terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Carta de cientistas em apoio à CTNBio é entregue em audiência pública do Ministério Público Federal sobre transgênicos e agrotóxicos

Durante a audiência pública organizada pelo Ministério Público Federal em Brasília, no dia 12 de dezembro deste ano (2013), um grupo de pesquisadores entregou ao Procurador Mário Gisi uma carta onde afirmam sua confiança na CTNBio e seu apoio aos procedimentos de avaliação de risco daquela Comissão. Os signatários reafirmam também a importância da biotecnologia para nosso país.
A carta tem especial importância no cenário atual, quando a CTNBio parece exposta a críticas, alguma vezes ferozes, de alguns setores da sociedade. Ainda que julguemos que a maior parte das críticas não tem fundamento, estamos certos de que a carta de apoio vem em bom momento.
Abaixo está a carta e, ao fim da postagem,a lista dos signatários e links para seus CVs no banco de dados do CNPq.



Aluísio Borém, Pós-doutor em Genética e Melhoramento, UFV - http://lattes.cnpq.br/7301212823538522
Claudinei da Cruz, Pós-doutor em Ciências Agrárias, Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos - http://lattes.cnpq.br/1023527914463601
Flávio Zambrone, Doutor em Medicina, Unicamp - http://lattes.cnpq.br/2875059025308448
Leandro Astarita, Doutor em Ciências Biológicas, PUCRS - http://lattes.cnpq.br/3296788443136390
Luiz Foloni, Doutor em Agronomia, Unicamp - http://lattes.cnpq.br/2084234772979752
Marcelo Gravina, Doutor em Fitopatologia, UFRGS - http://lattes.cnpq.br/6209553608783543
Nelson Harger, Doutor em Agronomia, Emater
Paulo Andrade, Doutor em Ciências Biológicas, UFPE - http://lattes.cnpq.br/5792312135796017
Ribas Antônio Vidal, Pós-doutor em Ciências Agrárias, UFRGS - http://lattes.cnpq.br/3680929576088780
Ricardo Ralisch, Doutor em Agronomia, UEL -  http://lattes.cnpq.br/3620197655490764
Rone Batista, Doutor em Agronomia, UENP - http://lattes.cnpq.br/2379804514613050

Walter Boller, Doutor em Agronomia, UPF -  http://lattes.cnpq.br/8490766131954418

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Audiência pública no MPF traz verdades e mentiras sobre transgênicos

A primeira parte da audiência pública hoje, dia 12 de dezembro de 2013, no Auditório Pedro Jorge, no MPF de Brasília, trouxe algumas surpresas. A sala estava lotada, mas a maioria esmagadora era de pesquisadores, reguladores e gente das empresas. Um pequeno grupo de opositores aos transgênicos, já bem conhecido, esteve também presente e, essencialmente, nenhum representante dos demais segmentos da sociedade. A bem da verdade, tivemos o depoimento de um pequeno agricultor de algodão de Catuti, que relatou sua excelente experiência com o uso de algodão GM.

Os expositores da manhã foram divididos em dois grupos: de um lado, acadêmicos e o representante da Dow Agrosciences mostraram dados que apoiavam a segurança dos eventos de soja e milho tolerantes ao 2-4 D, e do outro, dois pesquisadores que se opõem aos transgênicos trouxeram dados que, segundo eles, colocam em cheque a avaliação que se fez na CTNBio e apontam para o risco de um aumento grande do uso deste herbicida.


Independente de quem possa estar certo ou errado neste debate, o que saltou à vista foi o ataque de um dos palestrantes, o Dr. Rubens Nodari, à forma de atuar da CTNBio e ao sistema de biossegurança de OGMs no Brasil, que ele classificou de perverso. Entretanto, a maior parte do que disse não corresponde aos fatos e demonstra um perigoso viés ideológico, sobretudo num fórum público onde se busca a verdade. Como exemplo paradigmático de suas falas distorcidas, o Dr. Nodari afirmou que o Princípio da Precaução, como previsto no Protocolo de Cartagena, é sistematicamente violado na CTNBio. Ocorre que, na visão dele, o princípio afirmaria que, em caso de dúvidas, não se deve adotar uma tecnologia. Ora, o Princípio não diz nada disso! O que está escrito é bem diferente: no caso em que houver evidências de que danos graves e irreversíveis possam acontecer, não se pode adiar medidas de mitigação ou prevenção destes riscos. A adoção proposital de um “princípio da precaução” da cabeça dele leva a conflitos sérios e à confusão, neste caso proposital, dos membros do MPF. Uma barbaridade.
A questão é ainda mais grave porque outras distorções de igual quilate estiveram presentes nas falas do ilustre professor.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O que cabe à CTNBio e quais são seus procedimentos: subsídios à audiência pública do MPF sobre transgênicos no dia 12 de dezembro de 2013

