Posição da Embrapa sobre o feijão geneticamente modificado para resistência ao mosaico dourado do feijoeiro, em processo de avaliação pela CTNBio
Em maio/2011.
O mosaico dourado do feijoeiro é uma doença que causa amarelecimento das folhas, nanismo, deformação das vagens e grãos e abortamento das flores. As perdas de produção de grãos podem variar de 40 a 100%, dependendo da incidência, da época de plantio e da cultivar utilizada. Essa doença, causada por um geminivírus transmitido pela mosca branca, foi identificada nos anos 60 no Estado de São Paulo e disseminou-se por quase todas as regiões produtoras de feijão do país, principalmente aquelas de clima tropical.
O principal método de controle da mosca branca é a aplicação de agrotóxicos. Mais de vinte princípios ativos estão registrados para o seu controle na cultura do feijão, entretanto, poucos deles têm-se mostrado eficientes.
A busca por cultivares resistentes ao mosaico dourado foi iniciada na década de 70, tendo sido encontrados apenas baixos níveis de tolerância à doença. Não existe cultivar com nível adequado de resistência ao mosaico dourado em utilização no Brasil, e também não foi observada imunidade à doença no gênero Phaseolus. Devido à dificuldade em se obterem plantas imunes a essa doença através dos métodos de melhoramento convencionais, a Embrapa utilizou a engenharia genética para desenvolver o feijão Embrapa 5.1, altamente resistente ao vírus do mosaico dourado do feijoeiro. Essa linhagem foi obtida a partir da estratégia de RNA interferente (RNAi), que consiste na inserção de transgenes derivados do vírus no seu genoma nuclear com o objetivo de gerar uma molécula de fita dupla de RNA que interfere no ciclo do vírus nas células do feijoeiro, silenciando o gene viral rep. Como consequência da falta de expressão do gene rep, a replicação viral é comprometida e as plantas tornam-se resistentes ao vírus. O evento Embrapa 5.1 é a base para o desenvolvimento de variedades comerciais de feijoeiro de diversos grupos utilizados para cultivo no Brasil.
As avaliações de biossegurança do feijão Embrapa 5.1 foram realizadas de acordo com as recomendações da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).
As análises genéticas e moleculares mostraram que os transgenes foram inseridos em um único locus do genoma nuclear e se mantiveram estáveis por várias gerações de autofecundação e após cruzamentos com variedades comerciais não geneticamente modificadas (não-GM). A caracterização agronômica do feijoeiro Embrapa 5.1 não mostrou qualquer alteração fenotípica quando comparado com o feijoeiro parental não-GM. Os experimentos foram realizados em campos cultivados em Goiás, Minas Gerais e Paraná e os resultados mostraram que as plantas do feijoeiro Embrapa 5.1 não causaram qualquer impacto diferente ao meio ambiente, quando comparadas com as plantas de feijoeiro não-GM.
A segurança ambiental do cultivo do feijoeiro Embrapa 5.1 foi demonstrada também através do estudo de possíveis efeitos sobre os diversos organismos que interagem com a planta em condições de campo. Não foram observados efeitos diferentes sobre populações de artrópodes associados ao feijoeiro Embrapa 5.1 e ao feijoeiro não-GM, tanto na parte aérea como na superfície do solo. Foram realizadas ainda análises quantitativas e qualitativas da macro e mesofauna, sem que quaisquer alterações significativas tenham sido observadas. Adicionalmente, foram feitos estudos do impacto sobre rizóbio e fixação biológica de nitrogênio, sobre outras bactérias do solo e fungos micorrízicos. Os resultados indicaram que o feijoeiro Embrapa 5.1 não tem impacto diferente do feijoeiro não-GM sobre as comunidades de micro-organismos associados à cultura, em condições brasileiras.
A segurança alimentar do feijão Embrapa 5.1 foi demonstrada por vários estudos que confirmaram ser a sua composição substancialmente equivalente ao feijão não-GM parental. Extensa análise de composição foi realizada em grãos colhidos de campos cultivados em três regiões do Brasil, como mencionado acima. Os grãos foram submetidos à análise para determinação de teores de açúcares, vitaminas, minerais, aminoácidos, proteína total, extrato etéreo, ácido fítico e inibidores de tripsina. Os resultados mostraram que o feijoeiro Embrapa 5.1 é nutricionalmente semelhante aos feijoeiros não-GM cultivados no país. Também foram realizados estudos de alimentação de animais com o feijão Embrapa 5.1, os quais não mostraram alterações em relação aos animais que foram alimentados com o feijoeiro parental não-GM.
De acordo com dados sobre essa cultura, pelo menos duzentos mil hectares estão atualmente inviabilizados para o cultivo do feijoeiro na safra “da seca”, nas Regiões Sudeste, Centro-Oeste, e Sul (Norte do Paraná) devido à ocorrência do mosaico dourado. As perdas anuais no Brasil são entre 90 e 280 mil toneladas de grãos, quantidade que seria suficiente para alimentar entre 6 e 20 milhões de brasileiros adultos.
O feijoeiro Embrapa 5.1 é uma ferramenta tecnológica que poderá beneficiar pequenos e grandes produtores de feijão. Além disso, com este evento, a Embrapa demonstrou que a pesquisa pública no Brasil tem a capacidade de desenvolver plantas transgênicas e realizar todos os testes de biossegurança necessários.
(espera-se um reforço desta posição para breve - o administrador do blog)
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