quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Transgênicos e a morte de abelhas: uma grande mentira que precisa ser desmascarada

Enquanto os pseudo verdes terçam sabres contra os transgênicos e seguem argumentando que as abelhas morrem por causa das plantas GM, as ditas vão morrendo de doenças infecciosas emergentes e transmitindo seus patógenos para importantes polinizadores silvestres. Estes muitas vezes já estavam em risco de extinção e, se nada for feito, vão desaparecer. Com eles, desaparecerão também muitas espécies de plantas que são polinizadas exclusivamente por estes insetos na Natureza. E, na avalanche, desaparecerão outros animais associados a estas plantas. Isso, sim, é um problema real com o qual os ecologistas devem se preocupar de verdade.

O artigo recém-publicado na revista Nature mostra claramente a associação entre as doenças infecciosas emergentes das abelhas criadas comercialmente e as infecções entre abelhas silvestres. A abelha europeia (Apis mellifera), embora muito valorizada como prestadora de serviços ambientais, é uma espécie exótica na maior parte dos países em que é empregada como polinizadora e produtora de mel. Seu intenso manejo nos apiários, que inclui até mesmo o transporte rodoviário para distintos campos onde as floradas são exploradas comercialmente, leva ao estabelecimento e disseminação de doenças infecciosas, como ocorre com outros animais de produção sob o regime de criação intensiva. Estas doenças nada têm a ver com as plantas transgênicas, mas com a forma frequentemente super-intensiva e inadequada como as abelhas vêm sendo manejadas. Evidentemente, pode haver um aumento de predisposição às doenças, provocado por outros fatores, como a presença de inseticidas e outros pesticidas no campo, mas o pólen de plantas transgênicas não tem qualquer relação com isso.
A passagem destes agentes infecciosos emergentes para abelhas silvestres é uma questão muito grave. Com a palavra os autores do artigo “Disease associations between honeybees and bumblebees as a threat to wild pollinators”, Fürst, McMahon, Osborne, Paxton e Brown. O artigo foi publicado na Nature agora, no dia 20 de fevereiro de 2014 (doi:10.1038/nature12977). http://www.nature.com/nature/journal/v506/n7488/full/nature12977.html    

As doenças infecciosas emergentes (EIDs) representam um risco para o bem-estar humano, tanto direta1 como indiretamente, afetando animais de criação (gado, mas também abelhas e peixes) e os animais selvagens que fornecem recursos valiosos e serviços ecossistêmicos , como a polinização de culturas 2 . A abelha (Apis mellifera) é o inseto polinizador de colheita mais manejado do Mundo e sofre com as doenças provocadas por uma gama patógenos de alto impacto, emergentes e exóticos 3,4, tornando necessário um manejo pro-ativo das populações de abelhas pelos apicultores para controlar estas doenças. Polinizadores, como abelhas silvestres (Bombus spp.), estão em declínio global e uma das causas pode ser o spillover de patógenos dos polinizadores, como as abelhas em apiários 5,6 ou colônias comerciais de mangangavas, para as espécies silvestres. Neste artigo usamos uma combinação de experimentos de infecção em laboratório com dados colhidos em campo em escala de paisagem para mostrar que as doenças infecciosas emergentes de abelhas são responsáveis pela presença de facto de agentes infecciosos de forma generalizada entre o conjunto de polinizadores. A prevalência do vírus deformador da asa (DWV) e do parasita exótico Nosema ceranae em abelhas e zangões está ligada; como a DWV tem maior prevalência entre abelhas e as mangangavas e outras abelhas melíferas simpátricas estão infectados pelas mesmas cepas de DWV, Apis é a provável fonte pelo menos desta importante EID em polinizadores silvestres. As lições aprendidas com vertebrados 7,8 apontam para a necessidade de maior controle de patógenos em abelhas de apiários para a preservação dos polinizadores selvagens, uma vez que quedas nas populações de polinizadores nativos podem ser causadas por transmissão de patógenos provenientes de polinizadores manejados comercialmente.