Entre os temas que serão tratados na audiência está o papel da CTNBio na sociedade, com mesa programada para as 15h40 (http://4ccr.pgr.mpf.mp.br/atuacao/encontros-e-eventos/audiencia-publica/audiencia-publica-transgenicos-2-4-d/programacao_diagramada_transgenicos1.pdf). Entre os assuntos específicos a serem abordados listados na programação estão:
1) Estrutura e composição da CTNBio
2) Implicações éticas e socioeconômicas das deliberações da CTNBio
3) Publicidade e transparência nas decisões
4) Sugestões de aprimoramento dos processos de avaliação das solicitações de liberação comercial de transgênicos.

O primeiro assunto é de competência da lei 11.105/2005. É interessante que se debata a questão da composição da CTNBio e de sua estrutura, pois pode subsidiar um futuro aprimoramento do órgão. Entretanto, o ponto principal é, na verdade, a atribuição da CTNBio, que também está estabelecida por lei e restringe-se à avaliação de risco. Embora este assunto não esteja explicitamente mencionado, seguramente ele permeia todas as demais discussões e por isso oferecemos ao leitor todos os links abaixo, que tratam desta questão e do modus operandi da avaliação de risco.

O segundo assunto está englobado no que chamamos análise de risco, quando o objetivo é lançar um novo produto ou apenas liberá-lo para testes. Num contexto mais amplo, ele implica na análise de um amplo cenário socio-economico-cultural: não são, em si, as deliberações da CTNBio que estão em jogo, mas o impacto dos novos produtos e suas tecnologias na sociedade, como ocorre com qualquer novo produto. Este impacto (ético e socioeconômico) não é uma questão filosófica, mas pode e deve ser mensurado, o que pede a participação e opinião de especialistas em tecnologia novas e seus impactos sociais. A discussão pode trazer importantes reflexões sobre a forma como a compreensão ampla das implicações tecnológicas pode afetar uma decisão técnica, mas a escassez de tempo e a falta de especialistas e, sobretudo, de dados concretos para nosso país, talvez reduzam os resultados da discussão. Contudo, a chamada do tema pode orientar futuras discussões num fórum mais adequado, baseadas em dados ainda a serem gerados.

O terceiro tema volta a envolver questões diretamente ligadas às leis do país e não cremos que a discussão redundará em qualquer ganho, uma vez que os membros da CTNBio presentes não são especialistas em leis e que a AGU já se pronunciou sobre esta questão, assim como poderá voltar a fazê-lo, sempre que necessário. De toda forma, a CTNBio é hoje a comissão mais aberta de todas as que existem em Brasília, sobretudo em comparação com comissões análogas instituídas no âmbito de outros ministérios. Pode-se melhor alguma coisa? Sim, seguramente, e a ativação do SIB, assim como a adoção de formulários e linguagem mais padronizada para os pareceres, podem facilitar a transparência e permitir comparação de documentos, tanto através do SIB como através da Biosafety Clearing House da CBD.

O quarto assunto específico é o que demanda mais reflexão, uma vez que sugestões de mudança operacional requerem a compreensão do todo, incluindo os aspectos legais, a forma de atuação da ciência, a forma como são feitas avaliações de risco no Mundo e o que a sociedade pede da Comissão. É justamente no sentido de subsidiar estas discussões que passamos os links para os textos que se seguem.

Os três componentes da análise de risco de transgênicos
Consolida-se no mundo uma divisão cada vez mais clara das três etapas da análise de risco e da forma como estas partes se articulam na decisão final de liberação de atividades com um organismo geneticamente modificado (OGM ou transgênico).

