Sinceramente achei que o PlosONE não ia
publicar a algaravia científica de Mesnage e cols., recém saída do prelo. Tudo
indicava que havia erro prá todo lado. Mas até uma revista séria precisa
turbinar seu “citation index” e esta farsa científica será certamente muito
citada, ainda que seja para dizer que não presta. Ponto para a PlosONE, ainda
que obtido de forma quase fraudulenta.
Comentários gerais sobre o artigo
Este novo artigo do grupo do Séralini é mais um imbroglio
típico destes autores: eles constatam o óbvio (há resíduo de pesticidas nas
rações), mas usam uma metodologia muito particular para determinar que valores
serão considerados no estudo e concluem (usando outra metodologia sem referendo
de uso) o que é IMPOSSÍVEL concluir: que
estes resíduos estariam falseando os resultados de tudo que vem sendo publicado
em câncer experimental com animais!!!
Além disso, eles juntam alhos com bugalhos: os resíduos
(quase todos de inseticidas) com plantas transgênicas (que reduzem o uso
destes mesmos pesticidas químicos). Somente o glifosato tem relação com as
plantas GM, mas mesmo assim a dose que ele toma como referência é completamente
absurda e escolhida a dedo de um único estudo: 3400 X mais que o limite
aceitável na alimentação humana.
Para simplificar o comentário: um artigo mal escrito
publicado numa revista que, cada vez mais, vai deixando os cientistas
preocupados com sua credibilidade.
O artigo está aqui: http://www.plosone.org/article/fetchObject.action?uri=info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0128429&representation=PDF
e a crítica inicial está aqui: http://www.geneticliteracyproject.org/2015/07/02/scientists-react-to-homeopathy-funded-seralini-study-claiming-all-gmo-tests-contaminated/
Observações pontuais (mas importantíssimas), que desmascaram a relação
entre a presença de tudo que é pesticida em rações animais e as plantas
transgênicas.
a) Já no resumo os autores afirmam que o principal pesticida
encontrado foi o glifosato, em concentrações de até 370 ppb. Mas a maior parte
dos resíduos era de inseticidas químicos! Basta ler o que dizem: dos 9
pesticidas, só dois eram herbicidas – glifosato ou AMPA+glifosato.
Na verdade os autores escreveram o resumo como uma peça
jornalística, sabedores de que 99% dos leitores só vão ler aquelas poucas
linhas do artigo.
Além disso, o glifosato só foi detectado (claro!) em rações
formuladas com soja GM: os níveis variaram de 130 a 310 ppb nos lotes
examinados. O valor de 370 ppb é a soma de glifosato e AMPA. Isso é muito ou
está dentro do tolerado? Vejamos abaixo.
b) Os limites máximos de resíduos de praguicida por cultura
no Brasil estão estabelecidos em normativa do MAPA (http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/CRC/IN18%20de%202013.pdf)
e seguem essencialmente o que é adotado no Mundo. No caso do glifosato a
concentração máxima varia de 0,1 até 10 ppm, o que seria equivalente a
100 – 10.000 partes por bilhão. Se uma ração levasse muita soja
transgênica tolerante a herbicida (suponhamos 50%) com o máximo de resíduos
permitido por lei (10.000 ppb), ela poderia ter até 7.000 partes por
bilhão de glifosato e ainda seria considerada segura pela nossa
legislação e pela da maioria dos países. Mesmo aqueles países que só autorizam
1/10 do que permitimos na soja ainda aceitariam grãos com 1.000 parte por
bilhão de glifosato.
Então, para a legislação brasileira as poucas marcas (e
lotes) examinados neste artigo continham glifosato numa concentração 30
vezes inferior ao limite máximo tolerado no grão (de soja).
Em tempo: os autores encontraram mais glifosato na ração
examinada no Brasil e deduzem que usamos mais. Até pode ser, porque nosso clima
favorece muito mais as ervas daninhas do que os climas temperados, que geraram
a soja das outras amostras. Mas ainda assim os resíduos estão muito
abaixo do máximo permitido, que é muuuuuito abaixo do nível
reconhecidamente danoso aos mamíferos.
c) O que os autores chamam impropriamente de “toxinas Bt
mutadas” e que eles imputam uma enorme importância, nem aparece nas dosagens...
claro, é uma proteína que se desnatura na preparação das rações, como qualquer
proteína...
d) Não há mesmo correlação entre pesticidas totais e plantas
transgênicas, somente esta ligação pontual com o glifosato e os autores assim o
afirmam e reconhecem: “There is no other correlation between GMO content and
total pesticide residues” (pág, 11).
Esta curta dissecção mostra que o artigo falseia suas
conclusões(e seu resumo!) e tenta botar os OGMs como bode expiatório, quando a maior parte dos
resíduos é de inseticidas, que tiveram seu uso DIMINUÍDO pelos transgênicos.
Mesmo para o glifosato, as doses mais altas encontradas ainda estão MUITO
ABAIXO do limite máximo tolerado pelos países e, seguramente, várias
ordens de grandeza abaixo do limite que reconhecidamente causa danos
aos mamíferos.
O artigo é, portanto, mais uma fantasia deste grupo irresponsável de
cientistas, que se mantém ativo chupitando dos recursos das indústrias de
homeopatia e das grandes redes de venda de produtos “livres de OGMs”. Esta
turma não precisa de apoio de recursos federais franceses, nem pede apoio dos
órgãos internacionais (FAO, etc,) e ainda se diz (e é vendida como)
independente... ôxe!
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