Saiu recentemente na BBC NEWS (28 de março de 2012) a notícia de que uma variedade transgênica de trigo resistente aos afídeos (pulgões) está sendo testada na Inglaterra. A novidade é que a planta não produz qualquer inseticida, mas um repelente de afídeos, que a hortelã-pimenta produz naturalmente. Leia a íntegra da notícia abaixo.
As primeiras experiências com plantas de trigo geneticamente modificadas para repelir pulgões estão em curso no Reino Unido. Uma nova variedade GM foi construída com um gene de uma planta de hortelã-pimenta, para que o trigo emita um feromônio particular. O cheiro é o sinal de alarme dado por pulgões para avisar de um ataque por predadores. Os pesquisadores esperam que este sinal irá atuar como um alerta de "estacionamento proibido" para manter as pragas longe das plantas sem a necessidade de inseticidas (veja o quadro suplementar para alternativas ao controle de artrópodos).
Este é o primeiro ensaio de uma planta deliberadamente modificada que usa feromônios para repelir pragas. O trabalho está sendo conduzido no Rothamsted Research, o centro de ciências botânicas em Hertfordshire. Oito lotes de terreno - cada um medindo 6 X 6 metros - foram plantadas com o trigo GM nos últimos dias. Pulgões são uma das principais ameaças ao cultivo de trigo no Reino Unido e em outros países. O Prof. Maurice Moloney, diretor do Rothamsted Reseacrh, descreveu os insetos como um "problema de dez bilhões de dólares".
Técnica comprovada em laboratório
A ideia de criar uma variedade de trigo que poderia usar o “cheiro” da planta e o olfato dos insetos para repelir os pulgões foi pela primeira vez discutida em 1985. Segundo o professor John Pickett, líder científico do Rothamsted Research em ecologia química, os testes provaram a eficácia da técnica em laboratório. "O objetivo é usar processos naturais em vez de pesticidas e atender às preocupações do público sobre o uso de pesticidas", disse ele.
Os testes são conduzidos por trás de cercas de segurança para impedir a entrada de animais e para proteger contra ativistas ambientais. Um grupo de plantas de trigo expressa o gene de hortelã-pimenta; outro conjunto foi engenheirado para a expressão de um gene sintético. O objetivo é ver se as plantas emitem uma versão de alta pureza do feromônio, conhecido como A-farneceno. Experimentos têm mostrado que o olfato dos pulgões é muito sensível; talvez eles não reajam se suspeitarem que o feromônio foi produzido por uma planta. Um outro objetivo é ver se o feromônio atrai predadores dos pulgões, sendo o principal uma vespa parasita minúscula.
A publicidade negativa
Testes de laboratório mostram que o cheiro tem o efeito duplo de repelir pulgões e atrair as vespas. Um risco possível, levantado durante uma reunião, é que as pragas seriam expulsas do trigo GM para culturas vizinhas. Os pesquisadores argumentam que os campos de trigo comerciais existentes estão protegidos por pesticidas empregados rotineiramente e que as plantas selvagens eventualmente suscetíveis ao pulgão têm os seus próprios mecanismos de defesa. Os cientistas esperam que as plantas transgênicas que eliminam a necessidade do uso de inseticidas ajudarão a obter o apoio público aos transgênicos.
A ciência sofreu um revés de mais de uma década devido à publicidade negativa e nervosismo público sobre alimentos transgênicos. Grandes cadeias de supermercados da Grã-Bretanha não estocam alimentos geneticamente modificados e a aprovação de plantio ou a importação de grãos e outros produtos de plantas transgênicas tem que ser dada pela União Europeia. Entretanto, ensaios como este, que são puramente para a investigação, podem ser autorizados apenas pelos governos locais (isto é, de cada país). A opinião generalizada entre os cientistas em agronomia é que o desafio de alimentar uma população mundial de sete bilhões requer a ajuda da modificação genética. Mas eles enfrentam uma luta para conquistar os varejistas e os políticos, não apenas na Grã-Bretanha, mas na União Europeia também.
Como matar artrópodos nocivos às plantas e aos animais sem empregar inseticidas: alternativas da transgenia (do editor de GenPeace)
A humanidade se debate a milênios contra insetos e artrópodos nocivos: formigas, gafanhotos, percevejos, pulgões, mosquitos, barbeiros, carrapatos, numa variedade impressionante de vorazes e perigosos competidores e vetores de doenças. A luta contra eles tem tido momentos de vitórias para a humanidade, mas aos poucos a balança desta guerra volta a pender a favor dos invertebrados. Desde a década de 1950 os inseticidas e outros praguicidas vem ganhando uma imensa aplicação na agricultura e em outras áreas, como na saúde pública, mas invariavelmente os insetos acabam contornando o efeito letal dos produtos aplicados, obrigando a agroindústria e os agentes de saúde pública a um rodízio de químicos e, por vezes, ao aumento de doses. Isso tem um impacto negativo inegável na Natureza e mesmo na saúde humana e animal e os custos ambientais devem ser pesados cuidadosamente contra os benefícios.
A transgenia trouxe os primeiros avanços específicos nesta área, no final do último século, que se consolidaram agora: a expressão de proteínas inseticidas pelas plantas. Isso leva à morte apenas dos insetos que atacam as plantas, tendo sido o efeito sobre insetos não-alvo ou sobre a saúde de outros organismos inexistente ou desprezível. A redução do impacto ambiental de inseticidas é notável quando se compara a fauna de insetos de plantações GM com aquelas convencionais da mesma cultura, em iguais condições de manjo e nas mesmas áreas. Novas alternativas de controle por transgenia, para substituir produtos químicos, estão a caminho. Proteínas inseticidas podem ser produzidas por animais transgênicos, de forma a inibir a maturação das ninfas que se alimentam de seu sangue. A ideia poderia ser usada para peixes, aves ou gado, assim como agora é usada em plantas. Ao invés de proteínas, plantas e animais GM poderiam produzir RNAs de interferência, que matariam os insetos e outros artrópodos que os atacassem, sendo este um mecanismo que não envolve proteínas GM. Também por transgenia pode-se produzir machos ou fêmeas de insetos que, ao transferir seus genes para a prole, determinem a morte destas. Os experimentos com Aedes ageypti (mosquitos da dengue) transgênicos tem mostrado resultados muito animadores, dentro e fora do Brasil. Estas e outras possibilidades de controle de pragas agrícolas ou de saúde pública poderão mudar a forma como a humanidade convive com o ambiente, de maneira positiva e sem uso de produtos químicos agressivos. Se as pragas conseguirão contornar este novo ataque, deveremos esperar ainda alguns anos pela resposta.
Meu caro Editor:
ResponderExcluirEu conhecia esse composto pelo nome de farneseno, escrito com S e não com C. O interessante é que o sistema enzimático de síntese desse composto é o que foi introduzido no Saccharomyces pelo cientista norte-americano Jay Keasling de Berkeley. O Governo norte-americano, pelo seu Departamento de Energia, logo constituiu o Joint Bioenergy Institute (JBEI) e deu-lhe a direção do órgão. Logo, ao lado, criou-se uma empresa com capital de risco, a Amyris, para a produção em grande quantidade dessa substância. Ela, ao ser hidrogenada em aparelho hidrogenador se transforma em farnesano que é um óleo diesel leve, de 15 carbonos. Essa empresa já está no Brasil.
Professor Walter Colli