Prezado Bab.
Queria comentar nesta postagem algumas coisas sobre nosso
direito (seu, meu, de todos os brasileiros, de todos os viventes nesta Terra)
de consumir ou usar o que julgamos mais saudável, gostoso, chique ou seja
porque razão mais adequado para nós. Vou seguir seu comentário contido na sua
própria postagem no blog do Altino Machado, disponível em http://www.altinomachado.com.br/2014/11/nosso-pao-de-milho-transgenico-de-cada.html
e que suscitou vários comentários.
Acho que o direito de escolha é um direito natural, mas a gente tem que se limitar ao que o mercado nos oferece. Eu gosto de chucrute (passei um tempo na Alemanha), mas no Nordeste eu raramente encontro. Também curto falar de um orelhão, detesto esta história de estar com um equipamento que esquenta colado na minha orelha, mas quase já não existem orelhões. Gosto de comer camurim e caranguejo, porém só grande: nem um nem outro estão disponíveis. Então, acabo consumindo o que o mercado me oferece. Não me importo em comer milho transgênico, afinal acompanhei o passo a passo da avaliação de risco de todos os milhos GM que estão no mercado e sei exatamente o que eles são. Mas se eu quisesse consumir cuscuz de milho convencional, teria que plantar meu milho. Será que ninguém mais planta o milho convencional ou há outra causa pela qual não há cuscuz que não tenha o tal T num triângulo amarelo? Quem está impondo o que a que? Vou tentar explicar, no meu parco entendimento do mercado de produtos alimentícios industriais.
Acho que o direito de escolha é um direito natural, mas a gente tem que se limitar ao que o mercado nos oferece. Eu gosto de chucrute (passei um tempo na Alemanha), mas no Nordeste eu raramente encontro. Também curto falar de um orelhão, detesto esta história de estar com um equipamento que esquenta colado na minha orelha, mas quase já não existem orelhões. Gosto de comer camurim e caranguejo, porém só grande: nem um nem outro estão disponíveis. Então, acabo consumindo o que o mercado me oferece. Não me importo em comer milho transgênico, afinal acompanhei o passo a passo da avaliação de risco de todos os milhos GM que estão no mercado e sei exatamente o que eles são. Mas se eu quisesse consumir cuscuz de milho convencional, teria que plantar meu milho. Será que ninguém mais planta o milho convencional ou há outra causa pela qual não há cuscuz que não tenha o tal T num triângulo amarelo? Quem está impondo o que a que? Vou tentar explicar, no meu parco entendimento do mercado de produtos alimentícios industriais.
Uns 15 a 40% de todo milho produzido ainda é convencional (dependendo da safra),
mas é plantado em geral pelos pequenos agricultores e seu uso não costuma ser industrial,
isto é, não vai parar nos grandes silos que misturam grãos de muitos produtores
e os enviam para as linhas de produção de alimentos processados e
semiprocessados. Esta é a principal razão pela qual a maioria dos
pacotes de cuscuz vai ter o tal T. Por que não há indústrias fazendo cuscuz com
os 15-40% de milho convencional, caso ele pudesse ser segregado do milho
transgênico? Porque não há demanda (como no caso dos orelhões, a alternativa
satisfaz): as pessoas em geral não se importam em consumir milho GM ou bem porque
não se interessam ou porque confiam nos órgãos de avaliação de risco e de
regulação do Brasil. Então, não é uma imposição, é uma opção industrial guiada
pelo mercado produtor de milho e pela falta de interesse em produtos não GM
pelo mercado consumidor. O produtor de cuscuz não está desrespeitando ninguém
porque o milho transgênico que ele usa é aprovado para todos os usos do milho
convencional.
Perdemos nosso direito de escolha? Sim. Afinal, quem se
importa com milho transgênico (ou com a falta de orelhões, de peixe salgado,
piracuí, farofa de tanajura ou de tatuí) é uma minoria de brasileiros. Seria
bacana importar milho orgânico do Peru ou de outro produtor para atender a
demanda dos que rejeitam o milho GM, mas isso é uma questão comercial e não se
pode nem se deve obrigar o Governo do Estado do Acre a se meter nisso. Mais uma
vez, a produção de milho para consumo humano costuma ser insuficiente nos
países andinos e o Peru não é exceção. Orgânico, então, menos ainda: entre os
principais produtos exportados orgânicos do Peru em 2013 (http://www.agronegocios.pe/economia/item/3129-en-2013-peru-exporto-us-230-millones-en-productos-organicos) não
consta o milho. Mesmo que se consuma pouco milho no Acre, se todo ele for
orgânico ou apenas convencional acho bem difícil que o Peru ou outro país
andino possa suprir a demanda. E mais difícil ainda que os acreanos estejam
dispostos a pagar mais pelo cuscuz de milho importado.