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O que cabe à CTNBio? Reflexões sobre avaliação de risco, análise de risco, método científico e visões divergentes sobre biossegurança
O modus operandi da CTNBio pode não agradar a quem julga que os riscos dos OGM devem ser analisados por uma ótica global, mas está baseado na lei e na experiência prévia no país e no mundo. O texto trata de vários conceitos e preconceitos em relação à atuação da CTNBio.

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Maioria e reducionismo na CTNBio
Neste texto a questão da opinião majoritária, do consenso e dos votos divergentes é tratada em detalhe, assim como a anteposição entre uma visão focada e pragmática da avaliação de risco e uma visão holística e muito mais complexa da análise de risco.

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Vozes isoladas na ciência: quebra de paradigma ou desvio metodológico? O caso dos transgênicos
      A questão da discordância de resultados e conclusões no âmbito da Ciência está ligada à opinião majoritária e ao consenso e, em última instância, ao método científico. Neste texto aborda-se o tema através de vários exemplos.

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Transgênicos, banimento francês do milho GM e o pedagogo Paulo Freire: lições de avaliação de risco e compromisso do profissional com a sociedade.
Na primeira parte deste texto discutimos as implicações de decisões de governo baseadas em pressão de setores públicos e contrárias à ciência e na segunda parte aprofundamos os conceitos relativos ao humanismo e à ciência e rejeitamos a hipótese de que sejam conflitantes.

Boa leitura a todos.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Many recent papers contradict Séralini´s results and show no evidences of cancer in rats fed with GM food

A long year was wasted in useless discussions between the Food and Chemical Toxicology acceptance of the infamous Séralini paper and its withdrawal; a sudden tide of obstructive actions to impair GMO adoption was observed and it will not recede so easily. Why did it take so long for FCT to take an action?

As it is shown below, a long list of recently published papers with results that contradict Séralini conclusions and even his results. Surely, many more papers were published before Séralini´s paper, but the concentration of new papers on GMO food safety with Sprague-Dawley rats is impressive. It possibly represents an implicit call for papers by FCT, in an attempt to subsidize its decision to ultimately withdraw the now completely isolated Séralini´s opus.

The most relevant paper is that from Zhang et al.(2013), following a methodology that closely resembles that of Séralini, although using GM rice as a model. We strongly suggest a careful reading of all these papers before revisiting the Séralini paper.

List of recent papers

Food Chem Toxicol. 2013 Nov 5;63C:76-83. doi: 10.1016/j.fct.2013.10.035. [Epub ahead of print]
Long-term toxicity study on transgenic rice with Cry1Ac and sck genes.

Abstract

In the present work, we evaluated the chronic effects of the transgenic insect-resistant rice carrying Cry1Ac and sck genes on Sprague-Dawley (SD) rats through a 78-week feeding study. Based on the gender and weight, 180 SD rats were randomly and evenly assigned into three groups. GM rice and non-GM rice were separately formulated into diets at high levels. AIN-93 diet was used as a nutritional control. Body weight, food consumption, hematology and serum chemistry were monitored regularly. Rats were sacrificed for organ weight measurement and pathological examination at 52weeks and 78weeks. Body weight, food consumption, mortality rates, tumor incidences and pathological findings showed no significant difference among the three groups. Although certain differences in some hematology, serum chemistry parameters and relative organ weights were observed between GM rice group and control groups, they were not considered as treatment-related. Taken together, long-term intake of transgenic rice carrying Cry1Ac and sck genes at a high level exerts no unintended adverse effects on rats.


Food Chem Toxicol. 2012 Jun;50(6):1902-10. doi: 10.1016/j.fct.2012.04.001. Epub 2012 Apr 9.
A three generation study with high-lysine transgenic rice in Sprague-Dawley rats.

