quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Exportação de mel e o eucalipto transgênico: Réplica ao Combate Racismo Ambiental e ao Século Diário e proposta de manejo como garantia da sustentabilidade, certificação e exportação da nossa produção apícola

Já faz algumas semanas foi publicada uma postagem comentando os impactos que o eucalipto transgênico poderia ter na exportação de mel brasileiro (http://racismoambiental.net.br/2014/11/eucalipto-transgenico-da-suzano-ameaca-producao-brasileira-de-mel/#more-163695). É valida a preocupação trazida pela Any Cometti, uma vez que os apicultores têm mais lucro exportando seus produtos do que vendendo no mercado interno. Alguns destinos de nossa exportação podem ser bastante exigentes em qualidade e, pelo menos no caso da Europa, podem ser intransigentes em relação à presença de OGMs ou produtos derivados deles. Além disso, parte de nosso mel é exportada com o selo orgânico e, neste caso, não pode haver a presença de OGMs acima de uma certa porcentagem.
Eu esperava ler na postagem do texto da Amy, que apareceu no Combate Racismo ambiental, no Século Diário e em outros portais, considerações ponderadas sobre esta questão importante. Entretanto, a leitura do texto postado, faz a gente pensar naquela estratégia de venda de revistas nos aeroportos: te atraem com uma história e te vendem outra inteiramente diferente. O título (Eucalipto transgênico da Suzano ameaça produção brasileira de mel) fala de exportação de mel, mas o texto só discute isso de forma muito superficial e sem qualquer dado que, entretanto, a Abemel seguramente tem. Aliás, é meio contraditória a declaração da Joelma, quando fala, aparentemente em nome da Abemel, sobre o teste e descarte de mel que tenha pólen transgênico, porque a certificação proposta pela própria Abemel (http://brazilletsbee.com.br/certificacao/protocolo.pdf) não tem uma linha falando de orgânicos nem muito menos de transgênicos.Também fica difícil saber de onde veio a informação de que “do montante exportado, 80% têm procedência orgânica”: não está claro em canto algum qual é a parcela do mel brasileiro exportado que, de fato, é orgânico e nem sequer quanto dele é vendido como orgânico.
Vamos começar do início: A primeira norma técnica para o setor de apicultura foi publicada dia 19 de abril de 2008, a NBR 15585, e está bem alinhada com as exigências duras do mercado europeu. O Brasil, entretanto,  exporta cerca de 82% do seu mel para o EUA (http://brazilletsbee.com.br/noticia.aspx?id=84) e uma parte para outros países (Canadá, com quase 8% e vários outros - http://www.canalrioclaro.com.br/noticia/21769/exportacao-de-mel-cresce-96-79-de-janeiro-a-maio.html ). EUA, Canadá e muitos outros não estão nem aí para a presença de pólen transgênico no mel.  Se houver um dia pólen transgênico no mel brasileiro, isso não será impedimento para a venda do mel, sempre que seja produzido dentro das exigências dos importadores. Só não vai ser vendido como orgânico, coisa que a maioria do mel brasileiro muito provavelmente não é pelos padrões internacionais. Onde a coisa pega é na Europa, que entende a presença do pólen GM, não importa em que quantidade, como impedimento para importação. No duro, a Europa não está usando ciência aí, mas política, e quem ganha são os importadores de mel de lá e quem perde são os consumidores e os produtores de mel do Terceiro Mundo.
