sexta-feira, 29 de março de 2013

Transgênicos nada têm a ver com nova praga de algodão, milho e soja


Como prevíamos e anunciamos neste blog, a notícia plantada pelos sites de oposição aos transgênicos e que atribuía ao milho transgênico o aparecimento de um inseto atacando o algodão no Oeste da Bahia, era falsa (http://genpeace.blogspot.com.br/2013/03/transgenicos-pragas-secundarias-e.html). Os professores e colaboradores da Universidade Federal de Goiás descobriram que a lagarta que vem atacando lavouras de algodão, milho e soja em diversas regiões, em especial no oeste da Bahia, não é da espécie Helicoverpa zea e sim a Helicoverpa armigera, que ainda não havia sido identificada no Brasil. Ainda não se sabe como a praga chegou ao país, mas as ações para seu controle já estão em andamento. A íntegra na notícia está disponível em http://www.portaldoagronegocio.com.br/conteudo.php?id=90493. Seguramente, contudo, o milho transgênico nada tem a ver com isso.



Os inúmeros desvios do bom senso e da ciência mostrados pelos opositores ideológicos aos transgênicos diminuem a confiança que o público pode ter nestes grupos e minam todo o movimento ambientalista sério.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Transgênicos, pragas secundárias e refúgios: quem é o culpado pelas perdas no algodão?


Vários sites que trazem informações sempre negativas sobre as plantas transgênicas agora procuram mostrar que a presença aumentada de uma praga agrícola de algodão, originalmente secundária, seria causada pela adoção do milho transgênico resistente a ela.

Nos comentários abaixo, avalio a veracidade desta afirmação. Para uma leitura muito mais fundamentada e rica em informações, sugerimos o artigo intitulado Lavoura Furada, do pesquisador da Embrapa e também membro da CTNBio Fernando Valicente. O link está abaixo


Revista Agro DBO - Ed 42 - março/2013

issuu.com/eriklm/docs/ed_agro_42  

Também sugerimos a leitura de uma recente notícia informando que a praga que ataca o algodão e outras culturas no Oeste de Bahia não é a Helicoverpa zea, e sim uma espécie exótica, a Helicoverpa armigera, que pode ter chegado através da importação de flores. A descoberta é da EMBRAPA. O link está abaixo:
http://www.portaldoagronegocio.com.br/conteudo.php?id=90493


A Helicoverpa zea é uma praga de milho, mas também ataca muitas outras culturas. Vários milhos geneticamente modificados são tóxicos para esta praga. Quando o agricultor adota qualquer uma destas variedades, deve reservar uma parcela de sua plantação para semear milho convencional, para evitar ou pelo menos retardar  o aparecimento de insetos resistentes. Esta abordagem de manejo chama-se refúgio. Se isso não é feito, mutantes de Helicoverpa podem cruzar entre si e produzir gerações resistentes, que serão um problema para o agricultor. O surgimento de pragas resistentes ou tolerantes aos agentes que são empregados usualmente no seu controle (sejam estas pragas insetos ou ervas daninhas) não é um problema de biossegurança, e a CTNBio não tem que se meter nesta área, que é de atribuição exclusiva do MAPA.  

Naturalmente, o agricultor muitas vezes não quer perder nada de sua safra e não planta o refúgio. Isso pode levar, como está levando, ao surgimento de lagartas resistentes ao Bt. Mas o aparecimento de lagartas da espécie H. zea nas plantações de algodão pode ter outras causas, além desta. É incorreto e, na verdade, reflete apenas desinformação, preconceito e uma ideologia míope, achar que são os milhos transgênicos que são culpados por isso. Pragas secundárias (a H. zea ataca o algodão, sim) podem-se tornar pragas primárias por uma multiplicidade de razões, por vezes ocorrendo juntas, e as declarações infelizes trazidas como reportagem pelos sites que lutam contra os transgênicos não esclarecem nada.

Sob a luz do que foi dito acima, pode-se agora reler a afirmação que inicia a postagem nos vários sites (que só fazem copiar uns aos outros). Lá se diz que:
 “São efeitos previstos para os quais foram feitos alertas insistentes e fundamentados dentro e fora da CTNBio. Como manda a lógica mercantil e não a da ciência independente nem a da precaução, os prejuízos se multiplicam. Quem assumirá o prejuízo? Não é possível culpabilizar (sic) o produtor”.

