Hoje, véspera da votação na CTNBio da liberação comercial de
uma linhagem transgênica de Aedes aegypti
da empresa inglesa Oxitec, a AS-PTA e outros parceiros lançaram uma Nota à
imprensa, onde especulam que haveria riscos não corretamente avaliados e erros
graves nos procedimentos de liberação pela CTNBio.
Vale a pena uma leitura atenta
do texto, à luz da ciência e da avaliação de risco.
Os autores do texto afirmam que
os estudos foram feitos “sem que a
população tenha sido devidamente consultada, sem a realização de avaliação de
risco e sem a existência de dados conclusivos dos estudos de campo nem de um plano
de monitoramento”. A verdade é bem
outra:
a)
Todos os estudos foram feitos com inteiro
conhecimento das populações residentes nos bairros envolvidos (em Juazeiro, na
Bahia), que participaram de dezenas de reuniões com a responsável técnica, Dr.
Margareth Capurro, da USP. Além disso, o projeto tinha o nome bem claro de PAT
– Projeto Aedes Transgênico. Por fim, a população deu enorme apoio ao projeto.
b)
A avaliação de risco, com base no extenso
documento enviado pela proponente e numa longa lista de trabalhos publicados
sobre o assunto, foi realizada nas duas sub-setoriais na CTNBio, os pareceres
discutidos e votados e todas as dúvidas foram esclarecidas neste processo. Os
riscos foram considerados mínimos ou negligenciáveis. Esta avaliação foi
realizada durante quase seis meses, envolvendo pesquisadores e docentes de quatro
universidades ou centros de pesquisa do Brasil, com discussão de todos os
membros da CTNBio.
c)
Os estudos de campo (oriundos da liberação
planejada em Juazeiro da Bahia) foram concluídos ainda em 2013 e seus
resultados incorporados ao processo de liberação comercial, ainda que o
relatório final só tenha sido recentemente encaminhado pela USP à CTNBio. Não
existe nada neste relatório que contradiga as conclusões dos avaliadores de
risco.
d)
Dentro do corpo do processo de liberação
comercial encaminhado pela Oxitec já está a proposta de plano de monitoramento,
detalhada.
As entidades signatárias também ressaltam
em sua nota à imprensa, “que as
consequências para a saúde e para o meio ambiente ainda são pouco conhecidas e
precisam ser melhor estudadas”. Nada
pode ser mais inverídico: o impacto da liberação de machos d, que não picam
os serem humanos e que morrem após poucos dias, é completamente compreendido e
considerado nulo. Esta foi a principal preocupação da avaliação de risco na
CTNBio, naturalmente. A impossibilidade de multiplicação do inseto GM no
ambiente foi amplamente demonstrada, seu cruzamento com outras espécies de
mosquito é essencialmente impossível e seu impacto direto em predadores também foi
avaliado e mostrado ser nulo.
A argumentação de que a
eliminação do A. aegypti irá levar à
invasão dos ecótopos e ecótonos por A.
albopictus, outro vetor de doenças humanas, inclusive a dengue, é
desprovida de base científica e foi
largamente discutida na CTNBio. Além disso, pelo argumento da AS-PTA e seus
parceiros, nunca se poderá eliminar o A.
aegypti, porque o A. albopictus
irá fatalmente entrar nas áreas liberadas, tornado qualquer tentativa de controle da Dengue impossível. Usar este argumento
para bloquear o controle vetorial é condenar os brasileiros a enfrentar as
epidemias de dengue para sempre.
Quanto á picadas de fêmeas
transgênicas, é apenas fantasia, uma vez que apenas machos são normalmente
liberados ou, na pior das hipóteses, menos de 0,1% de fêmeas entre estes
machos. De toda forma, o estudo da alergenicidade das proteínas recombinantes
expressas no mosquito foi realizado, sem resultados sugestivos de potencial
alergênico. Por fim, a expressão dos transgenes na glândula salivar é
essencialmente nula!
Ainda sobre as argumentações da
AS-PTA, a questão da presença de tetraciclina no ambiente foi extensamente
estudada pela CTNBio, não se vislumbrando a possibilidade concreta de presença
de tetraciclina em criadouros em concentrações acima do limite para resgatar a
sobrevida da linhagem GM. Portanto, é apenas uma especulação vaga da AS-PTA,
sem qualquer base na realidade.
Em resumo, todas as preocupações
ciosamente trazidas pela AS-PTA e seus parceiros já haviam sido cuidadosamente avaliadas
pela CTNBio, concluído a comissão acertadamente que os riscos apresentados pela
liberação destes mosquitos são muito pequenos ou negligenciáveis.
Se a Inglaterra apoia ou não
este produto como item de pauta de exportação, isso é inteiramente irrelevante.
Também é irrelevante se a liberação dos mosquitos transgênicos irá efetivamente
controlar as populações nativas, pois a CTNBio não trata da eficiência da
tecnologia, e sim do impacto do OGM no ambiente ou diretamente na saúde. Na
verdade, nenhuma tecnologia, isoladamente, poderá controlar adequadamente as
populações de Aedes aegypti e o
controle será sempre parcial, como tem sido até hoje, com raras exceções.
A atitude alarmista, trazendo informações falsas ou incompletas ao
público, é condenável e não deveria fazer parte da estratégia de lutas de
nenhuma instituição séria.
A CTNBio arpovou hoje, 10 de abril de 2014, a liberação comercial desta variedade de mosquito. Veja detalhes em http://genpeace.blogspot.com.br/2014/04/mosquito-transgenico-para-controle-da.html
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