há novas proteínas expressas neste feijão e porque os dsRNA não resistem à fervura, mesmo que branda. Além disso, os grupos experimentais, ainda que pequenos (foram vários tratamentos), eram suficientes. Mas nada estatisticamente significativo foi observado. Está tudo no dossiê.

Nagib: Desconsiderou-se também o alerta do relator que a legislação estava sendo atropelada, já que deixou-se de apresentar estudo ao longo de duas gerações de animais. Criticou-se que os estudos de campo foram feitos por apenas dois anos e só em três localidades, quando a lei exige testes em toda as regiões onde a planta poderá ser cultivada. Foi afirmado à imprensa, pelo responsável dos experimentes, que testes foram feitos em todos os
Ecossistemas enquanto o processo no CTNBio mostra que ensaios foram realizados somente na casa de vegetação.
Minhas observações: Já comentado acima

Nagib: A durabilidade de resistência ao vírus foi questionada, pois os dados mostraram que a primeira geração de sementes apresentou 30% de plantas suscetíveis a vírus, e se isso se repete a cada geração não haverá resistência no quinta ou sexta geração . É o mesmo que foi verificado ultimamente. O pior é que nenhuma dessas questões freou uma falsa euforia!
Minhas observações: A interpretação do Nagib é inteiramente equivocada, coisa que me espanta por ele mesmo ser um melhorista. Tudo indica que nunca leu o dossiê nem perguntou uma vírgula ao Aragão ou ao Josias, apenas emprenhando pelas orelhas com o que ouve dos seus like-minded.

Nagib: Há muitas lições para aprender, uma delas é que até lançar a variedade, ela custou, pelo valor de hoje, mais de 30 milhões de reais. Não seria bom coletar informações suficientes antes de começar, já que elas existem na literatura científica e são conhecidas por tudo mundo da área. A última foi há doze anos sobre como lançar uma mandioca resistente ao mosaico pela mesma técnica. Custou 15 milhões de dólares e terminou por ser abandonada após poucos anos.
Minhas observações: As informações foram coletadas e comprovam largamente o que, desde o início, se sabia: a tecnologia é capaz de gerar uma variedade com imunidade robusta ao vírus, como acontece com mamoeiros e outras plantas. Se, em outra ocasião, a tecnologia falhou, isso de forma alguma invalida esta nova tentativa, até porque hoje se conhece muitíssimo mais sobre o mecanismo de interferência de RNA do que se sabia quando as primeiras tentativas foram feitas. É o avanço normal da tecnologia e é esta uma lição que o Nagib teima em não aprender.

Nagib:O fato de que a CTNBio é constituída e decide com base e forma política, prejudica o país e o público consumidor. O caso do feijão mencionado acima é uma clara evidência . Há mais exemplos similares. O milho transgênico M 810 é proibido em toda a Europa; Ásia e até em países da África, que o rejeitou mesmo como presente, e preferiram morrer de fome do que intoxicadas. O Brasil é um dos muito poucos países que o aprovaram graças à CTNBio. As atribuições dessa comissão são legalmente designadas pela lei e pela ANVISA, mas infelizmente, por razões políticas, não são respeitadas.
Minhas observações: aqui quem não respeita a verdade nem a CTNBio é o Nagib. A CTNBio decide de forma técnica e suas decisões são essencialmente iguais às de outras agências semelhantes (EFSA, OGTR, EPA+FDA e muitas outras). Aliás, o milho MON810 foi avaliado pela agência europeia (a EFSA), que o considerou seguro. Todos os países podem plantar, se quiserem, e assim o faz Espanha e Portugal. A proibição na França e em outros países (longe de serem todos, nem sequer maioria), esta sim, é fruto da política destes países. Ásia e África vêm adotando com frequência cada vez maior os transgênicos. India, China e África do Sul já os adotam faz muitos anos e agora entram novos países, como o Vietnam e Burkina Faso. O Japão não planta, mas aprova e consome quase todos os transgênicos produzidos no resto do Mundo. Não dá para acreditar que o Nagib não saiba disso e não dá para aceitar que venda esta inverdade aos seus leitores.

Nagib: A última lição vem da decisão corajosa da atual diretoria da Embrapa, que poupou ao País muito sofrimento, e para eles levanto meu chapéu e me curvo respeitosamente.
Minhas observações: pois é, cada um se curva frente ao seu ídolo de barro, ao sabor de sua ignorância ou de sua fé. Eu prefiro me alinhar do outro lado: o feijão é seguro e pode resolver um problema sério da agricultura, muito mais sério que o Carlavírus. Não me curvo a ideologia alguma, neste caso, mas apenas à Ciência e seus resultados. Que lição eu extraio deste episódio? Que a diretoria da EMBRAPA se deixa influenciar pelas hostes contra os transgênicos, que estão em toda parte no Governo e que prejudicam o país, propalando a falência da agricultura moderna e propugnando pela sua extinção. A substituição por um modelo agroecológico, embora ninguém saiba muito bem o que é isso (há muitas definições possíveis, infelizmente), levaria o Brasil para trás. Os dois modelos podem e devem coexistir e, quem sabe, com o tempo vamos migrando do modelo intensivo para o agroecológico, à medida que precisarmos (por várias razões) produzir menos comida e que pudermos fazê-lo de forma competitiva com uma agricultura alternativa ao agronegócio atual.