Muito antes de afirmar que o eucalipto inviabiliza a exportação de mel é preciso usar boa ciência e estudar as distâncias mínimas entre as colmeias e os plantios de eucalipto GM nas diversas paisagens em que os eucaliptais se inserem. Se é verdade que as floradas de eucalipto são atrativas para as abelhas, também é verdade que as árvores só florescem depois de 7 anos e que as abelhas preferem flores que estejam mais próximas da colmeia. É preciso um sistema de manejo eficiente para que os problemas de exportação sejam abolidos, mas este manejo está muito longe de ser impossível ou mesmo difícil. Assim, nem o eucalipto transgênico e nem qualquer outra planta transgênica vão inviabilizar nossa exportação de mel, basta um manejo adequado.
Aí aparecem as observações do Valmir Noventa, do MPA. O que ele afirma é um absoluto despautério, a começar pelo alcance de voo das abelhas e a terminar pelo impacto na biodiversidade e nas imaginárias sementes crioulas. Pra começar, o impacto do eucalipto transgênico que está em análise pela CTNBio pode até ser menor que o do eucalipto convencional, mas isso é irrelevante: toda a agricultura impacta e a de baixa produtividade, que o MPA defende, impacta muito mais. Em segundo lugar, as abelhas raramente voam mais que 1000 m, ida e volta. Elas preferem visitar plantas próximas à colmeia. Tipicamente, 400 m de raio máximo é o que ocorrem nas regiões de produção de mel.  Para evitar que pastem em flores transgênicas, basta mover as caixas. Afinal, não vai haver só eucalipto no Brasil. Em terceiro lugar, de que sementes crioulas o Valmir está falando? Não existem sementes crioulas de eucalipto e a única planta com a qual o eucalipto pode cruzar e passar suas sementes é o próprio eucalipto (mais especificamente, as duas espécies que conforma o híbrido da Futuragene). Além disso ninguém planta comercialmente eucalipto a partir de sementes! Em quarto lugar, ninguém come eucalipto: em que isso afeta a soberania alimentar? Em quinto lugar, que diabos vem a ser programação genética para o tempo de floração? Se é fazer com que as plantas floresçam juntas, isso vem sendo buscado e obtido pelos homens desde que começaram a domesticas suas plantas. Se é outra coisa, está o Valmir redondamente enganado. Por fim, o Valmir diz que será preciso comprar sempre as sementes. Isso pode ser válido para o milho híbrido, mas não é válido para a soja (que é linhagem) nem muito menos para o eucalipto, que é micropropagado! Toda esta parte do texto é uma mistureba de bandeiras repetidas pelo MPA como os papagaios repetem, sem saber o que dizem e fora do contexto e a publicação desta cacofonia termina por ser um imenso desserviço à apicultura e aos produtores de madeira e celulose. Em última instância, o Vladimir Noventa está atirando pedra no próprio país em nome de uma ideologia obscura.
Já o Dagoberto listou uma série de dúvidas sobre a segurança, mas todas elas, sem exceção alguma, foram consideradas pela CTNBio e há elementos suficientes para uma decisão baseada em ciência, e não em suspeitas hiper-precaucionárias. Boa parte das preocupações trazidas pela sociedade está detalhadamente discutida na avaliação de risco detalhada que postamos em http://genpeace.blogspot.com.br/2014/11/eucalipto-transgenico-quais-sao-de-fato.html.

