Seguindo o que já é tradição no
GenPeace (http://genpeace.blogspot.com.br/2013/09/transgenicos-pros-e-contras-num-dialogo.html;
http://genpeace.blogspot.com.br/2012/11/transgenicos-pros-e-contras-perguntas.html;
http://genpeace.blogspot.com.br/2012/10/transgenicos-principio-da-precaucao.html
e muitos outros),
discuto outros temas comuns ao debate sobre os transgênicos. Alguns fogem
bastante da questão da avaliação de risco e se inserem na gestão ou na
comunicação de riscos, mas ainda assim creio que merecem uma abordagem neste
blog. Boa leitura.
Afirmação:
A tecnologia dos transgênicos não deveria substituir serviços ambientais como a
biodiversidade, essencial para sistemas biológicos saudáveis.
Considerações: A biotecnologia agrícola não substitui serviço ambiental algum. Quando
muito ela substitui a agroindústria convencional, não transgênica. Como disse
numa outra postagem, a adoção de nosso modelo agrícola, extensivo e sempre
demandando mais terras, não é uma opção dentre muitas, mas o modelo econômico
para o qual o país foi empurrado pelo descaso com a educação. A substituição
dele por um modelo ecologicamente menos impactante pode, num primeiro momento,
reduzir a pressão sobre o ambiente, mas depois levará a um desequilíbrio da
balança econômica, pela falta de exportação, e uma tragédia econômica e social
para nosso país. Sair desta situação (de exportador de bens primários) não é fácil
e não passa pela mudança da forma que faremos agricultura, mas pela educação de
nosso povo e por uma mudança radical da matriz produtiva. Reduzir tudo à
influência “nociva” da transgenia é um tremendo disparate, de um reducionismo
radical, coisa que os “independentes” tanto condenam.
Afirmação: Todas as ditas grandes vantagens dos transgênicos poderiam
facilmente ser substituídas por manejos adequados da biodiversidade, sem
colocar em risco a saúde, o meio ambiente, sem empresas que contaminem
biologicamente patrimônios da humanidade e as vendam como inovação tecnológica,
sem agravar problemas do campo, sem agravar situações de vulnerabilidade
socioeconômica, mas que pelo contrário, fortalecem todos estes aspectos.
Considerações: A troca
da transgenia não seria feita por imposição, mas pelo mercado, a menos que
quiséssemos voltar à ditadura. Se o país decidisse pela moratória dos
transgênicos (o que seria uma manobra ditatorial, uma vez que grande parte do
público não vê a tecnologia como risco, inclusive o produtor rural), a
agroindústria voltaria ao uso de sementes melhoradas num modelo intensivo.
Do ponto de vista do mercado, a troca desta forma de fazer agricultura por uma
agricultura ecologicamente mais correta, porém menos rendosa ao agricultor
(demanda mais mão de obra, tem problemas sérios de logística de transporte e de
estocagem, depende de know how não disponível para grandes áreas, etc.), ainda
que sustentável, não aconteceria facilmente. Assim, o problema não é a
transgenia, mas o agronegócio atual, seja ele transgênico ou não. A transgenia,
de fato, não muda nada neste cenário.
Afirmação: A biodiversidade tem o grande potencial de potencializar os
outros serviços ecossistêmicos, coisas que nenhuma inovação tecnológica, seja
real ou uma falácia, possam oferecer à humanidade.
Considerações: Esta é
uma afirmação genérica, muito pretensiosa, que não está apoiada em evidências.
A biodiversidade, em si, é um patrimônio. Ela não potencializa outros serviços
ecossistêmicos, sendo apenas parte deles. Evidentemente, um ambiente biodiverso
valoriza os serviços ecossistêmicos, mas isso é outra coisa. O que potencializa
os serviços é a aplicação de técnicas adequadas, muito ao contrário do que se
diz nesta afirmativa tão falaciosa quanto comum.
Afirmação:
Quanto aos outros OGMs não agrícolas (por exemplo, os industriais), eles têm
riscos controlados, o que é tolerável, além de não serem utilizados na
alimentação.
Considerações: Esta afirmação, também
muito comum, é completamente infundada. Há um sem-número de OGMs que são
empregados para a produção industrial de enzimas e outros insumos largamente
empregados na indústria alimentícia. Além disso, transgênicos estão sendo
desenvolvidos para biorremediação, mineração e muitas outras aplicações que
envolvem a liberação no ambiente e não serão empregados na alimentação. A
ligação entre alimentação e liberação no ambiente é uma mistura curiosa que
atende a temores irracionais, e mais nada.