Eu concluo com a seguinte observação geral: a opinião do Nagib é, na verdade, a opinião de um grupo relativamente heterogêneo que se opõe aos transgênicos por questões ideológicas. O que o Nagib escreveu e o que ele defende são talvez menos suas ideais do que as deste grupo, não apenas neste texto, mas em outros que tive a oportunidade de ler. Não há nada de errado nisso, desde que não se fale em nome da ciência e nem se apresente ao público como pesquisador na área da genética vegetal.

domingo, 21 de dezembro de 2014

Novo protesto contra a posição da EMBRAPA em não avançar na comercialização do feijão transgênico – considerações do Dr. Luiz Antônio Barreto de Castro, Presidente da Sociedade Brasileira de Biotecnologia

Em carta ao presidente da EMBRAPA, Dr. Maurício Lopes, o Dr. Luiz Antônio Barreto de Castro comenta detalhadamente a importância do feijão EMBRAPA 5.1 e a inadequação dos argumentos trazidos à luz na Nota Técnica relativa à existência de um carlavírus na cultura do feijoeiro. Suas considerações complementam as do Dr. Walter Colli (http://genpeace.blogspot.com.br/2014/12/embrapa-uma-decisao-que-se-impoe.html). A seguir, o texto completo da carta do Dr. Luiz Antônio à presidência da EMBRAPA.

Ao Presidente da EMBRAPA Mauricio Lopes
Assunto: A liberação do feijão transgênico resistente ao mosaico dourado

