No portal oficial da ABRASCO (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) há uma nota técnica desta
Associação sobre a forma como foram avaliados os riscos das liberações
planejada e comercial da variedade OX513A transgênica de Aedes aegypti, o
vetor da dengue, pela CTNBio e sobre seu eventual uso como mais uma ferramenta
no combate à dengue no Brasil.
A manifestação contem muitos erros de informação e de interpretação,
alguns leves e outros muito graves, que necessitam ser apontados ao público, o
que é feito a seguir de forma discriminada.
a) sobre a construção desta variedade transgênica,
a ABRASCO demonstra parco conhecimento, quando diz que foi utilizada “a tetraciclina
para a modificação das larvas selvagens”. É disparatada a afirmação, uma vez
que a modificação genética é complexa e não emprega a tetraciclina. Este
antibiótico é empregado para manter viva a linhagem geneticamente modificada em
laboratório, apenas isso.
b) Logo em seguida a ABRASCO afirma que “mesmo sem ter a
autorização da CTNBio para a produção em escala do mosquito transgênico, a
empresa disponibilizou o Aedes aegypti transgênico desde 2011”. Isso é
inteiramente falso: a biofábrica Moscamed e a USP, parceiras da Oxitec, solicitaram
e obtiveram da CTNBio a aprovação para ensaios a campo (liberação
planejada) da variedade GM de A. aegypti.
c) Na frase seguinte, novo erro de informação: a ABRASCO diz
que os experimentos foram feitos “inicialmente na cidade de Jacobina e
posteriormente em Juazeiro”. É exatamente o oposto, mas a confusão parece
proposital, uma vez que mais adiante a ABRASCO se debruça sobre a questão da
dengue em Jacobina, procurando ligar os experimentos de liberação planejada com
o surto presente de dengue naquela cidade.
d) a ABRASCO afirma que “apesar do uso por anos de mosquito transgênico na cidade de Jacobina, ...a prefeitura prorrogou
a situação de emergência para dengue”,
como se a liberação planejada tivesse o objetivo e o poder de controlar a
dengue na cidade toda. Não é nada disso: a liberação tinha o objetivo de
gerar dados para avaliação de risco do OGM, e não controlar a dengue, e
foi feita em alguns bairros da cidade, mas de forma alguma na cidade toda. Esta
confusão, iniciada pela AS-PTA e repetida aqui pela ABRASCO, é nociva ao
entendimento da questão e prejudica a saúde púbica do país confundindo o
público sobre a eficiência de uma tecnologia que só poderá ser ensaiada,
efetivamente, em larga escala. O que foi feito até agora foi gerar dados
para avaliação de risco, nada mais.
e) Um pouco mais abaixo no manifesto a ABRASCO se pergunta “como
se aceita fazer experimentos que afetam uma doença de notificação compulsória
em um contexto sanitário absolutamente sem controle? Como os resultados de
experimentos com mosquito transgênico para controle da dengue em Jacobina
foram utilizados para validar a decisão da CTNBio que autorizou a
liberação de mosquito transgênico para o controle de dengue?”Ora, as liberações
em Juazeiro e depois em Jacobina foram de pequena escala, com um objetivo
bastante específico, em áreas previamente avaliadas por pesquisadores da USP,
pela Oxitec e pela Moscamed, avaliadas previamente pela CTNBio, aprovadas e monitoradas.
Como a ABRASCO se acha no direito de dizer que o contexto sanitário era absolutamente
sem controle se ela jamais se debruçou sobre o problema? Não cabe
aqui uma explicação detalhada de como os dados de biossegurança gerados nos
dois experimentos foram empregados pela CTNBio, isso pode ser lido nos
pareceres dos relatores e no parecer final, disponibilizados pela CTNBio e no
portal da Biosafety Clearing House da Convenção de Biodiversidade.
e) Num certo ponto, a ABRASCO se questiona do apoio
financeiro recebido pela Oxitec, como se receber dinheiro de fundações
filantrópicas fosse crime: A Fundação Bill e Melida Gates apoio inicialmente os
pesquisadores que fundaram a Oxitec, o que apenas mostra que eles tinham
merecimento e que a ideia era inovadora e promissora. Mas estes recursos nada
têm a ver com as atividades da empresa no Brasil. A desconfiança mórbida sobre
a forma como a pesquisa e o desenvolvimento são financiados é uma
característica de certos setores da sociedade na qual se inserem, infelizmente,
alguns conselheiros da ABRASCO.
f) O uso de mosquitos
transgênicos para o controle da dengue, em associação com as demais formas de
combate a esta endemia, evidentemente não está ainda normatizado no país. É
isso que se deve buscar agora, e não uma oposição cega e teimosa a novas
tecnologias, apenas porque usam a biotecnologia moderna.
g) Por fim a ABRASCO
imagina que se deve ter muito cuidado em eliminar o A. aegytpi por que o
A. albopictus pode invadir os nichos deixados livres. Ora, isso
nunca ocorreu em outras partes e é improvável, pela biologia do A. albopictus,
que a ABRSCO parece totalmente desconhecer. Analogamente, é como pedir ao um
caçador numa trilha na selva, com um leão faminto e feroz à sua frente, que não
atire, porque atrás do leão pode haver um tigre, que não está visível e não se
sabe se está com fome...