Afirmação: Os cientistas que se alinham ao main trend dizem que os
estudos independentes não tem credibilidade, mas que credibilidade há em
estudos financiados por empresas que sabem apenas defender seus próprios
interesses e que agem sem transparência alguma sob a desculpa de proteção a
propriedade intelectual?
Considerações: É
exatamente isso: os cientistas, na sua imensa maioria, consideram os trabalhos “independentes”
como de baixíssima qualidade. Além disso, e que é muito mais importante, a
ciência “oficial” tem montes de resultados que contradizem os poucos resultados
“independentes”. Como ciência é feita por maioria, vale o que a maioria diz.
Quanto à questão de
credibilidade dos trabalhos científicos, saiu recentemente um artigo (ver
abaixo) que revê essencialmente tudo que foi publicado em revistas científicas sobre
riscos de transgênicos. O artigo é de Nicolia e colaboradores e acaba de ser
publicado na Critical Reviews on Biotechnology. Vale a pena a leitura. Ele tem
como anexo online uma impressionante tabela com todos os artigos referenciados:
tirando os que são sobre rastreabilidade, há 1482 artigos sobre todos os
aspectos de biossegurança e avaliação de risco de transgênicos. Alguém, em sã
consciência, pode achar mesmo que todos eles foram pagos pelas multinacionais,
exceto os poucos "independentes"? Pois estaria completamente enganado.
Quem quiser conferir, olhe ao menos uma centena deles, tomados ao acaso, e verá
que são financiados pelos "CNPq"s de cada país.
Nicolia A, Manzo A,
Veronesi F, Rosellini D. (2013) - An overview of the last 10 years of
genetically engineered crop safety research. Crit Rev Biotechnol. 2013 Sep 16.
[Epub ahead of print]. PMID: 24041244. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24041244
(o artigo completo, infelizmente, não está disponível no Portal Periódicos
da CAPES)
Afirmação: Se a biotecnologia agrícola é tão inócua, deveriam se
orgulhar e divulgar os achados com toda transparência que lhe cabe.
Considerações: A
divulgação é grande, mas como o público gosta de ler desgraças e previsões
apocalípoticas, prefere acessar os sites que acreditam nos riscos enormes e
danos graves dos transgênicos. Recomendo a visita ao site do CIB (www.cib.org.br) para uma leitura do lado
positivo dos transgênicos. Há muitos outros, naturalmente.
Afirmação: Quanto às espécies crioulas, elas devem ser conservadas, não
preservadas.
De nada adiantaria tê-las se fizéssemos apenas usos indiretos, que seria a preservação. Além do mais é sintomática e muito preocupante a contaminação crescente de variedades crioulas por transgênicos.
De nada adiantaria tê-las se fizéssemos apenas usos indiretos, que seria a preservação. Além do mais é sintomática e muito preocupante a contaminação crescente de variedades crioulas por transgênicos.
Considerações: Aqui a questão pode ser
preservar ou conservar, depende do enfoque. Para que nos servem os milhos
crioulos? Se considerarmos seu valor intrínseco, precisamos preservá-los, o que
só pode ser feito no banco de germoplasmas, uma vez que o milho não se propaga
sem a mão humana. Se quisermos conservar, podemos usar duas estratégias: manter
as variedades em campo, cuidando para que elas não sejam perdidas por mau
manejo e, periodicamente, usá-las (o uso mais importante é obter delas novos
alelos importantes na agricultura); ou, alternativamente, buscar no banco de
germoplasma os alelos que precisamos. A estratégia de conservar em campo é
perigosa por causa dos cruzamentos com variedades comerciais avançadas e com híbridos,
que representam o mesmo problema que os transgênicos quando a questão é
conservar os genomas crioulos. Até agora os agricultores que têm milhos
crioulos creem que conseguem conservar suas variedades ao longo de gerações. Se
seguirem com as mesmas práticas, não há razão alguma de acreditar que não
consigam fazer o mesmo na presença dos transgênicos. Quanto à “contaminação
crescente de variedades crioulas por transgênicos”, é coisa que se lê com
frequência, mas não há um único estudo sério sobre isso.