Senhor Presidente

Desde 1980 tenho trabalhado em engenharia genética em Brasília, boa parte deste tempo no CENARGEN/EMBRAPA, onde iniciei engenharia genética de plantas no Brasil. Não tenho dúvida que no CENARGEN funciona a melhor equipe de expressão de genes em plantas do País. Também não tenho duvida que o marco histórico do CENARGEN, o produto mais importante da EMBRAPA desde 1980, foi a obtenção pelas equipes de Francisco Aragão do CENARGEN e Josias Correa de Farias do EMBRAPA Arroz e Feijão, do feijão resistente ao mosaico dourado obtido pela tecnologia de RNA interferente, que foi responsável pelo Premio Nobel em Fisiologia e Medicina em 2006 a Andrew Z. Fire e Craig C.Mello. Apenas quatro anos depois, os pesquisadores da EMBRAPA acima citados tiveram seu memorial para liberação do feijão transgênico aprovado na 145ª Reunião Ordinária da CTNBio, ocorrida em 15 de setembro de 2011, através do Parecer Técnico número 3024, sendo o primeiro caso de utilização desta tecnologia para obtenção de uma planta geneticamente modificada no mundo.
Importante destacar que, de acordo com a legislação em vigor no país, quanto aos aspectos de biossegurança do OGM e seus derivados, a decisão técnica da CTNBio vincula os demais órgãos e entidades da administração, não cabendo à qualquer órgão contestar tais decisões em razão de questões técnicas. O Parecer aprovado pela CTNBio autoriza, mas não obriga a quem solicitou a liberação de um OGM a fazê-lo. Entretanto, se uma decisão deste Colegiado é contrariada por razões “técnicas”, tal procedimento deverá ser feito à CTNBio pela CIBio competente, explicitando-se as razões que levaram a essa conclusão. A CTNBio, e somente a CTNBio, detém a competência para alterar ou revogar suas decisões e pareceres.    
Ocorre que, tendo tido ciência do conteúdo de Nota Técnica da própria EMBRAPA, de julho de 2014, mais de três anos depois da liberação do feijão transgênico pela CTNBio, venho apresentar alguns questionamentos e registrar minha indignação em face das alegações apostas na referida Nota e do posicionamento adotado pela EMBRAPA que tem, injustificadamente, retardado a liberação comercial do feijão transgênico resistente ao mosaico dourado, aprovado pela CTNBio em 2011.
De acordo com referida Nota Técnica, publicada na página oficial da EMBRAPA, sem número e apócrifa, consta a indicação de que a EMBRAPA decidiu, por ora e sem previsão de tempo, não liberar comercialmente o feijão transgênico resistente ao mosaico dourado, que a mesma solicitou autorização à CTNBio, através de memorial minucioso , contendo mais de trezentas páginas, elaborado por 02 (duas) CIBios.
Cabe destacar que, para que a EMBRAPA alcançasse tal êxito – a liberação do feijão transgênico - foram gastos anos e anos de pesquisa, bem como valores expressivos de dinheiro público, tendo sido objeto de exaustiva e criteriosa avaliação dos membros da CTNBio, que conta com a participação de 36 PhDs  e, não por acaso, é  por esta razão, o único órgão competente para decidir sobre a liberação comercial de OGM de acordo com a lei número 11.105 de 24 de março de 2005.
Como Presidente da Sociedade Brasileira de Biotecnologia, e com a experiência de quem trabalhou na CTNBIO por doze anos, registro minha surpresa diante de comunicação apresentada pela Secretaria de Comunicação da EMBRAPA, ao arrepio do que determina a legislação nacional em vigor, sendo que os motivos ali apresentados não justificam postergar, indefinidamente, o cumprimento de decisão fundamentada da CTNBio.
Inicialmente, causa-me estranheza o fato de tão importante manifestação da EMBRAPA ter sido apresentada através de documento apócrifo de sua Secretaria de Comunicação, que não detém a competência legal para tanto, e não pelas CIBIos competentes da EMBRAPA que apresentaram o memorial à submissão do colegiado.
Da análise atenta da legislação em vigor no país sobre a matéria, pode-se verificar que qualquer alteração de decisão da CTNBio deverá ser apresentada pelas CIBio dos Centros da EMBRAPA. Entendo, ainda, que essas CIBios devem apresentar as questões que impedem a EMBRAPA em cumprir uma decisão daquele colegiado, podendo, inclusive, caso entendam necessário, até requerer a revogação do referido Parecer Técnico número 3024.  
Considerando que a lei de biossegurança preserva expressamente o princípio da precaução, e que cabe à administração pública rever seus atos, caso a EMBRAPA tenha dúvidas sobre a liberação do feijão transgênico, esta poderá solicitar, através da análise técnica de suas CIBios, apresentar seu pedido fundamentado à CTNBio, mas nada justifica a EMBRAPA desconsiderar a aprovação concedida pela CTNBio.
Também não se justifica a alegação de que “O feijão transgênico cumpre até o momento sua finalidade, que é eliminar o risco de infecção das lavouras pelo mosaico dourado, doença que causa prejuízo entre 40% e 70% das lavouras.”, ou mais, pois, sem a sua efetiva liberação comercial, não há como afirmar que este feijão cumpre sua finalidade, pois, até hoje, referido feijão transgênico da EMBRAPA sequer foi registrado no Ministério de Agricultura.
Vejamos, ainda, as questões ora apresentadas sob uma ótica agronômica: a ocorrência de forma mais evidente do Carlavírus, que é transmitido também pela mosca branca e causa uma perda muito menor da lavoura do feijão (cerca de 30%), comparada com o mosaico dourado que causa uma perda de até 70%, a não ser que o feijão transgênico seja utilizado. Na verdade, a perda é total se o plantio for feito inadvertidamente na época de maior incidência de mosca branca.
Se a razão desse novo posicionamento da EMBRAPA não fosse de biossegurança, mas sim agronômica, não justificaria a EMBRAPA preferir que o produtor perdesse 70% de sua colheita de feijão que 30%. O Carlavírus, ao contrário do que consta na Nota Técnica, é conhecido há décadas e sua ocorrência não foi determinada pela existência do feijão transgênico. Tese de doutorado sobre o Carlavírus foi objeto da orientação do saudoso Álvaro Santos Costa, excelente virologista do IAC na década de 80 (oitenta), a um dos seus estudantes .
Diante desse cenário permita-me concluir que o atraso injustificável para a liberação do feijão transgênico poderá ter como consequência o fato de que os produtores de feijão continuarão a perder suas lavouras.
Em resumo, o que propõe a Nota Técnica da EMBRAPA é que se aguarde obter um feijão transgênico resistente aos dois vírus. Resta decidir o que se fazer até lá, depois de mais anos e anos de pesquisa com dinheiro público: controle químico, MIP, vazios de difícil operação, que se funcionassem com eficiência impediriam as perdas das lavouras dos pequenos produtores de feijão, infelizmente não organizados, antes da liberação desse novo tipo de feijão transgênico, medidas agronômicas que repito não funcionam porque se funcionassem os produtores não perderiam suas lavouras
Como Presidente da Sociedade Brasileira de Biotecnologia tenho o dever legal, e até mesmo moral, de insistir para que a EMBRAPA observe o fiel cumprimento da legislação em vigor de Biossegurança, evitando postergar, injustificadamente e sem fundamento técnico científico, a liberação comercial do feijão transgênico resistente ao mosaico dourado, aprovado pelo Parecer Técnico 3024 da CTNBio, ou, caso a EMBRAPA pretenda modificar seu pedido de liberação comercial caberá a esta apresentar seu novo posicionamento através de fundamentação científica e por meio de suas CIBIos do CENARGEN e da EMBRAPA Arroz e Feijão, que detêm competência técnica e atribuição legal para analisar o que consta na referida Nota Técnica da Secretaria de Comunicação da EMBRAPA, e se pronunciarem a respeito à CTNBIO.   
Sendo essas as considerações que julgo pertinentes tecer sobre a matéria.
Atenciosamente
Luiz Antonio Barreto de Castro
Presidente da Sociedade Brasileira de Biotecnologia