O cuscuz faz parte da tradição e da memória do povo, isso não
muda se ele é GM ou não, uma vez que 99% dos brasileiros não se importam com o
fato do milho ser transgênico, embora deem o devido crédito às comidas de
milho.
Quanto ao aspecto do milho GM, que muita gente imagina ser
diferente do convencional, a comparação deve ser feita com o milho não GM
isogênico, ou seja geneticamente igualzinho, exceto pela transgenia. E mais: os
dois devem ser cultivados em condições semelhantes. Aí se pode dizer se eles
são diferentes ou não. Olhar uma espiga de milho de uma linhagem, cultivada num
determinado sistema, e comparar com uma espiga de outra linhagem completamente
diferente, cultivada de forma muito diversa, resulta numa comparação inválida.
Na prática agronômica (feita pelos tais bio-técnicos, como você designou os
engenheiros agrônomos, pesquisadores da EMBRAPA, das universidades e outras
instituições de ensino e pesquisa do Brasil), não há diferença alguma. Na minha
prática culinária, o cuscuz que como todo dia (mas todo dia mesmo!) não mudou
de sabor desde antes de 2008, quando os primeiros milhos GM foram plantados:
continua cheiroso, macio e gostoso como deve ser, puro, com manteiga, com
leite, com ovo, com mamão, manga, peixe ou o que se quiser.
Vamos fechar com a leitura do texto sobre o Séralini. Você
diz nos seus comentários “Ratos que se alimentaram de grãos transgênicos desenvolveram câncer de
pele e tumores cerebrais. Os do outro grupo, permaneceram sadios e felizes. Foi
a ciência que comprovou, não foi o beato Salu, Ok?”. Sei que a leitura de artigos
científicos é muito aborrecida e por
vezes difícil, coisa para os tais bio-técnicos. Mas citar artigos sem ler é
sempre arriscado. A análise do seu texto acima mostra que você seguramente não
leu o artigo e extraiu suas informações de uma leitura apressada de algum blog.
Afinal, embora o número de animais esteja certo, quase tudo mais está errado.
Os tumores (que não são de pele nem de cérebro) estavam presentes nos dois
grupos de animais e, pior ainda, tendiam a ser mais numerosos ou surgirem
mais cedo entre os bichos alimentados como o milho GM do que entre bichos
alimentados com milho convencional apenas se uma estatística prá lá de mambembe
fosse empregada. A publicação foi duramente criticada pela maioria dos
cientistas e aplaudida pelos “alternativos”. Depois de um ano a revista retirou
o artigo de circulação. Uma revista obscura e com um forte viés anti-OGM
republicou o estudo, sem nenhuma melhoria substancial. Os resultados do
Séralini não se alinham com nada publicado antes nem depois e, pela metodologia
bizarra, não podem ser chamados de ciência. Para uma análise bem detalhada
deste caso, você pode ler o que publicamos na ocasião e ao longo do ano e meio
em que o artigo saiu, foi criticado, morto, sepultado e ressuscitado (mas, por
favor, nenhuma analogia com nosso bom Cristo):
Enfim, a percepção de risco dos transgênicos pode ser muito
diferente entre diferentes pessoas, mas a avaliação de risco, que é baseada em
ciência e feita pelos tais bio – técnicos, indica um resultado em geral muito
diferente da percepção geral. Dez anos de consumo por bicho e gente pelo mundo
afora mostram que os riscos, se existirem, são muito pequenos, em que pesem os
resultados isolados do Séralini e de mais uma meia dúzia, que em geral são
obtidos com o uso de uma metodologia muito deficiente, quando não francamente
distorcida. Estas vozes isoladas não falam a linguagem da ciência e poderiam
muito bem ser a do fictício beato Salu, do Antônio Conselheiro ou de qualquer
outro iluminado que sacasse a conclusão de uma faísca de iluminação divina.
Cordialmente,
Paulo Andrade
Eu tenho essa preocupação de saber se realmente o milho GMO é prejudicial a saude pois eu não como pão, somente cuzcuz ou pão milho e as vezes a tapioca.
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