O aparecimento de resistência ou a tomada de nicho ecológico por conversão de praga secundária em primária e muitos outros eventos ligados à resistência/tolerância aos agentes de controle não tem nada de imprevisto! Não foi a oposição aos transgênicos, paladino  da verdade, que trouxe este problema à CTNBio: todos lá já sabiam. Acontece que a CTNBio não é o fórum para esta discussão, pois ela por lei  se atém à AVALIAÇÃO DE RISCO do OGM. A questão da resistência é da alçada do MAPA que conhece, evidentemente, muito bem o problema e toma as providências necessárias.

Pode-se chamar de lógica mercantil dar ao mercado a oportunidade de avaliar as vantagens que uma tecnologia oferece, com seus riscos. Mas isso não se antepõe à ciência e ao princípio da precaução! Para isso a biossegurança é previamente avaliada e a adequação do produto ao seu fim atestada pelos órgãos de fiscalização e controle. Toda tecnologia tem riscos e o mercado e as leis do país regem isso. Não é preciso que os arautos da verdade venham colocar o dedo no nariz do regulador, do fiscalizador e do agricultor e dizer que a ciência independente prova o contrário e que o princípio da precaução diz que se rejeite a tecnologia.

Resta-se saber de quem é a “culpa” do aparecimento de algo que se sabe que, cedo ou tarde, vai aparecer. E, mais importante, resta avaliar a extensão do prejuízo: dito pela boca de quem perdeu dinheiro, será sempre um grande prejuízo, mas isso é prá lá de tendencioso. Mas a perda relatada não é no Brasil todo, só no Oeste da Bahia. E, ainda que seja grave, não passará de 4%.  Evidentemente, a seca e outros fatores ligados às culturas locais, aos solos e às práticas agrícolas determinam este aparecimento de forma MUITO MAIS IMPORTANTE que os transgênicos. A maneira correta de se posicionar sobre isso é aguardar que o MAPA avalie a questão, junto com as associações de produtores agrícolas e com os produtores de sementes. Antes disso, é tudo uma cacofonia com pouco sentido, embora sirva como alerta.

sábado, 16 de março de 2013

Relatório da Comissão de Seguridade Social e Família é falho e preconceituoso na avaliação dos transgênicos

A Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (13/03/2013), por unanimidade, o relatório do deputado Nazareno Fonteles (PT-PI) que trata dos avanços e desafios das políticas públicas de segurança alimentar e nutricional no Brasil.

O relatório aborda importantes pontos sobre a questão da segurança alimentar brasileira. Tem, contudo, um claro viés anti-biotecnologia, abordando a questão das plantas transgênicas de forma anticientífica e trazendo, desde as premissas da análise até sua conclusão, conceitos e afirmações errôneas que circulam amplamente na internet, alimentados pelo movimento de oposição ideológica à biotecnologia agrícola.

Vale a pena uma análise de alguns pontos do relatório.
Comecemos pelo excerto abaixo, retirado da página 12.

O desafio de nortear as políticas públicas buscando avançar no sentido de mudar o modelo vigente, como avançar reduzindo os problemas que se apresentam e as ameaças que põe em perigo a segurança alimentar de nossa população, como o aumento da adoção de transgênicos, que está associada ao aumento do uso do agrotóxico e à monocultura foi ponto de reflexão. 

É claro que se deve refletir de forma muito séria sobre as políticas públicas e sua forma de apoiar ou modificar modelos produtivos vigentes. Num país de economia aberta, os modelos produtivos são determinados pelo mercado, mas o apoio de políticas públicas pode ser importante. Mudar as políticas pode ou não mudar modelos produtivos, e isso deve ser refletido de forma muito cuidadosa. Entretanto, bem antes de querer mudar o modelo de produção da agricultura brasileira, que inclui desde pequenos agricultores familiares até grandes produtores num sistema de agronegócio globalizado, é preciso saber a razão para esta mudança, uma vez que o modelo atual foi atingido pelo mercado, de forma quase espontânea. Porque o Estado deveria impor sua vontade sobre o mercado? E, para além da razão, é preciso avaliar as bases científicas e técnicas que apoiam a necessidade desta mudança.