c/c ao Presidente da \CTNBIO

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Alergia e transgênicos

Crítica ao texto em

Copio e colo abaixo um texto publicado no blog Alimentação e Saúde Infantil – Nutrição consciente desde a infância. Após cada parágrafo ou depois de dois ou três eu junto meus comentários (em vermelho). Lá no blog original também fiz comentários, mas a pessoa responsável me espinafrou, me chamando de ignorante e acusando a CTNBio se ser um valhacouto de vendidos às grandes empresas (as críticas estão no final desta postagem, com o merecido reply). Tanto o texto original quanto a resposta apenas amealham o besteirol que circula na internet e não são, de fato, a opinão de quem escreve, mas de um largo grupo de like-mindeds. Uma pena, porque o blog em geral tem boas informações. O que a distorção ideológica não faz!

La vai.
Alergias alimentares x Transgênicos em carnes de animais alimentados com transgênicos
novembro 24, 2014 por Alimentação e Saúde Infantil

É sabido que leite, soja e ovos são os principais alimentos causadores de alergias alimentares, especialmente em crianças.

Não é exatamente assim: a ordem em que estes alimentos aparecem varia de país para país e mesmo de região para região. No Brasil a soja está entre as fontes de alergenos, basta ler o documento de consenso, de 2007 (http://www.crn2.org.br/pdf/artigos/artigos1285071282.pdf), sugerido pela pessoa que postou este texto numa réplica a um comentário meu. Mas o fato da soja estar na tabela em nada indica que ela é uma das fontes de alergenos mais importantes. De forma alguma! Ovo, leite, amendoim, castanhas, corantes, crustáceos, kiwi, e muitos outros vêm na frente, dependendo do lugar do Brasil. Mas esta questão não é relevante: o ponto é que dos alergenos da soja (Globulinas, 7S: β-conglicina, β-amilase, Lipoxigenase, Lecitina, 11S: glicinina, Proteínas do soro, hemaglutinina, Inibidor de tripsina, uréase) nenhum é produzido em maior quantidade nas sojas transgênicas e as novas proteínas que elas contêm não são alergênicas. A discussão da contribuição da transgenia na alergenicidade da soja se esgota aqui.

Entre 2005 e 2006, uma petição com um milhão de assinaturas circulou pela Europa exigindo maiores informações sobre a presença de organismos geneticamente modificados em produtos originários de animais consumidores de rações transgênicas, principalmente carnes, leite e ovos.
O que os europeus fazem não é dirigido pela ciência, mas pela percepção pública, que é coisa muito diferente. O consumo dos transgênicos pelos animais significa que as proteínas novas serão degradadas no trato digestivo deles e os aminoácidos vão virar proteínas de vaca, galinha, porco ou seja lá qual for o bicho que comer a ração. Não vai existir nenhuma proteína nova na carne, nos ovos ou no leite. Isso contraria a fisiologia e está amplamente demonstrado na literatura séria.
Atualmente, as principais preocupações da comunidade cientifica mundial, sobre os efeitos adversos dos organismos geneticamente modificados (OGMs), centram-se na transferência à resistência aos antibióticos, graus de toxicidade e potencial alergenicidade dos produtos manipulados geneticamente.
Num comentário que envie em resposta a este texto, deixei claro que a transferência de genes de antibiótico de plantas para qualquer outro organismo (exceto as plantas da mesma espécie e as sexualmente compatíveis) é uma fantasia. Além disso, o gene teria que se expressar no nosso organismo, mas está sob controle de um promotor de planta (ou de vírus de planta). É como querer jogar um astronauta com um canhão na Lua: só na ficção científica do bom Júlio Verne. Também esclareci que nenhuma proteína nova expressa pelas plantas transgênicas é tóxica, nem muito menos os alimentos formulados com estas plantas, exceto nas mãos de Séralini, da Judy Carman e de uns poucos outros, cujo método em seus experimentos está muito longe da Ciência. Por fim, falei também que as proteínas novas não são alergênicas e, como comentado acima, as proteínas alergênicas já encontradas na palnta convencional não estão em maior quantidade nas transgênicas. Desafio quem quer que seja a demonstrar o contrário com dados científicos, e não citações das especulações teóricas do Jack Heinemann nem alguma bizarria isolada publicada por aí. Concluo: as principais preocupações dos cientistas sérios passam longe destas três coisas citadas acima.
Em 2002, o médico imunologista e alergologista londrino, Gideon Lack, escreveu sobre a migração de DNA de alérgenos para culturas de não-alérgenos, em Clinical risk assessment of GM foods.
No documento, o alergologista discorreu sobre o primeiro cenário de contaminação cruzada ocorrido em 1996, quando proteínas de castanha do Brasil foram transferidas para a soja transgênica.
Dessa forma, a proteína expressa na soja cultivada manteve sua alergenicidade, e pacientes alérgicos ás castanhas, sem respostas para soja, passaram a apresentar resposta mediada por IgE para alergia à soja.
Se uma planta transgênica expressar um alergeno de outro organismo, seguramente pode acontecer que ela se torne um problema no mercado, uma vez que um risco não suspeitado para o consumidor. Por isso, esta tal soja com proteína de castanha do Pará não está à venda e também por isso todas as plantas GM no mercado não expressam alergenos novos. Seria uma imprudência criminosa. Os que se opõem aos OGMs sempre citam este caso da soja com proteínas da castanha, mas “esquecem” de dizer que esta coisa não está à venda em canto algum do planeta e as que estão não têm novos alergenos.
Pesquisas mais recentes apresentam comprovações sobre a deposição de frações transgênicas, não apenas em outras plantas, mas também em tecidos de animais alimentados com esses alimentos.
Uma revisão da literatura conduzida pela ONG Testbiotech encontrou crescentes evidências de que fragmentos de DNA de plantas transgênicas podem ser encontrados em leite, órgãos internos e músculos de animais.
Em abril de 2010, cientistas da Itália relataram a presença de sequências de DNA de soja transgênica em leite de cabras.
Traços deste DNA foram também encontrados nos cabritos e crianças alimentadas com o leite dessas cabras.
Em outra pesquisa, cientistas encontraram traços de plantas transgênicas em órgãos de peixes.
Professor Jack Heinemann. Universidade de Canterbury, Nova Zelândia, in: Report on Animals Exposed to GM Ingredients in Animal Feed