Abstract

Lysine-rich rice (LR) is a transgenic rice produced by fusion protein expressed genes into the germline of rice seeds. Compositional analysis of LR showed that the absolute concentration of lysine was significantly higher as compared to a near-isogenic non-transgenic rice. Lysine is believed to be the first limiting essential amino acid in rice, it is important to improve lysine content on rice nutritional quality. Here we report the results of a three generation study comparing the outcome in rats fed the transgenic rice to those fed conventional, near-isogenic rice or a control diet. In the study, both clinical performance variables and pathological responses such as body weight, food consumption, reproductive data, hematological parameters, serum chemistry and relative organ weights were examined respectively. It was evident that there were no adverse effects observed in rats that were fed transgenic rice compared with non-transgenic rice. There were significant differences in some hematology, serum chemistry parameters and relative organ weights in rats consuming the transgenic rice diet or non-transgenic rice diet compared with the control diet, but no macroscopic or histological adverse effects were observed. So the results from this study demonstrate that LR rice is as safe as near-isogenic non-transgenic rice.



Tang X, Han F, Zhao K, Xu Y, Wu X, Wang J, Jiang L, Shi W.
PLoS One. 2012;7(12):e52507. doi: 10.1371/journal.pone.0052507. Epub 2012 Dec 27.

Abstract

In a 90-day study, Sprague Dawley rats were fed transgenic T1C-1 rice expressing Cry1C protein and were compared with rats fed non-transgenic parental rice Minghui 63 and rats fed a basal diet. No adverse effects on animal behavior or weight gain were observed during the study. Blood samples were collected and analyzed, and standard hematological and biochemical parameters were compared. A few of these parameters were found to be significantly different, but were within the normal reference intervals for rats of this breed and age, and were thus not considered to be treatment-related. Following sacrifice, a large number of organs were weighed, and macroscopic and histopathological examinations were performed with no changes reported. The aim of this study was to use a known animal model to determine the safety of the genetically modified (GM)rice T1C-1. The results showed no adverse or toxic effects due to T1C-1 rice when tested in this 90-day study.

Cao S, He X, Xu W, Luo Y, Yuan Y, Liu P, Cao B, Shi H, Huang K.
IUBMB Life. 2012 Mar;64(3):242-50. doi: 10.1002/iub.601. Epub 2012 Jan 3.

Abstract

Bacillus thuringiensis rice is facing commercialization as the main food source in the near future. The unintended effects of genetically modified (GM) organisms are the most important barriers to their promotion. We aimed to establish a new in vivo evaluation model for genetically modified foods by using metabonomics and bacterial profile approaches. T1c-19 rice flour or its transgenic parent MH63 was used at 70% wt/wt to produce diets that were fed to rats for 90 days. Urine metabolite changes were detected using (1)H NMR. Denaturing gradient gel electrophoresis and real-time polymerase chain reaction (RT-PCR) were used to detect the bacterial profiles between the two groups. The metabonomics was analyzed for metabolite changes in rat urine, when compared with the non-GM rice group, where rats were fed a GM rice diet. Several metabolites correlated with rat age and sex but not with GM rice diet. Significant biological differences were not identified between the GM rice diet and the non-GM rice diet. The bacteria related to rat urine metabolites were also discussed. The results from metabonomics and bacterial profile analyses were comparable with the results attained using the traditional method. Because metabonomics and bacterial profiling offer noninvasive, dynamic approaches for monitoring food safety, they provide a novel process for assessing the safety of GM foods.

Food Chem Toxicol. 2013 Mar;53:417-27.

Thirteen week rodent feeding study with grain from molecular stacked trait lepidopteran and coleopteran protected (DP-ØØ4114-3) maize.

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23261672

Abstract

The results from a subchronic feeding study conducted in Sprague–Dawley rats fed with diets containing grainfrom 4114 (OECD unique identifier: DP-ØØ4114-3) maize that was untreated (4114) or sprayed in field with glufosinate ammonium (4114GLU) in a design similar to previous studies are reported. The test material, 4114 maize, is a hybrid maize produced by transformation with a DNA construct encoding 4 different transgenicproteins for resistance to lepidopteran pests, coleopteran pests, and tolerance to the herbicidal active ingredient glufosinate ammonium. There were a total of 144 rats divided into 12 groups of 12 rats/sex/group. All experimental diets were formulated by Purina Mills, LLC (St. Louis, MO) in accordance with the standards of Purina Mills Labdiet® Certified Rodent LabDiet® 5002. The incorporation rate of maize grain in all diets was 32% (wt/wt). No biologically significant, treatment related differences in body weight, food consumption, clinical pathology parameters (hematology, blood chemistry, urinalysis, or organ weight) were observed in ratsconsuming the diets containing 4114 maize grain compared with rats fed conventional maize diets. A number of histologic observations were noted in this study but were background lesions and representative of what would be expected for rats of this age and strain. An independent panel of experts determined certain observations to be spontaneous and not related to the test diet. Accordingly, these results support the conclusion that 4114 maize grain is as safe and nutritious as conventional maize grain.