Afirmação: A impossibilidade de coexistência entre transgênicos e
não-transgênicos (que os adeptos do main trend alegam não ocorrer) seria algo para
se preocupar enormemente, pois coloca em risco a segurança alimentar e
nutricional de todos. Além dos problemas associados
especificamente aos transgênicos, a questão da patente das sementes tira
totalmente a soberania alimentar dos povos.
Considerações: A
questão de coexistência só não está resolvida para um restrito grupo de
pessoas: a coexistência de variedades de milho é tão antiga quanto o próprio
milho, afinal. Quanto à questão de segurança alimentar, a afirmação é
completamente errada. Passamos aos leitores um trecho de outra postagem nossa
sobre o assunto.
Muitos brasileiros imaginam que as grandes
empresas transnacionais que detêm a tecnologia das plantas GM terão o
agricultor brasileiro pelo cabresto e, consequentemente, o país todo. Há duas
inverdades aqui:
a) A tecnologia GM não é exclusiva das
transnacionais e está interiorizada no Brasil. Se não temos uma porção de
produtos “made in Brazil”, como o feijão, a culpa exclusiva é do regulatório
absurdamente caro que se montou neste país e a falta de incentivo para o desenvolvimento
de transgênicos nas empresas brasileiras, inclusive e sobretudo na Embrapa.
b) Além disso, se houver qualquer ameaça à
soberania alimentar do país (cujo conceito discutiremos mais abaixo), o Governo
pode simplesmente quebrar as patentes e desenvolveremos novas variedades a
partir destas que estão no mercado. É evidente que isso não é esperado, nem
desejado, uma vez que o respeito aos direitos dos inventores é a base para que
nossa própria tecnologia possa se desenvolver no futuro.
Afirma-se com frequência que haverá
insegurança alimentar por causa das patentes e dos transgênicos. Muito bem, o
que é isso? Cada leitor imagina seu conceito de segurança alimentar, um ponto
realmente importante de consideração quando se pensa uma nação. Mas é preciso
haver um denominador comum para a discussão. Pela necessidade de discutir este
conceito, esta parte da nossa postagem está consideravelmente expandida.
O conceito mais limpo de adições ideológicas
para segurança alimentar e nutricional diz: Todos devem ter acesso a quantidade suficiente de alimento e este deve
ser de boa qualidade. Adições subsequentes definem quem deve
garantir o fornecimento do alimento e o que se entende por qualidade. Ainda
outras considerações são feitas sobre a forma como o alimento deve ser
produzido (sustentabilidade do sistema de produção) e que dieta é a adequada
para o brasileiro. Aí entram as ideologias, em geral conflitantes.
Um conceito mais elaborado, já adicionado de
algumas considerações sócio-econômicas diversas, segue abaixo:
“Segurança Alimentar e Nutricional é a
garantia do direito de todos ao acesso a alimentos de qualidade, em
quantidade suficiente e de modo permanente, com base em práticas
alimentares saudáveis e respeitando as características culturais de cada
povo, manifestadas no ato de se alimentar. Esta condição não pode
comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, nem sequer o
sistema alimentar futuro, devendo se realizar em bases sustentáveis. É
responsabilidade dos estados nacionais assegurarem este direito e devem
fazê-lo em obrigatória articulação com a sociedade civil, dentro das
formas possíveis para exercê-lo.” (Caderno
‘Segurança Alimentar’. Renato S. Maluf (CPDA/UFRRJ, Brasil), Francisco Menezes
(IBASE, Brasil); Com a colaboração de Susana Bleil Marques (Partes 12-13))
Este conceito está em grande parte espelhado
na “Lei de Segurança Alimentar e Nutricional”. Segundo a LEI Nº 11.346, DE 15 DE SETEMBRO DE 2006., artigo 3º.,
“a segurança alimentar e nutricional consiste
na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de
qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras
necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de
saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural,
econômica e socialmente sustentáveis”.
Adicionalmente, no seu artigo 4º., a mesma lei
afirma: a segurança alimentar e nutricional abrange:
I – a ampliação das condições de acesso aos
alimentos por meio da produção, em especial da agricultura tradicional
e familiar (o grifo é nosso), do processamento, da
industrialização, da comercialização, incluindo-se os acordos internacionais,
do abastecimento e da distribuição dos alimentos, incluindo-se a água, bem como da
geração de emprego e da redistribuição da renda (o grifo é nosso);
II – a conservação da biodiversidade e a
utilização sustentável dos recursos; (o grifo
é nosso)
Etc.
