quinta-feira, 18 de abril de 2013

Rota ao dano pelo RNA de interferência no feijão transgênico da Embrapa

A avaliação de risco tem, como ferramento fundamental na definição dos riscos reais, o estabelecimento de uma rota ao dano. Ela inclui hipóteses que devem ser cumpridas para que um perigo se materialize num dano e o risco pode ser inferido da probabilidade final de que a rota se concretize e da magnitude do efeito esperado.

A figura abaixo sintetiza a rota ao dano para o perigo hipotético de que o dsRNA do feijão transgênico Embrapa 5.1 se concretize em dano, com as possibilidades para cada passo na rota. A conclusão é de que É REMOTÍSSIMA a probabilidade de ocorrência de qualquer dano às células do corpo humano, muito menos ao tecido, ao órgão ou ao organismo.




Passos da rota ao dano para a hipótese geral de que os dsRNA do feijão Embrapa 5.1 possam interferir negativamente na saúde humana. No primeiro passo é preciso que se demonstre que os dsRNA estão presentes no grão. As evidências são positivas, portanto a resposta a esta hipótese é sim e a probabilidade é 100%. Já no segundo passo a hipótese será contrariada, uma vez que não foi possível detectar o dsRNA em grão cozido, mesmo com sensibilidade elevada do ensaio. Neste caso, todos os demais passos não serão atingidos. Se, como exercício, atribuirmos uma pequena probabilidade de que quantidades significativas de dsRNA possam estar presentes no feijão cozido (P2 muito pequena), a probabilidade de um dsRNA estranho ao organismo humano não ser degradado no intestino, ganhar a circulação, penetrar numa célula e não ser degradado pelas RNases celulares é muito remota (P3 insignificante). Se, apesar da pequena probabilidade, o dsRNA específico do feijão Embrapa 5.1 permanecesse na célula, sua similaridade reduzida com qualquer gene humano reduziria a praticamente zero a possibilidade de interferência com o metabolismo humano (P4~0). Assim, o último passo não seria atingido (probabilidade final igual ao produto das probabilidades de cada passo), não havendo sequer necessidade de provar isso com ensaios em animais experimentais. Ainda assim, a Embrapa conduziu estes ensaios, não sendo observada qualquer anormalidade nos animais alimentados com o feijão GM.

2 comentários:

  1. Meu caro Paulo:

    Essa sua análise é pedagógica e percuciente. Deveria ser usada para instruir jornalistas.

    Abraço
    Walter Colli

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    1. Prezado Dr. Colli, obrigado pelas palavras de estímulo. Lamentavelmente nossos jornalistas científicos têm pouca percepção da importância da abordagem pedagógica e dão muito mais ênfase a detalhes e palavras de efeito do que ao conteúdo. Aqui, como na França, a coisa vai mal. Sugiro a leitura do último post do GenPeace, Les rats ratés du Nouvel Obs(http://genpeace.blogspot.com.br/2013/04/les-rats-rates-du-nouvel-obs.html).
      Atenciosamente,
      Paulo Andrade

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