Luiz Antonio Barreto de Castro*
Acompanho a
Biotecnologia desde a primeira experiência bem sucedida de Herbert Boyer, que
expressou o gene de insulina em Escherichia
coli. Isto aconteceu na California em 1973 há quarenta e dois anos atrás, portanto. A minha experiência em ciência data de 1962, quando conclui meu curso
de Agronomia na Universidade Rural do Rio de Janeiro. Portanto mais de meio
século. Nestes mais de cinquenta anos a agricultura utilizou, a partir da Segunda Guerra Mundial, com o advento do DDT centenas de milhares de toneladas de
agrotóxicos clorados, matou milhares de pessoas e não conseguiu controlar as
pragas que ainda assolam nossas lavouras. Curiosamente os que invadiram a
FuturaGene e a CTNBIO nunca reagiram. Estão conformados com este contexto, como
se o envenenamento por agrotóxico fosse aceitável, inevitável, quase desejável.
Mais de setenta anos de envenenamento por agrotóxicos não provocam nestas
pessoas nenhuma reação. Se quiserem números visitem o SINITOX da FIOCRUZ. Em
2011 houve 5072 casos de intoxicações por agrotóxicos de uso agrícola no País e
2298 tentativas de suicídio pela ingestão destes produtos. Se considerarmos os agrotóxicos de um modo geral,
não só os de uso agrícola, mas também os de uso doméstico, produtos
veterinários e raticidas, o numero de intoxicações se eleva para 11.196 e as tentativas
de suicídio chegam a 4591. Centenas de pessoas morrem todos os anos, grande parte por suicídio, sem que ninguém, repito, ninguém meta um pé na porta para coibir esta desgraça. Na minha historia
profissional assisti a defesa da energia nuclear como se fosse uma excelente
tecnologia para a agricultura embora esta tecnologia não tenha produzido nenhum
resultado relevante. Até hoje só vi um tecnologia ser proibida por um Juiz
incompetente: a engenharia genética, por sete anos. Há que se perguntar o que
motiva os terroristas do MST a invadir campos experimentais e impedir a ciência
de mostrar seus resultados, apontando caminhos, favoráveis ou não. Quais são as
vitimas da engenharia genética? Quantos morreram? Porque lavouras de feijão
resistentes a mosaico dourado, que protegem os pequenos produtores e tiram os
agrotóxicos de suas mãos, demoraram tanto para serem aprovadas na CTNBio? Porque
plantas que reduzem o uso de inseticidas não são adotadas mais depressa na
CTNBIO? Enquanto isto, lamento ter que dizer que o Brasil lidera o comercio
internacional de agrotóxicos. Quando me formei ele estava em oitavo lugar.
Lamento também ter que dizer que os que coíbem a Biotecnologia fortalecem o uso
de agrotóxicos no Brasil. Ganhamos a liderança no exercício de uma tecnologia
que mata todos os dias e não reduz pragas e doenças. Um caminho que custa
bilhões aos produtores e sucumbe a cada nova lagarta que aparece. Leio a
revista Science há mais de quarenta anos. Devo admitir que os agrotóxicos hoje
são melhores do que no passado, mas continuam tóxicos. Continuam os suicídios. É
uma tecnologia ultrapassada, como será a engenharia genética em uma década. O
Brasil investe 20 bilhões de dólares em C&T, os Estados Unidos investem 400
bilhões de dólares, números da Science. Pode se argumentar que o PIB americano
é muito maior do que o brasileiro. É mesmo, oito vezes maior. Não é vinte vezes
maior. Portanto falta dinheiro para a ciência brasileira. Dinheiro que o MST
rasgou. Mais de uma década de investimento. Este fato não é singular. Outras
corporações foram invadidas porque investiram em engenharia genética . Quais
foram a consequências? Nenhuma. Alguém foi preso? Ninguém. Alguém será preso
desta vez? Ninguém. Ser terrorista no Brasil é uma profissão de grande sucesso.
Um torcedor de futebol que transgrida a lei recebe uma punição maior do que um
terrorista do MST. Concluo que futebol é prioridade maior no Brasil do que
ciência, como afirmei no meu livro: Historia da Ciência que eu Vivi. Ganhe dinheiro para ser vândalo com garantia
de que não será preso. O MST está acima
do bem e do mal. Apesar de tudo a agricultura brasileira produziu 200 milhões
de toneladas de grãos nesta safra e o Brasil é o segundo maior
produtor de plantas geneticamente modificadas no mundo. Fica somente atrás dos
Estados Unidos. Imaginem se o vandalismo fosse coibido.
*Presidente da Sociedade
Brasileira de Biotecnologia
[GenPeace] Ainda que a gente possa compreender que as invasões fazem parte de um ativismo mais agressivo e que podem, em muitos casos, ser justificadas, e ainda que se possa de forma geral simpatizar e até apoiar um movimento que luta por uma distribuição mais justa de terras, isso não valida automaticamente qualquer ação das entidades que levam esta bandeira. No caso específico do MST e sua oposição aos transgênicos, o que se vê é uma extrapolação grave de sua missão original, que era lutar pela melhor distribuição de terras. Ser contra os transgênicos sem ser contra absolutamente todo o agronegócio é absurdo e vender a luta contra os transgênicos como se fosse a mais refinada forma de luta contra o modelo do agronegócio é vender uma farsa. Aqui o Movimento abraça a questão do capital estrangeiro, sem pensar que os beneficiados pela tecnologia somos todos nós. É inútil adentrar nesta discussão, porque o viés ideológico é potente e dispersa qualquer tentativa de ser razoável.
Quanto à questão dos agrotóxicos, concordo que o problema é grave e lembro que o MST abraça a luta contra os agrotóxicos, ainda que esta causa seja relativamente recente (ao menos na intensidade atual).
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