quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O feijão no jornal

O Feijão é Nosso!

Artigo de Leila dos Santos Macedo enviado ao JCEmail.

Na última semana, o noticiário foi bastante acalentador para pesquisadores brasileiros que receberam com bastante entusiasmo o anúncio do Plano Brasil Maior, que coloca a Ciência e Tecnologia como eixos fundamentais para o desenvolvimento do País. O fortalecimento da pesquisa nacional irá de certo a curto e médio prazo resultar em maior competitividade do Brasil e, sobretudo no seu maior desenvolvimento econômico e social.

Essas ações devem, entretanto ser absorvidas por todo contexto governamental, e não ficar apenas no discurso de um único Ministério.

Instituições públicas que vem contribuindo para o desenvolvimento do país, como a Fiocruz e a Embrapa devem ser consideradas como bens nacionais e prioritárias para os investimentos em P&D, e, sobretudo os investimentos públicos devem desaguar em um retorno social efetivo. Barreiras regulatórias, políticas ou ideológicas, sem justificativas que se sustentem social ou cientificamente, não podem impedir de forma alguma que anos de pesquisa sejam jogados ralo abaixo.

Citamos por exemplo, a pesquisa do feijão resistente a vírus da Embrapa. Esta pesquisa realizada exclusivamente por pesquisadores brasileiros há mais de 10 anos, coloca o Brasil como único país do mundo detentor desta tecnologia, o que inclusive tem atraído o interesse de outros países do mundo.

Antes, todavia, é importante entender porque a Embrapa se preocupou em buscar alternativas tecnológicas para melhorar o nosso feijão. É claro que sabemos da importância do feijão para a alimentação do brasileiro, pois ele representa a principal fonte de proteína vegetal, ferro e inúmeras vitaminas, principalmente para as classes menos favorecidas. Além disso, o Brasil é o maior produtor de feijão no mundo.

Entretanto, poucos sabem que o feijão é produzido principalmente por pequenos agricultores e que as perdas neste cultivo podem chegar de 50 a 100% por conta da sua contaminação com o vírus do mosaico dourado, uma praga que ataca sem piedade a cultura do feijoeiro em todo País. Para diminuir essas perdas, os agricultores têm que aplicar uma grande quantidade de defensivos agrícolas (agrotóxicos), o que certamente produz um impacto ambiental negativo, além de aumentar o custo do produto e maior risco para a saúde. Portanto, sem dúvida alguma, pesquisas que levem a um feijão melhorado geneticamente, que permita a redução dessas perdas, a diminuição do uso de agrotóxicos e o aumento da produtividade devem não só ser apoiadas, como serem motivo de júbilo para o Brasil.

Os alimentos melhorados geneticamente através de técnicas de engenharia genética são consumidos em 29 países do mundo há 15 anos, entretanto é pela primeira vez que teremos um produto genuinamente nacional e com grande impacto social a disposição dos pequenos agricultores no país. A adoção desta tecnologia no mundo não só permitiu o aumento da produção mundial de alimentos, como reduziu em cerca de 390 mil toneladas de agrotóxicos entre os anos de 1999 e 2009 e a emissão de gases que provocam o efeito estufa em mais de 17,7 milhões de toneladas.

Antes de liberar para consumo pela população, todo produto melhorado geneticamente por esta tecnologia deve passar por testes exaustivos para avaliação de sua segurança, segundo a Lei de Biossegurança brasileira, considerada como uma das mais rigorosas do mundo. E isto não foi diferente para o feijão da Embrapa, que apresentou os resultados desses estudos contendo mais de 500 páginas para avaliação pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança- CTNBio.

A quem então poderá interessar o bloqueio dessas pesquisas e a possibilidade de se colocar este produto no mercado brasileiro? Esta é uma pergunta que deve ser feita para aqueles que estão engajados em campanhas contrárias à inovação tecnológica no País e que desde 1997 têm gerado um verdadeiro retrocesso na pesquisa brasileira no campo da engenharia genética. Inúmeras pesquisas e teses de mestrado e doutorado foram "abortadas" em universidades públicas, quando na época foi decretada uma moratória para as decisões da CTNBio. A Embrapa mesmo perdeu mais de 10 anos de pesquisas com o mamão, o feijão e tantos outros produtos que já poderiam estar beneficiando o país e milhões de brasileiros.

Isto, portanto, sem sombra de dúvida é uma questão de segurança nacional e deve ser encarada como tal pela presidente Dilma. Temos a convicção que da mesma forma que a presidente vislumbrou que Ciência, Tecnologia e Inovação são essenciais para o desenvolvimento social e econômico do País, não se deixará influenciar por falácias e pseudo-ambientalismos infundados e que não resistem aos resultados científicos reais. Afinal, o Feijão é Nosso e nos orgulhamos dos cientistas que trabalharam nesta pesquisa. Parabéns Embrapa por mais esta conquista para o Brasil!

Leila dos Santos Macedo é pesquisadora, especialista em Biossegurança e presidente da Associação Nacional de Biossegurança (ANBio). E-mail: leila.macedo10@uol.com.br.

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