domingo, 7 de agosto de 2011

O fórum adequado para discussões técnicas de biossegurança de OGMs é... um encontro de agricultores sobre produção e troca de sementes.

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Comentários sobre a notícia “Os agricultores reunidos em Maceió, neste julho, para o II Encontro Nacional de Sementes fazem eco com o CONSEA e a AS-PTA em moção (http://terradedireitos.org.br/wp-content/uploads/2011/07/Moção-feijão-embrapa-2.pdf) contra o feijão transgênico da EMBRAPA”..

A avaliação de risco do feijão transgênico, baseada em quase uma centena de experimentos e na bem conhecida biologia do feijão e de sua relação com o ambiente, não parece ter tido qualquer peso na nova avaliação que o feijão sofreu no II Encontro Nacional de Sementes. O que se viu foi a repetição das mesmas críticas que vem sendo repetidas pelas ONGs contrárias aos transgênicos, sem alcançar a profundidade científica necessária para constituírem uma razão de se reavaliar o processo de liberação, em análise na CTNBio.

Destacamos a afirmação: "a própria Embrapa afirma que mais estudos são ainda necessários, pois entre os 22 eventos gerados durante as pesquisas, apenas 02 produziram os efeitos necessários e os outros 20 não."

A afirmação relativa a mais estudos se refere a um interesse puramente acadêmico no sentido de saber porque todos os transformantes não exibiram a resistência ao vírus. Mas os pesquisadores da EMBRAPA sabem as possíveis razões para ter transformantes que não expressam. A construção gênica pode se inserir em região de heterocromatina, em áreas teloméricas ou outras regiões cromossômicas cuja estrutura da cromatina silencia os genes. Algum inserto pode ter sofrido uma deleção ou perda parcial do DNA e perdido elemento importante para a transcrição do RNA que vai inibir a expressão do gene viral.
No melhoramento via engenharia genética os transformantes são identificados molecularmente (os 22 citados), mas só interessa na prática aqueles que exibem a função desejada. Uma taxa de 2 acertos para um total de 22 transformantes é excelente. Tentou-se por técnicas clássicas, exaustivamente, obter um feijão resistente ao vírus, como foi relatado na audiência pública, e não se conseguiu. No melhoramento convencional, por exemplo, se mutageniza com agentes físicos e químicos poderosos, milhares de sementes. Em experimento típico, 10.000 sementes são plantadas e, eventualmente, algumas poucas plantas com a característica desejada germinam e se desenvolvem a contento.Uma dessas pode ser a escolhida para a comercialização.
Podem ver que a engenharia genética é muito mais eficiente para obter o resultado desejado, além de conhecermos em detalhe o que foi introduzido na planta. Na planta melhorada por mutagênese, além do gene(s) de interesse, outros estarão mutados, todos desconhecidos. Com diz Pamela Ronald*, pesquisadora americana que advoga o uso de plantas transgênicas para a agricultura orgânica: o melhoramento convencional por cruzamento e mutagênese é como casar e levar toda a aldeia para o lar junto com a noiva. Na engenharia genética é como se noivo e noiva partissem sós, não levam nem a sogra...
Criticar com propriedade um experimento desses requer conhecimento especializado. Alguém que desconhece biologia moderna está soprando bobagens para nossos estimados agricultores familiares, está enganando os trabalhadores, em lugar de ajudá-los a se tornarem mais produtivos e com mais recursos para suas famílias. Enquanto isso, 13,3 milhões de agricultores em 25 países, sendo  90% deles são agricultores familiares em países em desenvolvimento, cultivam plantas geneticamente modificadas com muitas vantagens.

* Tomorrow’s table: organic farming, genetics, and the future of food. Ronald P. e Adamchak R. (2008)  Oxford University Press.

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