Todas estas pesquisas mostram o que já se sabe faz tempo: diminutas frações de DNA do que a gente come circula no sangue e está presente em outros fluidos corporais (leia também http://genpeace.blogspot.com.br/2013/08/genes-inteiros-podem-passar-do-alimento.html). Numa concentração muito maior estão os DNAs do próprio comedor... Assim, que toma leite de vaca ingere quantidades importantes de DNA e de RNA fita dupla, este último contendo sequências silenciadoras de genes muito semelhantes, senão idênticos, aos nossos. Idem prá quem come bife, carne de porco, de ovelha ou de cabrito. Também ingerimos DNA e iRNA de aves e peixes, embora as sequências sejam menos semelhantes aos nossos genes. Entretanto, isso não tem qualquer impacto em nossa saúde, porque estes DNAs não são incorporados às nossas células nem usados para nada, assim como os iRNAs. Idem para os recombinantes. O Heinemann adora especular sobre isso (o report completo dele está aqui: http://www.biosafety-info.net/file_dir/16329274254b0b792716b0f.pdf), mas em geral só conta uma parte da história, centrando a atenção do leitor nos transgenes... Nada do que está no report dele é novidade para os avaliadores de risco.


Transgênicos e Saúde Humana
O professor do programa de pós-graduação em Recursos Genéticos Vegetais da UFSC, Miguel Pedro Guerra, defensor de maior cautela com transgênicos, comentou sobre a incorporação de novas proteínas na cadeia alimentar e a ocorrência de alergias provocadas pelas modificações genéticas, em entrevista para a revista Galileu.

A revista Galileu está longe de ser uma publicação com o rigor científico para transformar em fatos algumas especulações. O fato é que as novas proteínas que são expressas pelas plantas transgênicas hoje no mercado não são alergênicas. Entendo a preocupação dos alergologistas, mas eles precisam se debruçar sobre as evidências científicas e não se fiarem em conversa mole de internet ou de certas revistas dde popularização da ciência.
Para o professor, o FDA (agência americana que regula alimentos e remédios nos EUA) não conduziu testes e, em simplificação surpreendente, liberou plantas para o cultivo com base apenas no conceito de equivalência substancial.
Absolutamente errado: o FDA (e, no caso das plantas Bt, também o EPA, além da CTNBIo, da EFSA, do FSANZ, etc) avaliaram dezenas de outros aspectos alimentares. Para o caso das alergias o que é rotina? Ver se as novas proteínas não apresentam características indesejáveis de termoestabilidade e resistência aos fluidos gástricos e ver se suas sequências não têm similaridade com alergenos conhecidos dos bancos de dados. Pois é, nenhuma das proteínas transgênicas expressas pelas plantas aprovadas para consumo tem estas características... Parece que o professor está equivocado ou foi mal interpretado pela revista Galileu.
Por esse conceito, plantas transgênicas são equivalentes às não-transgênicas.
Mas, muitos cientistas discordam dessa simplificação.
“Desde 1996, bactérias, vírus e outros genes introduzidos artificialmente no DNA de soja, milho e sementes de algodão e canola implicam em riscos de reações alérgicas mortais”, comenta Jeffrey M. Smith, do Instituto de Responsabilidade Tecnológica (IRT), com sede nos EUA.

