terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Gerando Desinformação



Prof. Dr. Walter Colli
Médico e bioquímico, ex-presidente da CTNBio e professor titular aposentado da USP
Artigo publicado no Jornal Brasil Econômico de 17/02/2012.



            Os alimentos transgênicos são uma realidade. No Brasil, seu plantio teve início em 2003, dois anos antes da Lei de Biossegurança regulamentar sua pesquisa e comercialização. O País hoje perde apenas para os Estados Unidos em volume de produção de produtos geneticamente modificados. Segundo o relatório do Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações Biotecnológicas Agrícolas (ISAAA), o Brasil plantou 30,3 milhões de hectares de cultivos transgênicos em 2011, um aumento de 19,3% em relação ao ano anterior. Isso significa que 75% da soja e 55% do milho cultivado hoje no Brasil são transgênicos. Para a safra de 2011/2012, o Instituto Céleres prevê que atingiremos 31,8 milhões de hectares cultivados.

            Apesar dos números superlativos, a grande maioria dos consumidores não faz ideia do que seja um alimento transgênico. De acordo com uma pesquisa da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA), realizada pelo Instituto Ipsos em 2010, 74% dos brasileiros nunca ouviram falar em transgênicos ou organismos geneticamente modificados (OGM). Esse dado é preocupante, uma vez que o Brasil se projeta como grande líder na produção de alimentos, posição esta também alcançada pelo uso da tecnologia no campo – neste caso específico, o uso da biotecnologia.

            A preocupação na comunicação acerca dos transgênicos aumenta. O decreto nº 4680/03 requer que todos os alimentos ou ingredientes alimentícios que contenham mais do que 1% de sua composição final de produtos provenientes de OGMs deverão apresentar essa informação em seus rótulos, hoje representada por um triângulo amarelo e um “T” no centro.
Segundo uma pesquisa realizada pela ABIA em 2010, apenas 8% dos entrevistados associam o símbolo do “T” aos OGMs. Outros 56% afirmam não saber seu significado, 22% o associam a um sinal de trânsito e 11% a um sinal de perigo, alerta de proibição ou de que o produto faz mal à saúde.

            Desse modo, o que deveria ser um instrumento de informação ao consumidor acaba confundindo e gerando desinformação sobre os produtos transgênicos. Nega-se ao consumidor a informação mais importante, ou seja, a de que não existe comprovação científica de que os transgênicos façam mal à saúde ou mesmo uma explicação plausível sobre a presença de  transgênicos no alimento.

            A obrigatoriedade da rotulagem por meio de um símbolo que gera desinformação é um desserviço ao consumidor. O fator de maior importância nessa discussão é que os alimentos – sejam eles convencionais, transgênicos, orgânicos, funcionais, diet ou light – cheguem ao mercado com informações corretas, isentos de especulações ou pressões de grupos partidários. A indústria alimentícia não deve temer o triângulo contendo o T. Mas nada impede que embaixo do símbolo esteja escrito "aprovado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio)". Desse modo, os consumidores terão garantido o direito ao livre arbítrio e exercerão o seu poder de compra de maneira segura, precisa e consciente. Há que informar, mas corretamente.     


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