Pela leitura das duas definições, é evidente
que uma parte do Governo e da sociedade brasileira inclui na segurança
alimentar a forma de produzir os alimentos e toma um partido muito claro: ele
deve ser produzido preferencialmente pela agricultura familiar, de forma
“sustentável”, isto é, evitando-se a agricultura intensiva, com uso de
fertilizantes, pesticidas e sementes melhoradas. De onde vem este viés?
Primeiro, pelo fato de que a agricultura familiar e a pequena agricultura levam
diariamente à mesa dos brasileiros uma grande variedade de alimentos e empregam
uma grande massa de trabalhadores. Isto é certo. Mas não é menos certo
que o agronegócio também tem sua contribuição importante, sobretudo através
dos alimentos processados, que comemos todos os dias: cuscuz, canjica, polenta,
pipoca, óleo, margarina, arroz, trigo (pão, bolos, salgadinhos e um mundo de
outras coisas), feijão, cebola, laranja, açúcar e uma infinidade de outros
produtos, in natura ou processados. Assim, não é verdade que o
brasileiro seja alimentado apenas pelo pequeno agricultor: ele depende dos
dois para sua refeição diária e para que a possa adquirir a preços razoáveis.
Por isso, a segurança alimentar e nutricional deve procurar o fortalecimento
das duas cadeias produtivas e não demonizar a agricultura moderna como mãe de
todos os males nutricionais e ambientais. Uma posição pragmática, e não
ideológica, deveria nortear a política de segurança alimentar e nutricional do
Brasil, coisa que não se alcançará tão cedo, infelizmente.
Em tempo: a retirada de apoio ao agronegócio e
a criação de obstáculos ao seu desenvolvimento, aliadas a um forte apoio à
agricultura familiar pode, num primeiro momento, fomentar a redistribuição de
terras e a uma melhor distribuição de renda no campo, mas terá consequências
danosas ao resto da sociedade, uma vez que em torno do agronegócio orbita a
economia de centenas de municípios brasileiros que, numa perspectiva de domínio
da pequena agricultura, nunca atingirá a produtividade necessária ao ingresso na
cadeia da agroindústria, nem contribuirá para a balança comercial brasileira. O
leitor poderia se perguntar: e daí? Quem se importa com ela? Acontece que a
agroindústria distribui os lucros advindos de seus produtos numa extensa e
complexa cadeia, pois os produtos industrializados movimentam um grande número
de diferentes setores, ao contrário daqueles consumidos in natura. O
sucateamento deste setor da economia, em nome de um combate às multinacionais e
de uma pretensa conservação do ambiente, seria um imenso prejuízo para nosso
país. Isso não quer dizer que não se coloque freios à expansão das fronteiras
agrícolas e ao mau uso das terras, seja pelo agronegócio, seja pelo
pecuarista ou agricultor individual, que é coisa certa de ser perseguida.
A questão da sustentabilidade é também
entendida pelo legislador como importante no contexto da segurança alimentar,
embora seja alvo de leis específicas e de toda uma política de governo, muito
mais abrangente que a questão da segurança alimentar. Pela leitura dos textos
legais o viés claro é que a pequena agricultura familiar é mais sustentável do
que o agronegócio. É evidente que uma pequena lavoura conduzida de forma
tradicional impacta muito menos o ambiente que uma grande plantação intensiva.
Aqui temos um caso típico de comparação entre coisas desiguais: se o tamanho da
lavoura tradicional fosse compatível com os níveis de produção que o país
precisa, a figura seria totalmente diferente. A sustentabilidade envolve uma
série de parâmetros distintos, quase todos ligados aos ecossistemas, mas não se
pode desprezar a produtividade do sistema por hectare, que ao final é o que
move a agroindústria. Diz-se com frequência que a pequena agricultura familiar
é tão ou mais produtiva que o agronegócio, mas não há dados abrangentes que
provem isso e o mercado aponta na direção exatamente contrária.