O Jeffrey Smith é um charlatão e não um cientista, e este instituto é uma miragem para não usar uma palavra mais forte. Nenhum médico, nutricionista, biólogo ou qualquer outro profissional que respeite a ciência pode levar a sério um cara destes. Só a nossa mídia meio desorientada e sequiosa de más notícias. Tudo o que ele afirma não merece comentários.
“E as provas, colhidas ao longo da última década, sugerem ainda que estão contribuindo para o aumento das alergias alimentares em todo o mundo. Os cientistas sabem há muito tempo que os transgênicos podem causar alergias”, afirma.
O Reino Unido é um dos poucos países que realiza uma avaliação anual das alergias alimentares.
Em 1999, pesquisadores ingleses ficaram alarmados ao descobrirem que as reações à soja dispararam em 50%, em relação ao ano anterior.

E depois de 99? Sonhar é possível...

A soja geneticamente modificada havia entrado recentemente no Reino Unido, a partir de importações dos EUA.

Gozado é que nos EUA mesmos nãos e viu esta subida imensa, apesar da vigilância enorme das autoridades de saúde. Como a fonte deve se o tal IRT, já se vê que é tudo bobagem.

Na manifestação tardia de alergias, até que um alimento seja consumido com certa frequência, não é possível detectar o processo alérgico.
 “O único teste definitivo para alergias”, segundo o ex-microbiologista do FDA, Louis Pribyl, “é o consumo por pessoas afetadas, o que pode ter implicações éticas em se tratando de estudos programados.”

Isso é verdade: não há testes em animais que apontem novos alergenos. Por isso o Codex Alimentarius estabeleceu um protocolo para avaliar novos alergenos e é ele quem vem sendo seguido. Quanto ao aumento das alergias à soja ou milho, se existe pode ter várias causas, mas uma alergia específica às proteínas EPSPS, Cry (várias), VIP, Bar, etc., nunca foi demonstrada (e muito menos uma alergia cada vez mais comum), embora seja muito simples o teste. Por que? Porque simplesmente não existe.

Ainda conforme documento do IRT, culturas OGMs podem criar novas alergias.
Em 2010, o Dr. Michael Hansen, PhD em impactos da biotecnologia na agricultura e cientista sênior da Consumers Union, ao participar  de evento sobre transgênicos, em São Paulo, comentou que, no início de sua utilização, os transgênicos ocasionaram redução no uso de agrotóxicos. Porém, gradativamente, esse uso passou a duplicar.

O aumento de agrotóxicos, se existir, é só para herbicidas. O consumo de inseticidas reduziu muito desde a adoção das plantas Bt. Toda informação deste IFT é suspeitíssima, por princípio.


O glifosato, princípio ativo do herbicida Roundup Ready (RR), da Monsanto, possui forte relação com prejuízos à saúde humana como reprodução indevida de células, aumento nas taxas de abortos espontâneos, má formação fetal e manifestações imunitárias como alergias alimentares.

Todo pesticida é tóxico, mas o glifosato é dos menos tóxicos entre os herbicidas e por isso as plantas transgênicas foram feitas tolerantes a eles. A oposição ferrenha ao glifosato tem uma razão bem clara: ele é originalmente da Monsanto, a personificação empresarial do capeta na Terra... Quem vende a ideia de que o glifosato é muito perigoso não sabe nada de toxicologia.

Atenção!
Transgênicos na alimentação dos bebês e crianças menores:
Atualmente, além de muitos corantes, açúcar, xarope de milho ou outro adoçante artificial, a maioria das farinhas engrossantes para bebês e produtos lácteos, incluso  certas marcas de leite em pó, possuem transgênicos em suas composições, sem qualquer declaração nos rótulos.

Não é bem assim: vários destes produtos (por exemplo, a Maizena) já têm rotulo. Já o leite em pó, se não contiver adição de soja, é tão transgênico quanto um canguru.
Mulheres que amamentam, especialmente alérgicos, devem observar também a ingestão de carnes e ovos quando frente a alguma reação do lactente.
Fontes bibliográficas

Só a citação grifada em verde provem de uma revista científica, o resto é especulação das OGNs e institutos contra a biotecnologia agrícola (Greenpeace, Idec, etc.) ou blogs e revistas populares.O assunto da referência em verde é importante, mas não existe uma planta do jeito que ele estudou no mercado hoje.