No recorte do texto do relatório mostrado acima, a Subcomissão apresenta de forma confusa o conceito de que a adoção da transgenia por parte dos agricultores brasileiros é um problema, uma vez que está associada ao aumento do uso de agrotóxicos e à monocultura. Nada pode ser mais falso. Comecemos pela monocultura. Este modelo de agronegócio é tão antigo como o Brasil. A monocultura canavieira tem 5 séculos e até hoje não usa variedades transgênicas. Muito antes das variedades transgênicas chegarem ao Brasil, as culturas da soja e do milho já empregava este modelo. Da mesma forma, o algodão. Monocultura de laranja, eucalipto, feijão e um mundo de outras coisas é a regra no agronegócio brasileiro e no mundo afora. A transgenia não ajuda nem atrapalha este modelo, ela pode ajudar ou atrapalhar o agricultor, se a escolha da variedade não for adequada. Por outro lado, não há problema algum em associar transgênicos e cultivos de várias espécies numa mesma área. É o que fazem os pequenos agricultores que já usam milho Bt e consorciam com feijão e com outras leguminosas. A tecnologia GM de milho, soja ou algodão não é incompatível com a agricultura convencional mista, isso é uma visão de quem, do alto de seu gabinete na Esplanada, nunca viu uma plantação deste tipo.

O segundo desvio científico é atribuir à adoção dos transgênicos o aumento do uso de agrotóxicos. O que se esqueceu de adicionar ao cálculo foi o aumento da área agrícola brasileira, independentemente de se a plantação é transgênica ou não. Na verdade, houve uma redução do uso de agrotóxicos mais perigosos com a substituição por aqueles menos danosos ao ambiente, e que são justamente os que permitem o cultivo das plantas transgênicas. Houve, além disso, uma importantíssima redução do uso de inseticidas, e isso a Subcomissão parece desconhecer totalmente.

Partindo de uma ideia preconcebida e errônea, a Subcomissão caminha torta na análise das questões, despejando sobre a biotecnologia agrícola todo o fabulário que circula na internet. Se não, vejamos o excerto abaixo.

Efeitos deletérios sobre a saúde, decorrentes da ingestão de alimentos geneticamente modificados têm sido constatados tardiamente. O emprego de agrotóxicos tem-se multiplicado no Brasil, em decorrência do cultivo de plantas transgênicas, acarretando maiores danos à saúde humana. O patenteamento de sementes constitui ameaça à segurança alimentar e nutricional da população brasileira. 

São três temas muito diferentes, e assim vamos analisar cada um separadamente.

Primeiro, o que a Subcomissão chama de efeitos deletérios constatados tardiamente são os tumores mostrados nas figuras do trabalho de Séralini e colaboradores, publicado em setembro do ano passado (e que está citado no corpo do relatório). Ainda que o trabalho fosse verdadeiro (o que não é, de forma alguma! Veja-se http://genpeace.blogspot.com.br/2012/10/seis-academias-cientificas-francesas_9343.html), ele se refere a um certo tipo de milho tolerante a um certo herbicida. Estender esta acusação a todo e qualquer transgênico é um disparate tremendo e só pode ser fruto de uma ideologia que menospreza a ciência e seu método.

Segundo, e como vimos acima, o cultivo de plantas transgênicas não favorece o uso de agrotóxicos mais do que o das plantas convencionais. Ao contrário, ele pode reduzir muito o uso de inseticidas, no caso das plantas que expressam proteínas inseticidas, e pode ainda levar a uma troca de herbicidas mais tóxicos por outros de classe toxicológica inferior. Esta afirmação da Subcomissão é mais uma  das fábulas que circulam na internet, sem qualquer apoio nem na estatística, nem na ciência e na técnica agrícola.

Terceiro, a Subcomissão parece entender que somente as sementes transgênicas são patenteadas. Isso é, evidentemente, falso. O agronegócio no mundo todo trabalha com sementes melhoradas, que são vendidas a cada safra para os agricultores por diferentes fornecedores. Isso é válido para milho e soja, mas também para melão, mamão, coentro, laranja, arroz, feijão e um sem fim de outros produtos. Estas sementes podem ser de linhagens melhoradas ou híbridos. No caso dos híbridos, é indispensável a compra de novas sementes a cada novo plantio, por causa da segregação. No caso das linhagens, pode-se plantar na próxima safra, mas deve-se pagar os royalties. Isso porque a qualidade destas sementes e seu desempenho garantido devem ser de alguma forma pagas ao produtor da semente. O produtor pode, naturalmente, usar suas próprias sementes, sem a tecnologia embutida nas sementes melhoradas, ou buscar sementes com os fornecedores estatais. Se usar grãos de uma safra para o plantio da próxima, pode transportar doenças e pragas: é o caso do arroz vermelho, por exemplo, que contamina os grãos de arroz numa safra e se alastra pela plantação nas seguintes se o grão for usado como semente, e é o caso também de várias fruteiras, cujas doenças se propagam por sementes contaminadas. Se usar sementes distribuídas pelo Governo, vai ter uma boa produtividade, porém não atingirá a máxima produtividade requerida para certos mercados. O patenteamento de sementes nunca colocou em risco a segurança alimentar de nenhum país e esta ideia é mais uma fantasia propalada pela aragem virtual que roda os moinhos de vento da Internet.