Zhou XH, Dong Y, Xiao X, Wang Y, Xu Y, Xu B, Shi WD, Zhang Y, Zhu LJ, Liu QQ.
Food Chem Toxicol. 2011 Dec;49(12):3112-8. doi: 10.1016/j.fct.2011.09.024. Epub 2011 Sep 24.

Abstract

A transgenic rice line (TRS) with high amylose level has been developed by antisense RNA inhibition of starch branching enzymes. Compositional analysis of TRS demonstrated that the content of resistant starch (RS) was significantly higher compared to conventional non-transgenic rice. High level of RS is an important raw material in food industry and has various physiological effects for human health. In order to provide the reliable theory basis for field release of TRS rice, we evaluated the potential health effects of long-term consumption of the TRS. The 90-day toxicology feeding experiment was conducted in Sprague-Dawley rats fed with diets containing 70% of either TRS rice flour, its near-isogenic rice flour or the control diet. The clinical performance variables (body weight, body weight gain and food consumption) were measured and pathological responses (hematological parameters and serum chemistry at the midterm and the completion of the experiment, urinalysis profile and serum sex hormone response at the completion of the experiment) were performed. Besides, clinical signs, relative organ weights and microscopic observations were also compared between TRS group and its near-isogenic rice group. The combined data indicates that high-amylose TRS grain is as safe as the conventional non-transgenic rice for rat consumption.



sábado, 30 de novembro de 2013

Sepultando um zumbi? O artigo científico que nasceu morto, foi “ressuscitado” pela Food and Chemical Toxicology, morto pela comunidade científica, mantido como zumbi pela oposição aos transgênicos e outra vez morto, desta vez pela revista que lhe deu vida...

Está na hora de historiar brevemente a vida, a morte e a morte deste “Quincas Berro D´água” pseudo-científico. O trabalho de “pesquisa” do professor Séralini e de seu grupo era, desde sua concepção, uma armadilha, montada de cabo a rabo para “demonstrar” que milho transgênico e glifosato causavam câncer. Nenhuma revista séria deveria aceitar um artigo com a metodologia apresentada e, sobretudo, com as conclusões sacadas dos resultados. O que aconteceu?

Pois bem: a Food and Chemical Toxicology, considerada uma revista importante na área, mordeu a isca, provavelmente de olho na turbinagem de seu citation index, uma vez que era evidente a “sede por polêmica” na área de biossegurança de transgênicos. Depois de uma revisão por pares a revista aceitou o artigo para publicação. Séralini e seus camaradas lançaram a coisa na mídia, através de um acordo de confidencialidade com os jornalistas, que os impedia de consultar especialistas antes de divulgar a história. Com isso, um trabalho natimorto foi trazido à vida pela revista e lançado aos palcos do mundo pela mídia irresponsável.

Imediatamente a comunidade científica em peso gritou que aquilo era um morto-vivo, sem substância, um aborto científico disfarçado em artigo publicado; enfim, uma vergonha. Um punhado de cientistas, alinhados à oposição aos transgênicos, andou espantando as moscas que insistiam em rodar em volta do zumbi e a oposição divertiu-se em mostrá-lo de novo e de novo ao público, exposição repetida ad nauseam pelos blogueiros da internet desprovidos de espírito crítico. Instituições dos dois lados desta luta ideológica se empenharam em meter a estaca de carvalho no peito do zumbi ou, ao contrário, enfeitá-lo de roupagens reais e mostrá-lo como forte, sadio e, sobretudo, “independente”. Academias de ciência, agências de avaliação de risco, grupos de cientistas “do sistema”, inclusive representantes da maioria na CTNBio, esfaquearam o morto-vivo. Curando as feridas estiveram os reanimadores, representados pelo IDEC, pelo CONSEA, pela AS-PTA e por uma minoria de membros da própria CTNBio (as duas listas não se esgotam com estes exemplos, por certo).

