Frequentemente lemos que umas poucas multinacionais dominam
o mercado mundial de sementes e que isso seria um imenso risco à soberania
alimentar dos povos. Mas será mesmo?
É preciso muita serenidade e certa clareza para entender a
questão das sementes vendidas por empresas, sejam elas multinacionais ou
pequenas companhias. Nada disso é novo e sementes são vendidas há mais de 50
anos. E sementes “livres”, aquelas fornecidas por órgãos de governo ou
propagadas livremente pelos agricultores? Estas sempre continuarão existindo.
Sabendo disso, podemos nos perguntar: em que setor atuam as
grandes empresas de sementes? No setor de commodities, ou seja, no setor de
grãos que vendem muito pelo mundo todo. As sementes dos demais produtos
agrícolas (frutas, legumes, verduras, grãos de menor expressão e outras
plantas) também são vendidas por uma infinidade de empresas (inclusive as
grandes), assim como podem ser obtidas de graça em muitos órgãos de governo ou
pelo menos propagadas de graça. Também podem ser trocadas nas feiras de sementes
da agricultura familiar. Finalmente, em muitos casos, os grãos podem ser
plantados como sementes.
Então, o que está sendo explorado (mas de forma alguma controlado
de verdade!) é o setor de commodities. Do mesmo jeito que celulares,
computadores, carros, etc. Da mesma forma, sempre existirão alternativas aos
produtores mais prestigiados... Além dos seis grandes há, como afirmamos acima,
agências de governo, pequenas empresas, sementes crioulas e sementes de paiol,
tudo acessível ou mesmo gratuito.
E, ao contrário dos carros e celulares, sementes e grãos
podem ser propagados sempre que os preços não forem convidativos. Se a Monsanto
e os outros grandes criam uma dependência do agricultor aos seus produtos (e
tecnologias embutidas neles), elas também dependem do agricultor: se o preço
for ruim ou a planta não emplacar, babau.
Se a gente olha com calma, não há a mais mínima diferença
entre o mercado de sementes e muitos outros onde há concentração de produtos
nas mãos de uns poucos e a qualidade do produto varia muito. Mas o Mundo não
vai morrer nem sofrer com isso, porque a lei da oferta e procura escraviza
igualmente produtores e consumidores, enquanto ela existir, independente de
qualquer regime e de qualquer ideologia.
PS. Por que alguém compraria uma semente se pode obter de
graça ou plantar seus próprios grãos? Os que combatem o mercado privado de
sementes evitam fazer esta pergunta e assim escondem uma parte importante da
discussão: a semente vendida só existe porque incorpora vantagens (e
tecnologia) que a gratuita não tem. Se o agricultor entra num mercado muito
competitivo (como o de grãos), terá que usar as melhores sementes e a melhor
tecnologia para alcançar a produtividade necessária. Se ele atua num setor
menos competitivo, pode usar uma semente de governo (boas variedades existem
para o pequeno agricultor), sementes crioulas ou ainda propagar seus grãos, com
as vantagens e riscos destes procedimentos. Em nenhuma destas sementes há tanta
tecnologia embutida quanto a que existe nas sementes de grandes empresas. É o
mesmo que comprar um Gol em vez de um Porsche ou construir seu próprio veículo
em vez de comprar de algum fabricante. E da mesma forma, o Gol tem seu mercado,
assim como o Porsche...
(esta postagem está baseada em um comentário que fiz ao site
Controversia: http://controversia.com.br/18859?utm_source=wysija&utm_medium=email&utm_campaign=Boletim+Controversia
)
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