Influência sobre CTNBio é trunfo das gigantes da transgenia
Comissão responsável por liberar pesquisa, produção e comercialização de transgênicos no Brasil é integrada por cientistas ligados às empresas do setor. Disponível em: Repórter Brasil.
Legalizados há 10 anos, transgênicos vivem apoteose
Lei 10.688/2003, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, impulsionou o mercado dos transgênicos, lavouras de soja e devastação da Amazônia para plantio.
Dossiê Transgênicos: os dois lados da moeda. Revista Galileu. Editora Globo.++++

Por fim, comento algumas das severas críticas que o autor (ou autora) do texto acima fez a mim e à CTNBio.

Em primeiro lugar, senhor professor “que possui um site em que apoia incondicionalmente os transgênicos”, basta consultar as fontes do artigo para ver que tudo está sendo pesquisado e estudado por cientistas que não possuem o rabo preso com empresa alguma, e trabalham em busca do que realmente pode ser útil e bom para o progresso da humanidade.

Não existe esta história de “rabo preso”: ou o artigo tem qualidade e os dados podem ser repetidos e serão confirmados e estendidos outros autores, ou a coisa não presta. No caso dos resultados de Séralini e de uns poucos outros que enxergam problemas enormes nos transgênicos, o que falta é método científico nos seus experimentos e isso nada tem a ver com serem independentes ou não. Aliás, para conhecimento do público, o Séralini é amplamente subsidiado pelos grandes supermercados europeus que não vendem transgênicos e por um laboratório que produz “detoxificantes” contra... transgênicos. Vai ter o rabo preso lá na China!


Em segundo lugar, ao colocar que “… dizendo que a soja é um dos principais alergenos na infância. De onde o autor arrancou isso? Está inteiramente equivocado.”
Respondo:
De inúmeros artigos nacionais e internacionais que podem ser acessados pelo senhor através da internet, se desejar, ou livros.
O fato de o senhor desconhecer o assunto não o torna um equivoco. O equivoco está na sua falta de conhecimento sobre o assunto. Entre os inúmeros estudos sobre o tema sugiro que leia esse:
Documento conjunto elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Associação Brasileira de Alergia e Imunopatolia:
A alergia alimentar é mais comum em crianças. Estima-se que a prevalência seja aproximadamente de 6% em menores de três anos e de 3,5% em adultos e estes valores parecem estar aumentando(…) 
São identificados como principais alérgenos responsáveis pela alergia alimentar em crianças: o leite de vaca, o ovo, o trigo, omilho, o amendoim, a soja, os peixes e os frutos do mar. 
Leia completo com quadro e maiores explicações no link acima.
A leitura atenta do documento de consenso, de 2007, citado (http://www.crn2.org.br/pdf/artigos/artigos1285071282.pdf), mostra o que se sabe: a soja tem alergenos. Mas o fato dela estar na tabela em nada indica que ela é uma das fontes de alergenos mais importantes. De forma alguma! Ovo, leite, amendoim, castanhas, corantes, crustáceos, kiwi, e muitos outros vêm na frente, dependendo do lugar no Brasil, grupo de consumidores, etc.. Mas esta questão não é relevante: o ponto é que dos alergenos da soja (Globulinas, 7S: β-conglicina, β-amilase, Lipoxigenase, Lecitina, 11S: glicinina, Proteínas do soro, hemaglutinina, Inibidor de tripsina, uréase) nenhum é mais produzido nas sojas transgênicas do que nas convencionais e as novas proteínas que elas contêm não são alergênicas. O mesmo vale, aliás, para o milho, a canola, o algodão, etc. Ponto.


O senhor não possui base cientifica para afirmar em caps lock e refutar nada do que foi pesquisado e publicado no exterior sobre a contaminação cruzada em transgênicos.
Que diabos é contaminação cruzada de transgênicos? Se é a presença de novos alergenos em alimentos, pela expressão de novas proteínas, a resposta é: esta coisa não existe, porque as novas proteínas não são alergênicas (são rapidamente degradadas no fluido digestivo e não têm semelhança de sequência com qualquer alergeno conhecido nos bancos de dados). Quem parece não possuir formação científica suficiente para entender isso (ou lhe falta vontade) é o autor das críticas a mim.

O número de alergias múltiplas vem aumentando significativamente, nos últimos anos, em paralelo ao aumento do comércio de transgênicos, no mundo todo.
O senhor pode espernear quanto quiser, pois a verdade aparece quando tiver que aparecer.

O número de alergias múltiplas também aumenta com o aumento das refeições feitas fora de casa, com o consumo de orgânicos e com um mundo de outras coisas, com coeficientes de correlação tão bons quanto com o consumo de transgênicos. A causa deste aumento é múltipla e, provavelmente, os transgênicos nada têm a ver com isso porque não existe um mecanismo causal provável (já comentei antes que as proteínas novas expressas pelos transgênicos não parecem ser alergenos e que os alergenos conhecidos das plantas convencionais não estão em maior concentração nas plantas transgênicas, tudo isso é muito bem conhecido). Imaginar que uma simples correlação estatística tosca, como esta, tem um significado importante é desconhecer o método cientifico.