Esta dança macabra continuou por mais de um ano e, quando estava esfriando, mais por cansaço do que pela vitória de qualquer um dos lados, surge a retratação da revista no final de novembro de 2013 (http://genpeace.blogspot.com.br/2013/11/finalmente-revista-se-retrata-e-vai.html). Esta retratação era esperada e veio, também como esperado, como um vento que empurrou o morto-vivo para uma última sarabanda antes de mergulhar no esquecimento. Seria igualzinha à tempestade que, balançando o saveiro, mergulhou Quincas Berro D´água nas águas noturnas da baía de Todos os Santos. Será? Irá o corpo ao fundo e será devorado pelos peixes, ou boiará de volta e será trazido à praia para, mais uma vez, voltar aos bares e aos saveiros?

Há vários fatores em jogo quanto ao futuro do zumbi, que dependem da pouca intensidade da tempestade (as alegações do editor são uma piada de mau gosto, quase tão ruim quanto a aceitação do artigo, há mais de um ano atrás), da fome dos peixes na baía (a ciência oficial vai aplaudir, mas não vai arrastar nem a revista nem seus autores pelas pedras, para lhes tirar as tripas e devorar tudo), da vocação ressureicionista dos que esperam o corpo boiar (a oposição aos transgênicos me parece cansada de defender o bufão Séralini e outros palhaços de plantão) e das conjunções astrais.

Ofereço aos leitores uma lista de links para blogs anteriores que falam deste imbróglio.

O artigo do Séralini é um cavalo morto? Deveria ser, mas hoje ele virou um zumbi, ressuscitado aqui e acolá pela oposição mais teimosa aos OGMs - http://genpeace.blogspot.com.br/2013/09/o-artigo-do-seralini-e-um-cavalo-morto.html. Esta postegem refuta uma “lista de dez pontos” que pretensamente mostraria a validade das conclusões e da metodologia do Séralini e sua estreita relação com as metodologias e conclusões.

Séralini, o bufão dos transgênicos: como usar recursos públicos, os pares em ciência e a mídia para vender experimento feito na medida para provar hipótese errada - http://genpeace.blogspot.com.br/2012/10/seralini-o-bufao-dos-transgenicos-como.html. Nesta postagem escancara-se a falta de ética e as ligações perigosas do Séralini com as grandes redes de supermercado.

Brazil officially rejects Séralini´s results – no risk assessment revision is being suggested for NK603 maize. http://genpeace.blogspot.com.br/2012/10/brazil-officially-rejects-seralinis.html. A postagem recapitula o posicionamento oficial da CTNBio.

Outros links que recapitulam muito deste imbroglio.




quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Finalmente revista se retrata e vai retirar o artigo de Séralini e cols de 2012 - acabaram os ratos com tumor devido a milho transgênico ou glifosato?

Ratos com tumor depois de comer milho transgênico ou beber água contaminada com glifosato. Todos viram as horrendas fotos publicadas pelos jornais franceses mesmo antes da publicação do artigo pela Food and Chemical Toxicology. Alguns devem também ter visto o filme.

Saltava aos olhos, mesmo de um pesquisador novato, que havia algo de errado na metodologia: como é que ninguém havia visto nada parecido? Os tumores já apareciam com 4 meses de experimento e iam se agravando até que os ratos morriam cheios deles. Uma barbaridade. Não foi preciso esperar dois anos para ver os tumores e experimentos com 90, 120, 180 dias ou um ano abundam na literatura, mostrando que os milhos GM até hoje no mercado são seguros. Também para o glifosato, dezenas de artigos mostravam ausência de impactos importantes na saúde. Como conciliar estes resultados com a bomba midiática do Séralini?

Desde o início denunciamos neste site: o artigo não presta. Matamos a cobra e mostramos o pau, evidenciando suas fraquezas. Linkamos muitos outros sites e referências que também denunciavam o mesmo. Os "independentes", entretanto, continuaram defendendo Séralini e esta paródia de artigo. Agora a revista vai retirar o artigo, se o Séralini e seus colaboradores não o fizerem.Os termos da revista são, por sua vez, muito brandos e isso vai custar ao editor e à credibilidade da revista um bocado. Esperávamos todos que a revista baixasse o sarrafo no artigo, mesmo às custas de entregar de bandeja seu mau sistema de revisão por pares.