Mais adiante o relatório afirma:

Observa-se, ainda, que a tecnologia das plantas transgênicas favorece a monocultura e
prejudica a biodiversidade, colocando-se portanto em sentido contrário ao desenvolvimento social que se faz necessário no meio rural brasileiro. 

A primeira afirmação (favorecimento da monocultura) já foi discutida. A segunda (prejuízo à biodiversidade) carece de qualquer evidência científica. É evidente que a agricultura é danosa ao meio ambiente, mas a agricultura que emprega plantas transgênicas não é mais danosa que a convencional, podendo até ter menos impacto (como no caso das lavouras Bt, resistentes a insetos). Apesar da adoção maciça dos cultivos transgênicos em mais de 170 milhões de hectares no Mundo, NUNCA se viu qualquer impacto específico sobre a biodiversidade que pudesse ser atribuído à transgenia. É muito fácil colocar num relatório afirmações sem embasamento nas estatísticas e na boa ciência, sobretudo quando seus autores não são especialistas em avaliação de risco nem em agricultura. Mas é um tremendo desserviço para o Brasil, se este relatório tem o peso de um documento parlamentar.

Em sua análise do processo de liberação de um organismo geneticamente modificado e da forma como a decisão é tomada, a Subcomissão argumenta que:

Trata-se, sim, de uma decisão política, que está além da ciência, eis que envolve o imponderável da economia e da sociedade. 

Não há dúvida que qualquer decisão que impacte diretamente a sociedade termina por ser uma decisão política, ainda que a forma como esta decisão é tomada não demonstre por vezes de forma evidente seu viés político. É exatamente o caso da política dos transgênicos. Se não vejamos:

A CTNBio faz EXCLUSIVAMENTE A AVALIAÇÃO DE RISCO. Isso significa dizer que ela avalia aspectos biológicos relativos ao transgênico, e nada mais. Uma vez dado o parecer (que em geral classifica os riscos identificados na avaliação), cabe ao CNBS pronunciar-se sobre outros aspectos (social, econômico, cultural, etc). E cabe aos Ministérios avaliar se o produto está dentro das especificações técnicas necessárias ao mercado. Nenhuma destas outras instâncias avalia riscos, mas podem bloquear um produto por razões sócio-econômicas ou culturais ou por questões de inadequação do produto às normas do mercado.  A subcomissão reclama que as questões sócio-econômicas não têm sido levadas em consideração pelo CNBS. Será por acaso que ele não se reúne para avaliar cada liberação da CTNBio? Claro que não! Esta é uma decisão de Governo, e parte do princípio de que, numa economia aberta de um país democrático, é o mercado que irá avaliar o produto. Sua adoção ou rejeição dependerão das forças do mercado, onde entram também as oposições ideológicas, as opiniões e direitos de minorias, as questões culturais e religiosas, etc. Se estas não tiverem força para contrarrestar a adoção de um produto, ele chegará ao mercado. Porque o Governo deveria interferir nisso sem sequer dar uma chance ao mercado de avaliar o produto (uma vez que foi considerado seguro pela CTNBio e dentro das normas pelo MAPA ou pela ANVISA)?

A interferência do Governo no mercado deve ser sempre de estímulo a novas formas de produção que deem aos brasileiros produtos melhores e mais baratos e que contribuam para a balança comercial, favorecendo assim um superávit essencial para sustentar os programas sociais do próprio Governo. Qualquer interferência que cerceie a inovação e o avanço tecnológico fatalmente condenará o país ao atraso e, como consequência, à pobreza.


