Este texto é a continuação de Princípio
da Precaução, herbicidas e plantas transgênicas, postado em 13 de maio de
2014.
Agrotóxicos
Comecemos a discussão pelos agrotóxicos, que sabidamente
podem ser prejudiciais à saúde e ao ambiente. Ora, se formos inteiramente
avessos ao risco, não devemos adotar o uso destes produtos na agricultura e em
nenhuma outra atividade. Mas tóxicas também são muitas outras substâncias que
fazem parte do nosso dia a dia e das quais não abrimos mão, ainda que possam
afetar nossa saúde e o ambiente: a gasolina, os sabões e outros saneantes, as
bebidas alcoólicas e um mundo de outros produtos. Também agridem o ambiente de
forma notável os produtos eletrônicos, os plásticos, as tintas, etc., etc. Mas
nada disso tem seu uso proibido e, sim, regulado,
inclusive os agrotóxicos. O que faz o legislador? Determina que órgãos e
agências reguladoras disciplinem e fiscalizem o uso destes produtos e obrigam os
seus produtores e por vezes os vendedores a produzir documentos explicativos
com regras de uso detalhadas e a explicar isso aos compradores. Assim são
reduzidos os riscos e minimizados os danos a um nível compatível com os benefícios que o produto e a tecnologia associada
trazem ao usuário ou ao país. Quando há desvios no uso e isso redunda em
prejuízo, o usuário é punido.
Os
agrotóxicos: riscos reais e incertezas
Examinando em maior detalhe a
questão dos agrotóxicos, é fácil ver que são fortemente regulados no país: nada
é produzido sem fiscalização, vendido sem registro ou empregado sem controle.
Estão em jogo a necessidade do usuário (o agricultor) e o respeito e a proteção
à saúde e ao ambiente. O risco é real, bem conhecido, e sua gestão é complexa,
mas dominada em todos os níveis, desde a produção, até o descarte, passando
pelos resíduos nos alimentos e no ambiente. Uma vez seguidas as recomendações
do fabricante e a conduta agrícola adequada, os danos serão aceitáveis, frente
aos benefícios que o agrotóxico traz ao agricultor. Além disso, antes de sua liberação
comercial, uma longa e detalhada avaliação de risco é levada a cabo pela
ANVISA, que pode e deve ser refeita sempre que novos dados confiáveis impliquem
em riscos não previamente avaliados ou em novos níveis de risco. Aqui não há,
portanto, diferença alguma em relação a muitos outros produtos que empregamos
diariamente. Onde, então, estão as incertezas que permitiriam a aplicação do
“princípio da precaução” aos agrotóxicos? Com o enorme volume de informação que
existe sobre estes produtos (sobretudo os que já estão por mais de 20 anos no
mercado), não restam quase incertezas.
No outro extremo estaria a
certeza de danos importantes, mas a fiscalização de resíduos, descartes e
outros elementos da cadeia de uso dos agrotóxicos e o acompanhamento de
registros de intoxicações mostram que os danos mais graves não têm origem no
uso preconizado, mas em falhas e que, de toda forma, são compatíveis com a
tecnologia. Há, sim, danos associados ao uso correto, que incluem certa perda
de biodiversidade agrícola. Os danos, contudo, são reversíveis e considerados
dentro da faixa de danos que é compatível com os benefícios econômicos e mesmo
ecológicos resultantes do uso da tecnologia.
Na primeira conclusão desta história,
podemos dizer que a maior parte dos agrotóxicos em uso não tem razão de ser
proibida e retirada do mercado, como também para os saneantes, lubrificantes,
embalagens plásticas, etc.: nem o “princípio da precaução” se aplica neste
caso, nem uma situação extrema de danos é real. O que é preciso, e de fato
existe, é um controle rígido (http://www.agricultura.gov.br/vegetal/agrotoxicos).
Numa próxima postagem comentaremos
a relação entre o Princípio da Precaução e os transgênicos
O primeiro ministro Dmitry Medvedev disse que o país tem espaço e recursos suficientes para produzir comida orgânica
ResponderExcluir“Se os americanos gostam de comer produtos transgênicos, que fiquem à vontade. Nós não precisamos disso, temos espaço e recursos suficientes para produzir alimentos orgânicos”, disse o primeiro ministro ministro.
Enquanto isso os transgênicos continuam se alastrando por aqui.
Em breve não teremos para quem vender.
Caro Anônimo, seu comentário nada tem a ver com a aplicação do Princípio da Precaução aos herbicidas. Quanto a não ter a quem vender, deixemos isso aos especialistas em comércio internacional.
ResponderExcluirNão importa se um agrotóxico faz mais mal do que o outro. Oque importa de fato é que eles fazem mal a saúde humana e ao meio ambiente, assim sendo vamos apoiar e consumir a produção de produtos agroecológicos.
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