Isso acalma a polêmica? Mures requiescat in pace... De jeito nenhum! Não tenho bola de cristal, mas posso prever que os "independentes" acusarão a revista de ter cedido à pressão da Monsanto, entre outras hipóteses fantasiosas. Basta ver o que já circula pela internet, poucas horas depois que saiu a notícia.

Vai abaixo o texto saído em retractionwatch.com
Paulo Andrade

PS. Como esperado, Séralini e seus parceiros de luta já fizeram uma Press conference relâmpago, cujo conteúdo foi garimpado e repassado pela Lúcia de Souza para mim. Lá vai:

This morning MEP Lepage andSeralini cum suis organised an ‘Urgent Press Conference - Exclusive And Urgent Revelation Of A Science-Industry Link Endangering Public Health On A Main Pesticide And Its Tolerant GMO’.
As Seralini announced, the press conference was organised in haste, because he had received a letter from the Editor of the Food and Chemical Toxicology review informing him that they will withdraw his paper this Friday or next Monday.
The press conference was attended by 10 people, of which it is not clear how many journalists there were,  
I paste some poignant points from the press conference below.
 Some points from the Seralini/Lepage press conference.
Seralini cs hired a US law firm to get compensation for the consequences of the withdrawal of the article. Claim is journals  can withdraw a paper only in case of fraud or error – both are of course denied by Seralini, who said that he received letters of support from the European editor of the review, Mr. Domingo.
·        Lepage made a call to action at the end of the press conf:
o   For all scientists to take action against the pressure of lobby groups within editing boards of scientific reviews – the name of Richard Goodman, a former Monsanto employee now working for the Food and Chemical Toxicology review, was mentioned several times.
o   For all consumer and civil society organisations to fight against the monopoly of lobby groups on foodsupply.
o   To put an end to the tendency to nominate at high level positions people who have ties with industry: she and the others heavily criticized Anne Glover and other people from the GMO panel at EFSA, as well as Mella Frewen, FoodDrinkEurope and former Monsanto employee.
o   Call on the Council to vote on the nationalisation proposal, saying that this should be done before the TTIP is concluded.
Seralini said that Monsanto rat studies were flawed because he conducted an experiment that showed that rats used for control groups showed levels of GM and pesticide residues, which according to him, explains why there are tumors in both the control and experiment groups.
Paul DEHEUVELS, who presented himself as the only statistician in the French Science Academy, announced an upcoming publication of his hand backs Seralini’s statistics on the feeding study. It will be published in Dec 2013 or Jan 2014 in a review called Statistical Models and Methods for Reliability and Survival Analysis (ISTE).
The GRACE project was mentioned in the context of a whole explanation of how research is influenced by industry.
Lepage said it’s good news that some organisations (FR food safety body Anses) recognized the need to conduct long term feeding studies but it will take time before anything comes out (3-4 years)
EFSA was the centre of all criticism having expressed a “remarkably unscientific argument” on the Seralini study
DEHEUVELS said he worked for Sanofi in the past as consultant. He drew a parallel between the cost of drugs to put a product on the market and GMOs, saying that biotech companies should do thesame as drug companies to ensure that all data on safety are there before putting their products on the market.
Joel SPIROUX (CRIIGEN) briefly mentioned IP and trade secrets describing them as “a scandal that everyone, incl. children are paying the price of”.