Por fim, a Subcomissão sugere uma série de modificações na forma como os transgênicos devem ser analisados e liberados, e vale a pena aqui também uma análise da proposta. Está no relatório:

Esta Subcomissão considera necessário efetuarem-se alterações na Lei nº 11.105, de 2005, de modo a estabelecer: 
·         que as reuniões da CTNBio sejam públicas, medida fundamental para assegurar a transparência que a sociedade espera daquele instituição;
·         que a solicitação de uso comercial de OGM seja previamente apreciada pelos órgãos públicos federais nas áreas de saúde, meio ambiente e agricultura/pecuária ou pesca/aquicultura, no prazo máximo de 180 dias;
·         que, concluída a análise prévia, caberá à CTNBio proceder à análise técnica, quanto aos aspectos de sua competência e, sendo favoráveis todos os pareceres, a CTNBio deliberará sobre a autorização de uso comercial do OGM (salvo se o CNBS avocar a si a decisão); sendo contrários todos os pareceres, estará indeferida a solicitação; havendo pareceres divergentes,
·         caberá ao CNBS deliberar conclusivamente sobre a autorização de uso comercial do OGM. 
·         que órgãos ou entidades da administração pública direta ou indireta da União, dos Estados ou do Distrito Federal; partidos políticos com representação no Congresso Nacional; entidades de classe e outras entidades legalmente constituídas poderão apresentar recurso ao CNBS contra a decisão da CTNBio sobre a liberação comercial de OGM e derivados.

A primeira alteração (reuniões púbicas) é desnecessária, uma vez que as reuniões da CTNBio já são abertas ao público! É verdade que os membros da Subcomissão nunca lá botaram os pés, mas deveriam saber que as portas estão abertas.

As segunda e terceira alterações provam que a Subcomissão desconhece a sistemática de avaliação de um produto transgênico, seja aqui ou em qualquer outro país do Mundo. A avaliação de risco sempre antecede as demais análises, porque se o produto tiver riscos biológicos sérios, nem sequer será liberado pela CTNBio para posteriores análises. Inverter isso é colocar a carroça na frente do burro. Ademais, os outros órgãos governamentais citados têm assento na CTNBio. E por fim, estes mesmos órgãos não estão afeitos à avaliação de risco de OGMs, assunto extremamente específico, que deve ser tratado pelos especialistas na CTNBio.

Já a quarta alteração não altera nada: O CNBS já pode, se assim julgar necessário, sustar a comercialização de qualquer OGM.

A quinta alteração abre o leque das instituições que podem demandar ao CBNS uma ação de avaliação em relação a um OGM considerado seguro pela CTNBio. Agora apenas o IBAMA e a ANVISA podem solicitar ação do CNS. Porque estes órgãos? Porque representam o meio ambiente e a saúde humana. De fato, é um pouco incoerente, uma vez que a avaliação de risco de um OGM à saúde humana e ao ambiente não é função destes dois órgãos, mas da CTNBio, onde têm assento. Mas se pode compreender. Por outro lado, fatores sócio-econômicos, culturais e religiosos não foram levados em consideração pela CTNBio (que não pode mesmo considerá-los, pois extrapolam sua função como avaliadora de risco). Quem pode avaliar isso? Como dito acima, o Governo tem a política de deixar ao mercado esta avaliação e, até agora, isso tem dado certo: continua a crescer a adoção de transgênicos, mas também se consolida um importante mercado orgânico no país e os programas de apoio aos pequenos agricultores florescem. Nada indica que uma tecnologia impede a adoção da outra. Também não parece ser crítico, do ponto de vista cultural, que os grande produtores empreguem transgênicos: isso não afeta em nada os produtores que empregam sementes crioulas e os programas para preservação e distribuição destas sementes estão em crescimento. Se os novos agentes elencados na quinta proposta de alteração puderem solicitar ao CNBS que avaliem a decisão da CTNBio (que é meramente técnica e não inclui aspectos sociais, econômicos ou culturais), eles deverão apresentar argumentos científicos sólidos contra a decisão. Ora, o IBAMA e a ANVISA podem muito bem fazer isso. Se os novos agentes quiserem bloquear a liberação comercial de um OGM, deverão trazer uma argumentação nova, baseada em dados sócio-econômicos e culturais, e que demonstrem que o mercado NÃO SERÁ CAPAZ de evitar um dano importante ao país. Este é o tema sobre o qual o CNBS terá que se debruçar, não os aspectos de biossegurança.

