segunda-feira, 6 de julho de 2015

Dissecando o novo artigo do grupo de Séralini: pesticidas, glifosato, plantas transgênicas e ... muita insensatez



Sinceramente achei que o PlosONE  não ia publicar a algaravia científica de Mesnage e cols., recém saída do prelo. Tudo indicava que havia erro prá todo lado. Mas até uma revista séria precisa turbinar seu “citation index” e esta farsa científica será certamente muito citada, ainda que seja para dizer que não presta. Ponto para a PlosONE, ainda que obtido de forma quase fraudulenta.

Comentários gerais sobre o artigo

Este novo artigo do grupo do Séralini é mais um imbroglio típico destes autores: eles constatam o óbvio (há resíduo de pesticidas nas rações), mas usam uma metodologia muito particular para determinar que valores serão considerados no estudo e concluem (usando outra metodologia sem referendo de uso) o que é IMPOSSÍVEL  concluir: que estes resíduos estariam falseando os resultados de tudo que vem sendo publicado em câncer experimental com animais!!!

Além disso, eles juntam alhos com bugalhos: os resíduos (quase todos de inseticidas) com plantas transgênicas (que reduzem o uso destes mesmos pesticidas químicos). Somente o glifosato tem relação com as plantas GM, mas mesmo assim a dose que ele toma como referência é completamente absurda e escolhida a dedo de um único estudo: 3400 X mais que o limite aceitável na alimentação humana.

Para simplificar o comentário: um artigo mal escrito publicado numa revista que, cada vez mais, vai deixando os cientistas preocupados com sua credibilidade.




Observações pontuais (mas importantíssimas), que desmascaram a relação entre a presença de tudo que é pesticida em rações animais e as plantas transgênicas.

a) Já no resumo os autores afirmam que o principal pesticida encontrado foi o glifosato, em concentrações de até 370 ppb. Mas a maior parte dos resíduos era de inseticidas químicos! Basta ler o que dizem: dos 9 pesticidas, só dois eram herbicidas – glifosato ou AMPA+glifosato.
Na verdade os autores escreveram o resumo como uma peça jornalística, sabedores de que 99% dos leitores só vão ler aquelas poucas linhas do artigo.
Além disso, o glifosato só foi detectado (claro!) em rações formuladas com soja GM: os níveis variaram de 130 a 310 ppb nos lotes examinados. O valor de 370 ppb é a soma de glifosato e AMPA. Isso é muito ou está dentro do tolerado? Vejamos abaixo.

b) Os limites máximos de resíduos de praguicida por cultura no Brasil estão estabelecidos em normativa do MAPA (http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/CRC/IN18%20de%202013.pdf) e seguem essencialmente o que é adotado no Mundo. No caso do glifosato a concentração máxima varia de 0,1 até 10 ppm, o que seria equivalente a 100 – 10.000 partes por bilhão. Se uma ração levasse muita soja transgênica tolerante a herbicida (suponhamos 50%) com o máximo de resíduos permitido por lei (10.000 ppb), ela poderia ter até 7.000 partes por bilhão de glifosato e ainda seria considerada segura pela nossa legislação e pela da maioria dos países. Mesmo aqueles países que só autorizam 1/10 do que permitimos na soja ainda aceitariam grãos com 1.000 parte por bilhão de glifosato.

Então, para a legislação brasileira as poucas marcas (e lotes) examinados neste artigo continham glifosato numa concentração 30 vezes inferior ao limite máximo tolerado no grão (de soja).

Em tempo: os autores encontraram mais glifosato na ração examinada no Brasil e deduzem que usamos mais. Até pode ser, porque nosso clima favorece muito mais as ervas daninhas do que os climas temperados, que geraram a soja das outras amostras. Mas ainda assim os resíduos estão muito abaixo do máximo permitido, que é muuuuuito abaixo do nível reconhecidamente danoso aos mamíferos.

c) O que os autores chamam impropriamente de “toxinas Bt mutadas” e que eles imputam uma enorme importância, nem aparece nas dosagens... claro, é uma proteína que se desnatura na preparação das rações, como qualquer proteína...

d) Não há mesmo correlação entre pesticidas totais e plantas transgênicas, somente esta ligação pontual com o glifosato e os autores assim o afirmam e reconhecem: “There is no other correlation between GMO content and total pesticide residues”  (pág, 11).

Esta curta dissecção mostra que o artigo falseia suas conclusões(e seu resumo!) e tenta botar os OGMs como bode expiatório, quando a maior parte dos resíduos é de inseticidas, que tiveram seu uso DIMINUÍDO pelos transgênicos. Mesmo para o glifosato, as doses mais altas encontradas ainda estão MUITO ABAIXO do limite máximo tolerado pelos países e, seguramente, várias ordens de grandeza abaixo do limite que reconhecidamente causa danos aos mamíferos.


O artigo é, portanto, mais uma fantasia deste grupo irresponsável de cientistas, que se mantém ativo chupitando dos recursos das indústrias de homeopatia e das grandes redes de venda de produtos “livres de OGMs”. Esta turma não precisa de apoio de recursos federais franceses, nem pede apoio dos órgãos internacionais (FAO, etc,) e ainda se diz (e é vendida como) independente... ôxe!

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