Infelizmente, em alguns momentos da história, um pouco tarde, e à custa da vida de milhares ou milhões de pessoas. Seja mais responsável. Desserviço é o senhor afirmar algo apenas sustentado por sua falta de conhecimento mais profundo sobre o assunto (alergias, transgênicos, etc.).
E, ademais, é importante que além de consciência tenhamos também o mínimo de conhecimento sobre a politicagem que rodeia a defesa de transgênicos no Brasil. Mesmo sabendo que está tudo mais dominado do que gostaríamos.
Quero acreditar que quando afirma que não há maior utilização de agrotóxicos, e que não há riscos de toxicidade das plantas, seja apenas por falta de informações.
O uso de agrotóxicos não implica que eles vão estar presentes no grão, na fruta, no legume ou na verdura que vão ser vendidos. Ou pelo menos, não implica que estes produtos tenham concentrações acima do admitido pelas leis do país. Se o agricultor seguir as recomendações, seu produto será saudável. A maior parte dos casos de contaminação vem da pequena agricultura e da agricultura familiar e nada tem a ver com o agronegócio dos transgênicos.

Veja esse também:
O Ministério Público Federal tem questionado as decisões da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) em relação ao método utilizado pela Comissão na liberação de produtos transgênicos.

O principal foco do MPF está nos produtos que utilzam o agente 2,4-D – ingrediente do “agente laranja”, desfolhante usado pelo exército americano na Guerra do Vietnã. 

De acordo com o procurador da República Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, a frente deste processo, é preciso que haja uma participação maior das sociedade civil no debate da liberação de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs).
31/10/2013

O Anselmo tem boa intenção, mas ouve demais as informações da AS-PTA, do MST e de outras organizações que, por motivos políticos e ideológicos, são contra os transgênicos. Como o procurador não tem muito trânsito em genética, biologia molecular, epidemiologia e coisas assim fica refém das tolices que lhe são trazidas por alguns “cientistas”. Quanto à relação entre o 2,4-D e o famigerado Agente laranja, sugiro a leitura atenta de http://genpeace.blogspot.com.br/2014/12/10-anos-de-transgenicos-no-brasil.html. Aliás, nesta postagem comento outras afirmações errôneas deste texto acima e das críticas de seu (sua) autor(a).
Comissão responsável por liberar pesquisa, produção e comercialização de transgênicos no Brasil é integrada por muitos cientistas ligados às empresas do setor

É muito fácil para qualquer um que se esconde por trás do anonimato acusar os membros da CTNBio de terem ligações com empresas. Mas o fato é que a maioria esmagadora lá é de professores, cujo salário vem do governo e cujas verbas de pesquisa vêm dos órgãos oficiais de financiamento, O resto é lenda e fuxico, que desrespeita os cientistas excelentes que lutam para avaliar os riscos dos OGMs na Comissão, levando cacete de uma oposição carente de formação científica e, em alguns casos, de caráter.

Contra fatos, não há argumentos.
Como mostrei, não há fato algum, só besteirol.


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Depois de um segundo comentário do autor (ou autora) do texto que critiquei, posto as referências mais novas sobre o assunto que, na verdade, está em grande parte esgotado.

Ladics GS, Fry J, Goodman R, Herouet-Guicheney C, Hoffmann-Sommergruber K, Madsen CB, Penninks A, Pomés A, Roggen EL, Smit J, Wal JM.
Clin Transl Allergy. 2014 Apr 15;4(1):13. doi: 10.1186/2045-7022-4-13.

Goodman RE, Panda R, Ariyarathna H.
J Agric Food Chem. 2013 Sep 4;61(35):8317-32. doi: 10.1021/jf400952y. Epub 2013 Jul 25. Review.

Panda R, Ariyarathna H, Amnuaycheewa P, Tetteh A, Pramod SN, Taylor SL, Ballmer-Weber BK, Goodman RE.
Allergy. 2013 Feb;68(2):142-51. doi: 10.1111/all.12076. Epub 2012 Dec 4. Review.

Wang J, Yu Y, Zhao Y, Zhang D, Li J.
BMC Bioinformatics. 2013;14 Suppl 4:S1. doi: 10.1186/1471-2105-14-S4-S1. Epub 2013 Mar 8.

Young GJ, Zhang S, Mirsky HP, Cressman RF, Cong B, Ladics GS, Zhong CX.
Food Chem Toxicol. 2012 Oct;50(10):3741-51. doi: 10.1016/j.fct.2012.07.044. Epub 2012 Jul 31

Herman RA, Ladics GS.
Food Chem Toxicol. 2011 Oct;49(10):2667-9. doi: 10.1016/j.fct.2011.07.018. Epub 2011 Jul 19

Herman EM, Burks AW.
Curr Opin Biotechnol. 2011 Apr;22(2):224-30. doi: 10.1016/j.copbio.2010.11.003. Epub 2010 Dec 2. Review.