Imaginemos agora quantos novos atores poderão apelar ao CNBS. Pela proposta da Subcomissão, seriam “órgãos ou entidades da administração pública direta ou indireta da União, dos Estados ou do Distrito Federal; partidos políticos com representação no Congresso Nacional; entidades de classe e outras entidades legalmente constituídas”, o que elevará os interlocutores à casa do milhar! É razoável que todos possam obrigar a que 11 Ministros de Estado se reúnam a cada vez que qualquer um deles se oponha a um OGM recém-liberado? É preciso mais sensatez nisso.

Por fim, concluindo sua argumentação a favor de um modelo agrícola familiar e contra o agronegócio, a Subcomissão afirma:

A necessidade de uma transição entre o modelo vigente, que privilegia a concentração fundiária, a transgenia, o uso do agrotóxico, enfim o agronegócio, para um modelo que privilegie a agricultura familiar, camponesa e agrobiodiversa transitou em todas as audiências públicas e foi recorrente, independente do tema tratado, o que demonstra sua magnitude. 

Aqui está patente a nociva interferência do Estado no mercado. O agronegócio e os demais modelos de agricultura podem muito bem conviver (como convivem agora) e não é necessária transição alguma. O que é necessário é um pacote de políticas públicas que apoie as iniciativas de produção, independente de seu modelo, desde que respeitem o ambiente na sua tarefa de gerar riquezas à sociedade. Qualquer agricultura é danosa ao ambiente, mesmo a pequena agricultura, quando considerada a atividade por hectare plantado. Todas empregam herbicidas, inseticidas, movimentação de terra e outros elementos impactantes do ambiente. É insensato e falso atribuir apenas ao agronegócio o impacto ambiental, embora, dada suas dimensões, ele seguramente impacte mais que a pequena agricultura. Porém, se dividirmos este impacto pela área, encontraremos que o modelo de agricultura extensiva pode ser até menos impactante do que a pequena agricultura familiar, uma vez que a produtividade tende a ser muito maior.

Em conclusão, em relação especificamente aos cultivos transgênicos, o relatório é preconceituoso, falho e sugere atitudes autoritárias, propondo uma interferência nociva do Estado no mercado agrícola, retirando do agricultor seu direito de escolha, comprometendo a balança comercial brasileira e colocando em risco os programas sociais brasileiros. 

segunda-feira, 4 de março de 2013

On the 'forgotten" gene that could be harmful in transgenic plants: regulators did not miss it


Scientific assessment of Publication: Podevin & Du Jardin on possible new peptides derived from potential ORFs in the CMV promoter

GenPeace team

A paper by Podevin and du Jardin entitled “Possible consequences of the overlap between the CaMV 35S promoter regions in plant transformation vectors used and the viral gene VI in transgenic plants” was recently published in GM Crops and Food 3: 1-5 (http://www.es.landesbioscience.com/journals/gmcrops/2012GMC0020R.pdf). Some of the paper results were reinterpreted by groups against biotechnology as a proof that regulators all over the world did not see an important source of risk in transgenic plants.

The authors argument that the cauliflower mosaic virus 35S promoter has a long overlap to the P6 viral gene sequence and that could lead to the expression of segments of this gene or putative ORFs in other reading frames. As take from the paper, the authors “ more specifically … address whether potential expression of the ORFs contained by the P35S promoter overlapping with gene VI: (1) may affect the plant phenotype and (2) show similarity to known allergenic and toxic proteins”.

The first question we must ask is if there is any potential for such expression. The overlapping sequence from P6 is, indeed, part of the CMV promoter and no part of the gene lay downstream of it. This promoter drives the transcription of sequences lying downstream of it (starting from position +1). An inspection of Figure 1 (see scheme below) shows that position +1 is well below (3´) the end of P6 coding sequence . This means that essentially no part of the P6 gene could be transcribed, as IT IS NOT PRESENT in the transgenic construction as a DNA segment able to be transcribed from the CMV promoter. The only possibility for P6 to be transcribed would be from a plant promoter located upstream of the CMV promoter. There is no evidence in the literature or in regulatory documents suggesting such transcription exists.


Figure 1. (A) Relative position of P6 gene 3’ end and of the CMV promoter 3´end (8 bases upstream of position +1) and (B) possible small ORFs in frames +2 and +3 relative to the regular frame of expression of the P6 gene.