É muito frustrante a gente ler um texto como este da Amy pensando que vai ver uma coisa e acaba nem vendo direito o que o título sugere, mas tendo que digerir a gordura perigosa do restante.

2 comentários:

  1. Para quem já visitou ou conhece um plantio de eucalipto comercial..na atual escala e na escala planejada...e sua permeabilidade por diversas paisagens brasileiras , não há duvidas ..de que os riscos possíveis, ou a imprecisão dos estudos feitos, seja pelo tempo de testes e experimentação, seja pela destruição dos experimentos originais , que não vão permitir avaliações de longo prazo..!
    reforçam a necessidade sim !! de adiar a liberação comercial e aperfeiçoar e aprofundar os estudo técnicos e científicos !!

    NÃO SE TRATA DE hiper-suspeitas ou hiper-precaucionárias atitudes !!

    MAS SIM BOM CENSO E RESPONSABILIDADE ISENTA !!!

    ONDE FALHAS E DUVIDAS SÃO APONTADAS PELOS PRÓPRIOS DADOS APRESENTADOS !!!

    não faz sentido !! só ser guiado
    pelo interesse comercial !!!
    e botar em risco ..a sociedade e a reputação de um setor !! que históricamente tem procurado aperfeiçoar sua gestão e relação com a sociedade !!

    que venham as tecnologias !! corretas..seguras e REALMENTE EFICIENTES...

    isso pra não entrarmos no mérito do possível consumo de água !!
    onde não foram sequer..feitas as devidas avaliações
    por motivos óbvios !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
    o experimento não foi feito !! e não houve tempo de analisar !!
    e o pior é o uso incorreto e tendencioso de pesquisadores renomados !! que nem ao menos foram ouvidos !!
    por exemplo Valter de Paula Lima da ESALQ

    nesse paralelo...deveriam ser envolvidos pesquisadores isentos e com autonomia !! (isso inclui p/ estudos de fluxo gênico , etc etc)

    enfim...

    infelizmente o padrão e a força econômica
    falam mais alto que a ciência !! usar o mesmo padrão histórico ..de outras culturas..p/ uma arvore, que em muitos casos e propriedades vão ser cultivadas eternamente !!

    é no mínimo irresponsabilidade !!!!!

    registremos todos esses fatos e elementos lamentáveis !!
    a com o tempo vamos avaliar !!

    como já vivemos a mostra das profecias do bom censo !!
    em detrimento da ciência (comprada)

    estamos vivendo ...a era do 2-4D

    triste !!!

    ResponderExcluir
  2. Seria mais adequado que nosso caro Anônimo fosse preciso em relação aos riscos que ele percebe. A CTNBio avaliou quase duas dezenas e não encontrou nada que diferenciasse o eucalipto transgênico do não transgênico. Lembre-se, Sr. Anônimo, que é isso que cabe à CTNBio. Os impactos da plantação de eucalipto são da alçada do IMABA e do MAPA. Por isso, não há razão alguma em adiar a decisão. A menos que novos fatos apareçam e, espero, nosso Sr. Anônimo vai nos trazer coisas concretas da próxima vez.

    Quanto ao bom senso, ele não se aplica na avaliação de risco. Ela tem seu procedimento próprio e está baseada, por um lado, em ciência e pelo outro, na experiência adquirida em avaliação de risco nos últimos 100 anos (e na avaliação de transgênicos nos últimos 20). No processo de avaliação de risco as incertezas (dúvidas) do eucalipto em pauta foram tremendamente reduzidas e, em verdade, o que sobra não impede, de forma alguma, uma decisão informada por parte do administrador público.

    Quanto ao interesse comercial, ele absolutamente não afeta as decisões dos avaliadores de risco, nem no Brasil nem em parte alguma do Mundo. O que estes especialistas veem é risco, eles não balançam riscos benefícios. Quem faz isto é o analista de risco. No Brasil, se os riscos são considerados negligenciáveis, o Governo deixa ao mercado a tarefa de balançar os riscos (muito pequenos ou nulos) aos benefícios. Tem siso assim nos últimos 14 anos. O mercado é que decidirá se a tecnologia é eficiente. A rápida e crescente adoção da biotecnologia agrícola mostra que a tecnologia é muito eficiente e só não vê isso quem teima em achar que o agricultor é um asno.
    Quanto aos trabalhos do Valter, sugiro que o nosso Anônimo (e uma legião de outros papagaios) os leiam, ao invés de repetir o que dizem alguns arautos por aí. O que o Valter diz é muito diferente de uma condenação do eucalipto!! Vá à fonte, leia tudo para não seguir botando na boca (ou na pena) do Valter as afirmações de notórios inimigos da biotecnologia.

    O resto é uma conversa fiada de isenção, independência e coisas assim de quem nem tem a mínima ideia de quais são os pesquisadores sérios que sentam na CTNBio. Antes de criticá-los o Sr. Anônimo deveria conhecer com profundidade seus trabalhos, seu compromisso com o país e sua fidedignidade à ciência. Criticar pessoas sérias é tarefa de tolos.

    ResponderExcluir