E, finalmente, porque a segurança alimentar
ficaria comprometida com os transgênicos? A primeira linha de argumentação diz
respeito à produção, que envolve royalties e outras formas de dependência
derivadas do uso das sementes GM. Mas isso já ocorria em grande parte com as
sementes não GM. De toda forma, o agricultor pode sempre plantas suas próprias
sementes e o Governo pode até mesmo quebrar patentes, como comentado antes,
caso o mercado se descontrole e coloque em risco a alimentação do brasileiro. A
segunda linha de argumentação diz respeito à qualidade dos produtos que chegam
à mesa do brasileiro: os derivados da agricultura familiar seriam melhores, e
os da agroindústria tóxicos e perigosos. Infelizmente, ocorre o contrário: num
estudo feito pela ANVISA, resíduos de agrotóxicos acima dos níveis permitidos
pela legislação ou ainda de agrotóxicos proibidos para a cultura examinada
foram encontrados em produtos oriundos da agricultura familiar em porcentagem
muito significativa. Já nos derivados do agronegócio não há um único relato. As
razões disso estão discutidas em outra postagem nossa (http://genpeace.blogspot.com.br/2012/02/agrotoxicos-e-transgenicos-no-brasil.html). Por outro lado, o valor nutricional dos
alimentos formulados com grãos transgênicos é idêntico ao obtido com grãos não
transgênicos; no futuro, poderá ser até melhor, com menos componentes nocivos e
mais proteínas e vitaminas benéficas.
Assim, somo forçados a rejeitar totalmente
esta afirmação.
Um último comentário:
os pequenos agricultores familiares compram com frequência sementes de
hortaliças e fruteiras. Vão nas lojas e adquirem as variedades que lhes
interessam. E pagam royaties,
evidentemente. Em que medida isso compromete a alimentação do país? Em nada. A
afirmação de que royalties em sementes comprometem a agricultura e a soberania
é um mantra repetido à exaustão, sem qualquer base na realidade.
Afirmação: A inocuidade de produtos da transgenia não quer dizer que o
transgene ou o transgênico seja inócuo. Isso é sofisma e não é nada científico.
Considerações: nenhum
avaliador de risco jamais dirá uma coisa destas, porque o cerne da avaliação de
risco é exatamente o impacto que o transgênico (ou OGM) pode ocasionar,
DIRETAMENTE, ao ambiente. Esta afirmação é vazia, pelo menos na forma como aparece
na carta que recebemos.
Afirmação:
Em geral o público não vê a transgenia associada com sustentabilidade, a não
ser que seja a sustentabilidade econômica das gigantes do oligopólio das sementes
e agroquímicos.
Pois é, o público não vê porque só lê a
propaganda contrária. A contribuição dos transgênicos na redução do uso de
inseticidas e, sobretudo, no uso de máquinas (diesel), na emissão de CO2 e no
uso de água é impressionante. Sugerimos a leitura de http://www.celeres.com.br/post.php?p=138&lang=pt. No futuro, contudo, a contribuição
será muito mais importante, pela introdução de plantas que crescem em áreas
degradadas, de variedades mais produtivas, que necessitam menos água, etc. É
esperar para ver.
Afirmação:
os que defendem o uso de transgenia no campo desconhecem as iniciativas do
Governo Federal no incentivo de outras formas de agricultura, como o PLANAPO
(Plano nacional de agroecologia e produção orgânica - http://portal.mda.gov.br/portal/institucional/planapo),
que estimula a transição agroecológica, a qual regenera solos e pode produzir
em diversas escalas.
Considerações: os cientistas que sentam
na C TNBio, sobretudo os que têm formação agronômica, acompanham de perto o que
o Governo Federal faz pela agricultura e pela pecuária. Não desconhecem, em
absoluto, que o Governo tem seu lado agroecológico. Os grandes agricultores,
então, nada desconhecem de políticas e iniciativas de Governo, seja na área do
MAPA, seja no MDA. Se não decidem pela agroecologia em grandes extensões, é
coisa que se deveria perguntar a eles, em vez de culpar as grandes empresas.
Na verdade, o Governo Federal tem duas
faces, a do agronegócio e a da agroecologia e da agricultura familiar, e está
certo: o país tem largas hostes de brasileiros dos dois lados e seria politicamente
insensato tomar partido exclusivo por um lado ou outro.
Para concluir: os que se opõem ao uso
da biotecnologia no campo (e, em menor grau, em outras áreas) julgam que os que
apoiam a biotecnologia são uns ignorantes crassos, que nada entendem de
ecologia, biologia da conservação, genética de populações, economia e política,
e que só leem o que lhes apoia as ideias e preconceitos. Mas não é assim: em
geral sabem tanto ou mais do que os que se opõem à transgenia. Este
conhecimento, contudo, é em grande parte inútil na CTNBio, onde se faz
EXCLUSIVAMENTE avaliação de risco, que só vê os problemas biológicos diretos
causados pelos OGM, jamais suas virtudes e seus impactos sócio-econômicos.
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