The second question is related to the possible (although never detected) transcription and further translation of any part of the P6 gene, either in its original frame or in one of the two remaining frames. If a plant promoter able to drive a significant number of copies of any P6 gene segment exists, there would be primary transcripts in the nucleus bearing a part of the p6 ORF or any one of the six small ORFs in the other two frames. However, to be translated, these RNAs have to be polyadenilated, what can only happens if a poliadenilation signal exists in the 3´end of the RNA. The only such signal is way down (3´) of the promoter, indeed after the transgene. Therefore, any such unlikely RNA would be longer than the usual mRNAs starting from the CMV promoter +1 position, but would contain the transgene and would, therefore, be detected in the regular Southern blots used to check for mRNA expression in all regulatory documents.

The unlikely existence of a convenient promoter just upstream of the insertion site and the fact that such long mRNA were never detected lead us to conclude that this is merely a theoretical speculation with very remote possibilities to occur.

Moreover, the peptides encoded in frames +2 and +3 (assuming +1 as the frame enabling the expression of P6) are very small (the largest is only 87 amino acids long) and therefore have a very remote chance of being toxic (see Figure 1B). As for allergies, they can´t elicit a response, due to their small size, except in association with haptens. Polypeptides representing the transcription and further translation of stretches of the P6 gene could be large enough as to elicit allergies or have any toxicity, but it was never reported that any CMV protein is allergenic, although they may be found in infected vegetables. Bioinfo data also suggests the inexistence of a potential for allergenicity or toxicity for any of the possible ORFs.

The route to damage (an essential step on risk assessment) therefore shows that if is very unlike that a new unexpected protein will be produced. Moreover, the damage (allergenicity or toxicity) is not defined, as there is no potential for either allergenicity or toxicity in the small peptides derived from the ectopic ORFs. Highly toxic proteins are very well known and the eventual toxicity of these peptides, if any, will be very low. We can than safely conclude that both the probability of damage and its magnitude are very small and the risk can surely be classified as negligible.  

As for the authors´ first concern (changing the phenotype), we should take into consideration that this can only happen if new unexpected proteins are produced in such amounts as to significantly disturb the plant metabolism. The probability of expression is, as we discussed above, very small. Moreover, there is no reason to expect that small peptides or even parts of the P6 protein could change the plant phenotype. Finally, any phenotypic change derived from this eventual expression would be readily detected by the plant growers and would very unlikely lead to any health or environmental harm. To conclude, the risk for this hypothesis is also negligible.

The risk assessment described above follows many R.A. guidelines. The conclusions are clear: negligible risks are to be expected. The conclusions are in contrast to those described by Genok (http://www.genok.com/news_cms/2013/january/vitenskapelig-vurdering-av-publikasjon-fra-podevin-og-du-jardin-2012/181), an institution clearly against modern biotechnology and prone to find risks were they do not exist; in the absence of similarity to know allergens or toxic peptides, Genok sticks to the idea that these databanks are still incomplete and that regulators must therefore be ultra cautious.

They also argument that “a potential change in the plant phenotype in new GM plants can be identified by transcriptomics, proteomics, or other profiling technology”. This is simply not true essentially  because the complexity of the data usually generated by these techniques preclude any useful conclusion on risk assessment .

Moreover, they argue that “applicants or producers of GM plants should provide the genetic information concerning new ORFs to the regulators”. Genok possible does not know, but applicants do discuss the existence of new ORFs, whenever relevant, what is seldom the case.

Finally, Genok also criticizes the methodology and says “This approach ignores the potential availability of protein domains of toxins and allergens in the linear translated sequences. Domains are the functional portions of proteins and consist of at least 25 amino acids”. As explained in the paper, the authors used Blastx to compare sequences and this software displays conserved domains in the first box of results, if they exist…



domingo, 3 de março de 2013

O gene "esquecido" pelos avaliadores de risco de transgênicos: mentiras e verdades

