A afirmação acima, feita talvez num momento pouco feliz pelo
Dr. António Coutinho, ex-diretor do Instituto Gulbenkian de Ciência e
presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, vem sendo divulgada
pela internet sem comentários de quem divulga (veja, por exemplo, a postagem no Agrolink). O Dr. Coutinho, por sua formação e
atuação em ciência, compreensivelmente qualifica todo o movimento
anti-transgênico como “irracional”. Mas não é assim: há uma legião de
simpatizantes do movimento que se alinha a ele pela percepção de risco, que é
moldada por um conjunto complexo de influências e informações. Não há
irracionalidade nisso, mas um tempo limitado de cada um para se aprofundar num
tema e a confiança que temos nos nossos pares.
Por exemplo, quem acredita num mundo agroecológico, sem as
novidades técnicas do agronegócio nem a concentração de propriedade de terras,
tende a se alinhar com o movimento anti-transgênicos. A pessoa tenderá a
acreditar no que dizem os seus pares, não nos cientistas, não importa a
quantidade de informação fidedigna que estes lhe possam aportar. Ela também não
tem tempo, nem vontade e, em geral, nem o conhecimento, para digerir as
informações científicas. O mesmo ocorre com alguém de outro grupo qualquer. Na
verdade, não temos uma opinião inteiramente nossa, mas refletimos, muito mais,
a opinião de nosso grupo. Fazemos isso porque somos parte de rebanhos, por mais
individualistas que sejamos.
Os que militam no movimento antitransgênicos provavelmente julgam
que o Dr. Coutinho, como todos os demais cientistas do main trend, seleciona as
informações científicas de forma a só ver o que quer e despreza a opinião dos
cientistas “independentes”. Esta ideia é repassada em seu grupo e comprada por
todos os simpatizantes, sem questionamento.
No fundo, não somos muito diferentes dos alfas, betas, gamas
e deltas do Admirável Mundo Novo: o Aldous Huxley apenas extrapolou num mundo
imaginário o que ocorre hoje, e ainda com mais força, num mundo onde as redes
sociais dão as cartas.
A conclusão: cada um seguirá dizendo aquilo que acredita e
desqualificando os demais, como sempre foi, desde que o homem aprendeu a falar
e talvez mesmo antes disso. Mesmo sem perceber que sua opinião é, de fato, a
opinião do grupo de carneiros ao qual pertence. Que grupo vai vencer a “batalha”
dos transgênicos? Provavelmente o da ciência, que vem amealhando vitórias faz
muitos séculos. Espero viver bastante para ver isso.
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