1. Binder, S., Levitt, A. M., Sacks, J. J. & Hughes, J. M. Emerging infectious diseases: public health issues for the 21st century. Science 284, 1311–1313 (1999).
2. Oldroyd, B. P. Coevolution while you wait: Varroa jacobsoni, a new parasite of western honeybees. Trends Ecol. Evol. 14, 312–315 (1999).
3. Ratnieks, F. L. W. & Carreck, N. L. Clarity on honey bee collapse? Science 327, 152–153 (2010).
4. Vanbergen, A. J. & The Insect Pollinator Initiative. Threats to an ecosystemservice: pressures on pollinators. Front. Ecol. Environ 11, 251–259 (2013).
5. Evison, S. E. F. et al. Pervasiveness of parasites in pollinators. PLoS ONE 7, e30641(2012).
6. Genersch, E., Yue, C., Fries, I. & de Miranda, J. R. Detection of deformed wing virus, a honey bee viral pathogen, in bumble bees (Bombus terrestris and Bombus pascuorum) with wing deformities. J. Invertebr. Pathol. 91, 61–63 (2006).
7. Fisher, M. C. et al. Emerging fungal threats to animal, plant and ecosystem health. Nature 484, 186–194 (2012).
8. Krebs, J. et al. Bovine Tuberculosis in Cattle and Badgers (MAFF Publications, 1997).



Leituras associadas sugeridas pelo nosso blog

Alexander KA, Lewis BL, Marathe M, Eubank S, Blackburn JK.
Vector Borne Zoonotic Dis. 2012 Dec;12(12):1005-18. doi: 10.1089/vbz.2012.0987. Epub 2012 Nov 30
 Review.   Free PMC Article

Hayman DT, Bowen RA, Cryan PM, McCracken GF, O'Shea TJ, Peel AJ, Gilbert A, Webb CT, Wood JL.
Zoonoses Public Health. 2013 Feb;60(1):2-21. doi: 10.1111/zph.12000. Epub 2012 Sep 7.
Review.   Free PMC Article

Kojima Y, Toki T, Morimoto T, Yoshiyama M, Kimura K, Kadowaki T.
Microb Ecol. 2011 Nov;62(4):895-906. doi: 10.1007/s00248-011-9947-z. Epub 2011 Sep 30.

Fabiszewski AM, Umbanhowar J, Mitchell CE.
Ecol Appl. 2010 Mar;20(2):582-92.


4 comentários:

  1. Quem está te pagando, hein??????

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  2. Porque os zémanés que não têm argumentos técnicos sempre partemk para o ataque pessoal? Vai estudar, seu anônimo, tome vergonha na cara e respeite quem traz informações de qualidade ao público.

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  3. http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0167777


    para complementar a leitura...

    este é um assunto polemico. seus "argumentos técnicos" não são 100% confiaveis tbm.

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  4. Gustavo, não há argumentos técnicos 100% confiáveis: a confiabilidade dos dados depende da forma como foram obtidos e, sobretudo, de sua corroboração por outros autores. Assim, todos que trabalhamos em ciência procuramos nos basear em metodologias aceitas por um grande número de pesquisadores e ficamos mais seguros quando nossos dados são repetidos ou de alguma forma apoiados pelos resultados de outros pesquisadores.
    No caso dos transgênicos e das abelhas, não há qualquer artigo que mostre que o declínio de populações de Apis mellifera em algum lugar do Mundo tem correlação como alguma planta GM (provavelmente produtora de algum proteína inseticida), nem existe qualquer mecanismo proposto para este efeito letal. Ao contrário, há dezenas de artigo que mostram que as abelhas não são afetadas pelo consumo de pólen destas plantas, cujas proteínas inseticidas são voltadas a coleópteros ou lepidópteros.
    Se você for atrás dos artigos que afirmam haver efeitos negativos, verá que não têm evidências em experimentos nem em observações sistemáticas.
    Ao contrário, as populações de Apis aumentaram bastante nos países que mais usam transgênicos, inclusive o Brasil,e diminuíram nos que menos usam (os países europeus que proibiram o plantio destas variedades de planta).
    Já o artigo que você linkou não tem correlação com nossa discussão, ainda que seja um tema importante.
    Saudações

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