Caros leitores, mais uma vez temos uma informação sobre transgênicos circulando na internet que não corresponde à verdade. Os órgãos reguladores (CTMNio e seus correspondentes mundo afora), desde o início da avaliação de riscos das plantas transgênicas, sempre se preocuparam com ORFs (pequenos trechos de DNA que podem ser potencialmente traduzidos em proteínas) criadas pela inserção da construção transgênica. Podevin e Du Jardin mostraram que há uma série de ORFs teóricas dentro do promotor do vírus do mosaico da couve flor, que é empregado em várias variantes nas construções de transgênicos. Todos os avaliadores de risco já sabíamos disso, mas ocorrem duas coisas importantes:
a) estas ORFs são muito pequenas e, consequentemente, a proteína expressa será, na verdade, um pequeno polipeptídeo, com altíssimas probabilidades de não ter função alguma.
b) elas não têm um promotor a partir da qual pudessem ser expressas. Na verdade, elas fazem parte de um promotor (o tal pCMV35) que vai permitir a expressão do gene clonado. Assim, é altamente improvável que venham a ser expressas nas células da planta transgênica.
Por isso, nunca se deu qualquer ênfase a elas, pois não há uma "rota ao dano" que possa ser estabelecida se não há expressão dos segmentos gênicos das ORFs. Numa abordagem teórica os autores Podevin e Du Jardin concluem, por outro lado, que não há similaridade com alérgenos nem com toxinas. Portanto, ainda que fossem expressas, não causariam qualquer dano ao homem ou aos animais que consumissem produtos onde estivessem presentes.
Quanto à ligação com o tal gene VI, é um artifício de retórica. As ORFs teóricas estão em quadros de leitura diferentes do gene VI e, portanto, os pequenos peptídeos eventualmente produzidos não têm semelhança alguma com a proteína codificada pelo gene VI (a P6 viral). Por fim, o artigo não coloca em questão os trabalhos dos avaliadores anteriores nem sugere que os possíveis peptídeos sejam perigosos.
Para os que quiserem exercitar seus conhecimentos de BLAST e ORF Finder, o genoma tem 8.024 pares de bases (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/nuccore/NC_001497.1) e o segmento gênico de interesse se chama reading frame (VI), cuja sequência gênica pode ser encontrada no link acima. Verão que há seis pequenas ORFs, em quadros de leitura 5´-3´, mas diferentes do quadro de leitura original. A maior delas codifica teoricamente um peptídeo de apenas 87 aminoácidos, que tem baixíssima similaridade com apenas quatro proteínas do banco de dados do NCBI. Como exercício, podem blastar as ORFs menores.
Abaixo está a ORF (frame) (VI)
>gi|9626938:5776-7338 Cauliflower mosaic virus, complete genome
ATGGAGAACATAGAAAAACTCCTCATGCAAGAGAAAATACTAATGCTAGAGCTCGATCTAGTAAGAGCAA
AAATAAGCTTAGCAAGAGCTAACGGCTCTTCGCAACAAGGAGACCTCTCTCTCCACCGTGAAACACCGGA
AAAAGAAGAAGCAGTTCATTCTGCACTGGCTACTTTTACGCCATCTCAAGTAAAAGCTATTCCAGAGCAA
ACGGCTCCTGGTAAAGAATCAACAAATCCGTTGATGGCTAATATCTTGCCAAAAGATATGAATTCAGTTC
AGACTGAAATTAGGCCCGTAAAGCCATCGGACTTCTTACGTCCACATCAGGGAATTCCAATCCCACCAAA
ACCTGAACCTAGCAGTTCAGTTGCTCCTCTCAGAGACGAATCGGGTATTCAACACCCTCATACCAACTAC
TACGTCGTGTATAACGGACCTCATGCCGGTATATACGATGACTGGGGTTGTACAAAGGCAGCAACAAACG
GTGTTCCCGGAGTTGCGCATAAGAAGTTTGCCACTATTACAGAGGCAAGAGCAGCAGCTGACGCGTATAC
AACAAGTCAGCAAACAGATAGGTTGAACTTCATCCCCAAAGGAGAAGCTCAACTCAAGCCCAAGAGCTTT
GCGAAGGCCTTAACAAGCCCACCAAAGCAAAAAGCCCACTGGCTCATGCTAGGAACTAAAAAGCCCAGCA
GTGATCCAGCCCCAAAAGAGATCTCCTTTGCCCCAGAGATCACAATGGACGACTTCCTCTATCTCTACGA
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TTCAATTTCAGAAAGAATGCTAACCCACAGATGGTTAGAGAGGCTTACGCAGCAGGTCTCATCAAGACGA
TCTACCCGAGCAATAATCTCCAGGAGATCAAATACCTTCCCAAGAAGGTTAAAGATGCAGTCAAAAGATT
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ACGATTCAAGGCTTGCTTCACAAACCAAGGCAAGTAATAGAGATTGGAGTCTCTAAAAAGGTAGTTCCCA
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GCCGACAGTGGTCCCAAAGATGGACCCCCACCCACGAGGAGCATCGTGGAAAAAGAAGACGTTCCAACCA
CGTCTTCAAAGCAAGTGGATTGA

Em seguida o resultado do Blast.

 Por que a mentira pelo lado dos "ambientalistas"?