Foi aceito hoje (23 de junho de 2014) para publicação na
revista ENVIRONMENTAL HEALTH PERSPECTIVES um interessante artigo intitulado
“Neurodevelopmental Disorders and Prenatal Residential Proximity to
Agricultural Pesticides: The CHARGE Study”. Nele os autores (todos da
Universidade da Califórnia) avaliam a associação entre ASD (um conjunto de
doenças associadas ao autismo), o retardo de desenvolvimento (DD) e a
proximidade da residência a locais de aplicação de inseticidas agrícolas. O
artigo pode ser lido na autismo em http://ehp.niehs.nih.gov/wp-content/uploads/advpub/2014/6/ehp.1307044.pdf.
O estudo foi conduzido na Califórnia dentro de rigorosos
princípios estatísticos, epidemiológicos e clínicos e confirma as sugestões de
autores anteriores sobre um aumento de risco de certos distúrbios neurológicos
e a exposição in útero a inseticidas (especialmente organofosforados,
piretróides e carbamatos). Os autores
concluem:
Crianças
de mães que vivem próximo a áreas agrícolas ou que são expostas de outra forma
a pesticidas organofosforados, piretroides ou carbamatos durante a gestação
podem estar expostas a um risco aumentado de distúrbios de
neurodesenvolvimento.
Esta é uma informação da maior importância para o regulador,
pois, se confirmada, pode levar a restrições importantes de uso destes
inseticidas e a ações preventivas durante a gravidez e a primeira infância.
Muito bem: e o que isso tem a ver com os transgênicos?
Podemos dividir as plantas transgênicas atuais em dois grupos: as tolerantes a
herbicidas e as resistentes a insetos. No primeiro caso, um pesticida é
aplicado no controle das ervas daninhas. Como o artigo acima fala de
pesticidas, é muito provável que logo apareçam comentários na internet
afirmando que o artigo mostra uma relação entre autismo e transgenia. Só que os
pesticidas estudados nesta avaliação de risco de autismo são todos
inseticidas e têm alguma ação neurotóxica. Então, as plantas GM
tolerantes a herbicidas (inclusive ao glifosato) não têm nada a ver com isso.
E as plantas resistentes a insetos? Neste caso elas
dispensam em grande parte o uso de inseticidas e teriam, por obrigação, menos
relação com a exposição a inseticidas do que as plantas convencionais. Mas... e
a proteína inseticida (Cry, VIP ou outra), não poderia ser ela a vilã? De forma
alguma, uma vez que estas proteínas não são neurotóxicas nem muito menos
alcançam os moradores nas casas próximas: afinal, elas estão dentro das células
do milho ou a soja e não podem “pular” daí para as pessoas em volta.
Em conjunto, é fácil ver que não existe qualquer
relação entre este artigo, com seus pesticidas (inseticidas) avaliados
e as plantas transgênicas. Mas tenho certeza
que logo vão começar a “pipocar” postagens mostrando que tudo é culpa dos
transgênicos e da Monsanto.
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