Tracking retractions as a window into the scientific process
Controversial Seralini GMO-rats paper to be retracted
A heavily criticized study of the effects of genetically modified maize and the Roundup herbicide on rats is being retracted — one way or another.
The paper — by Gilles Seralini and colleagues — was published in Food and Chemical Toxicology last year. There have been calls for retraction since then, along with other criticism and a lengthy exchange of letters in the journal. Meanwhile, the paper has been cited 28 times, according to Thomson Scientific’s Web of Knowledge, and the French National Assembly (their lower house of Parliament) held a long hearing on the paper last year, with Seralini and other scientists testifying.
Now, as reported in the French media, the editor of the journal, A. Wallace Hayes, has sent Seralini a letter saying that the paper will be retracted if Seralini does not agree to withdraw it.
Here’s most of the November 19 letter, including Hayes’ proposed retraction notice:
The panel had many concerns about the quality of the data, and ultimately recommended that the article should be withdrawn. I have been trying to get in touch with you to discuss the specific reasons behind this recommendation. If you do not agree to withdraw the article, it will be retracted, and the following statement will be published it its place:
The journal Food and Chemical Toxicology retracts the article “Long term toxicity of a Roundup herbicide and a Roundup-tolerant genetically modified maize,”1 which was published in this journal in November 2012. This retraction comes after a thorough and time-consuming analysis of the published article and the data it reports, along with an investigation into the peer-review behind the article. The Editor in-Chief deferred making any public statements regarding this article until this investigation was complete, and the authors were notified of the findings.
Very shortly after the publication of this article, the journal received Letters to the Editor expressing concerns about the validity of the findings it described, the proper use of animals, and even allegations of fraud. Many of these letters called upon the editors of the journal to retract the paper. According to the journal’s standard practice, these letters, as well as the letters in support of the findings, were published along with a response from the authors. Due to the nature of the concerns raised about this paper, the Editor-in-Chief examined all aspects of the peer review process and requested permission from the corresponding author to review the raw data. The request to view raw data is not often made; however, it is in accordance with the journal’s policy that authors of submitted manuscripts must be willing to provide the original data if so requested. The corresponding author agreed and supplied all material that was requested by the Editor-in-Chief. The Editor-in-Chief wishes to acknowledge the co-operation of the corresponding author in this matter, and commends him for his commitment to the scientific process.
Unequivocally, the Editor-in-Chief found no evidence of fraud or intentional misrepresentation of the data. However, there is legitimate cause for concern regarding both the number of animals in each study group and the particular strain selected. The low number of animals had been identified as a cause for concern during the initial review process, but the peer-review decision ultimately weighed that the work still had merit despite this limitation. A more in-depth look at the raw data revealed that no definitive conclusions can be reached with this small sample size regarding the role of either NK603 or glyphosate in regards to overall mortality or tumor incidence. Given the known high incidence of tumors in the Sprague-Dawley rat, normal variability cannot be excluded as the cause of the higher mortality and incidence observed in the treated groups.
Ultimately, the results presented (while not incorrect) are inconclusive, and therefore do not reach the threshold of publication for Food and Chemical Toxicology. The peer-review process is not perfect, but it does work. The journal is committed to a fair, thorough, and timely peer-review process; sometimes expediency might be sacrificed in order to be as thorough as possible. The time-consuming nature is, at times, required in fairness to both the authors and readers. Likewise, the Letters to the Editor, both pro and con, serve as a post-publication peer review. The back and forth between the readers and the author has a useful and valuable place in our scientific dialog.
The Editor-in-Chief again commends the corresponding author for his willingness and openness in participating in this dialog. The retraction is only on the inconclusiveness of this one paper. The journal’s editorial policy will continue to review all manuscripts no matter how controversial they may be. The editorial board will continue to use this case as a reminder to be as diligent as possible in the peer-review process.
Seralini — whom, as we note, tried to get reporters to sign a non-disclosure agreement when the study was first being released, a move Ivan called an outrageous abuse of the embargo system designed to turn reporters into stenographers — rejected Hayes’ findings, according to Le Figaro. And GMWatch called Hayes’ decision “illicit, unscientific, and unethical.”
There’s a lot to chew on here:
1.      Our read is that Hayes is basically saying that while the paper doesn’t meet the usual criteria for retraction, it should never have been published in the first place. This will likely be quite controversial, and it will be interesting to see how the scientific community reacts. Based on comments here at Retraction Watch, many scientists say that retraction should be reserved for fraud and serious error. Does that hold for a paper that many criticized as deeply flawed — and which challenged GMOs, whose use is supported by many scientists?
2.      Hayes is also saying that expedience is never an excuse for rushing a paper through peer review, no matter how controversial the subject. (Contrast Hayes’ comments with those by the editor of another Elsevier journal, Cell, earlier this year: “It is a misrepresentation to equate slow peer review with thoroughness or rigor or to use timely peer review as a justification for sloppiness in manuscript preparation.”)
3.      Post-publication peer-review — something we’ve championed for a while — is really important.