Enquanto os pseudo verdes terçam sabres contra os
transgênicos e seguem argumentando que as abelhas morrem por causa das plantas
GM, as ditas vão morrendo de doenças infecciosas emergentes e transmitindo seus
patógenos para importantes polinizadores silvestres. Estes muitas vezes já
estavam em risco de extinção e, se nada for feito, vão desaparecer. Com eles,
desaparecerão também muitas espécies de plantas que são polinizadas
exclusivamente por estes insetos na Natureza. E, na avalanche, desaparecerão
outros animais associados a estas plantas. Isso, sim, é um problema real com o qual
os ecologistas devem se preocupar de verdade.
O artigo recém-publicado na revista Nature mostra claramente a associação entre as doenças infecciosas
emergentes das abelhas criadas comercialmente e as infecções entre abelhas silvestres.
A abelha europeia (Apis mellifera),
embora muito valorizada como prestadora de serviços ambientais, é uma espécie exótica
na maior parte dos países em que é empregada como polinizadora e produtora de
mel. Seu intenso manejo nos apiários, que inclui até mesmo o transporte
rodoviário para distintos campos onde as floradas são exploradas
comercialmente, leva ao estabelecimento e disseminação de doenças infecciosas,
como ocorre com outros animais de produção sob o regime de criação intensiva.
Estas doenças nada têm a ver com as plantas transgênicas, mas com a forma frequentemente
super-intensiva e inadequada como as abelhas vêm sendo manejadas. Evidentemente,
pode haver um aumento de predisposição às doenças, provocado por outros
fatores, como a presença de inseticidas e outros pesticidas no campo, mas o pólen
de plantas transgênicas não tem qualquer relação com isso.
A passagem destes agentes infecciosos emergentes para
abelhas silvestres é uma questão muito grave. Com a palavra os autores do
artigo “Disease associations between honeybees and bumblebees as a threat to
wild pollinators”, Fürst, McMahon, Osborne, Paxton e Brown. O artigo foi
publicado na Nature agora, no dia 20 de fevereiro de 2014 (doi:10.1038/nature12977). http://www.nature.com/nature/journal/v506/n7488/full/nature12977.html
As doenças
infecciosas emergentes (EIDs) representam um risco para o bem-estar humano,
tanto direta1 como indiretamente, afetando animais de criação (gado,
mas também abelhas e peixes) e os animais selvagens que fornecem recursos
valiosos e serviços ecossistêmicos , como a polinização de culturas 2
. A abelha (Apis mellifera) é o inseto
polinizador de colheita mais manejado do Mundo e sofre com as doenças
provocadas por uma gama patógenos de alto impacto, emergentes e exóticos 3,4,
tornando necessário um manejo pro-ativo das populações de abelhas pelos
apicultores para controlar estas doenças. Polinizadores, como abelhas silvestres
(Bombus spp.), estão em declínio
global e uma das causas pode ser o spillover
de patógenos dos polinizadores, como as abelhas em apiários 5,6 ou
colônias comerciais de mangangavas, para as espécies silvestres. Neste artigo
usamos uma combinação de experimentos de infecção em laboratório com dados colhidos
em campo em escala de paisagem para mostrar que as doenças infecciosas
emergentes de abelhas são responsáveis pela presença de facto de agentes infecciosos de forma generalizada entre o
conjunto de polinizadores. A prevalência do vírus deformador da asa (DWV) e do
parasita exótico Nosema ceranae em abelhas
e zangões está ligada; como a DWV tem maior prevalência entre abelhas e as
mangangavas e outras abelhas melíferas simpátricas estão infectados pelas
mesmas cepas de DWV, Apis é a
provável fonte pelo menos desta importante EID em polinizadores silvestres. As
lições aprendidas com vertebrados 7,8 apontam para a necessidade de
maior controle de patógenos em abelhas de apiários para a preservação dos polinizadores
selvagens, uma vez que quedas nas populações de polinizadores nativos podem ser
causadas por transmissão de patógenos provenientes de polinizadores manejados
comercialmente.
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Leituras associadas sugeridas pelo nosso blog
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