quarta-feira, 9 de abril de 2014

Mosquitos transgênicos, segurança e especulações à véspera da votação de liberação comercial pela CTNBio


Hoje, véspera da votação na CTNBio da liberação comercial de uma linhagem transgênica de Aedes aegypti da empresa inglesa Oxitec, a AS-PTA e outros parceiros lançaram uma Nota à imprensa, onde especulam que haveria riscos não corretamente avaliados e erros graves nos procedimentos de liberação pela CTNBio.

Vale a pena uma leitura atenta do texto, à luz da ciência e da avaliação de risco.
Os autores do texto afirmam que os estudos foram feitos “sem que a população tenha sido devidamente consultada, sem a realização de avaliação de risco e sem a existência de dados conclusivos dos estudos de campo nem de um plano de monitoramento”. A verdade é bem outra:
a)      Todos os estudos foram feitos com inteiro conhecimento das populações residentes nos bairros envolvidos (em Juazeiro, na Bahia), que participaram de dezenas de reuniões com a responsável técnica, Dr. Margareth Capurro, da USP. Além disso, o projeto tinha o nome bem claro de PAT – Projeto Aedes Transgênico. Por fim, a população deu enorme apoio ao projeto.
b)      A avaliação de risco, com base no extenso documento enviado pela proponente e numa longa lista de trabalhos publicados sobre o assunto, foi realizada nas duas sub-setoriais na CTNBio, os pareceres discutidos e votados e todas as dúvidas foram esclarecidas neste processo. Os riscos foram considerados mínimos ou negligenciáveis. Esta avaliação foi realizada durante quase seis meses, envolvendo pesquisadores e docentes de quatro universidades ou centros de pesquisa do Brasil, com discussão de todos os membros da CTNBio.
c)       Os estudos de campo (oriundos da liberação planejada em Juazeiro da Bahia) foram concluídos ainda em 2013 e seus resultados incorporados ao processo de liberação comercial, ainda que o relatório final só tenha sido recentemente encaminhado pela USP à CTNBio. Não existe nada neste relatório que contradiga as conclusões dos avaliadores de risco.
d)      Dentro do corpo do processo de liberação comercial encaminhado pela Oxitec já está a proposta de plano de monitoramento, detalhada.

As entidades signatárias também ressaltam em sua nota à imprensa, “que as consequências para a saúde e para o meio ambiente ainda são pouco conhecidas e precisam ser melhor estudadas”. Nada pode ser mais inverídico: o impacto da liberação de machos d, que não picam os serem humanos e que morrem após poucos dias, é completamente compreendido e considerado nulo. Esta foi a principal preocupação da avaliação de risco na CTNBio, naturalmente. A impossibilidade de multiplicação do inseto GM no ambiente foi amplamente demonstrada, seu cruzamento com outras espécies de mosquito é essencialmente impossível e seu impacto direto em predadores também foi avaliado e mostrado ser nulo.
A argumentação de que a eliminação do A. aegypti irá levar à invasão dos ecótopos e ecótonos por A. albopictus, outro vetor de doenças humanas, inclusive a dengue, é desprovida de base científica e foi largamente discutida na CTNBio. Além disso, pelo argumento da AS-PTA e seus parceiros, nunca se poderá eliminar o A. aegypti, porque o A. albopictus irá fatalmente entrar nas áreas liberadas, tornado qualquer tentativa de controle da Dengue impossível. Usar este argumento para bloquear o controle vetorial é condenar os brasileiros a enfrentar as epidemias de dengue para sempre.
Quanto á picadas de fêmeas transgênicas, é apenas fantasia, uma vez que apenas machos são normalmente liberados ou, na pior das hipóteses, menos de 0,1% de fêmeas entre estes machos. De toda forma, o estudo da alergenicidade das proteínas recombinantes expressas no mosquito foi realizado, sem resultados sugestivos de potencial alergênico. Por fim, a expressão dos transgenes na glândula salivar é essencialmente nula!
Ainda sobre as argumentações da AS-PTA, a questão da presença de tetraciclina no ambiente foi extensamente estudada pela CTNBio, não se vislumbrando a possibilidade concreta de presença de tetraciclina em criadouros em concentrações acima do limite para resgatar a sobrevida da linhagem GM. Portanto, é apenas uma especulação vaga da AS-PTA, sem qualquer base na realidade.
Em resumo, todas as preocupações ciosamente trazidas pela AS-PTA e seus parceiros já haviam sido cuidadosamente avaliadas pela CTNBio, concluído a comissão acertadamente que os riscos apresentados pela liberação destes mosquitos são muito pequenos ou negligenciáveis.
Se a Inglaterra apoia ou não este produto como item de pauta de exportação, isso é inteiramente irrelevante. Também é irrelevante se a liberação dos mosquitos transgênicos irá efetivamente controlar as populações nativas, pois a CTNBio não trata da eficiência da tecnologia, e sim do impacto do OGM no ambiente ou diretamente na saúde. Na verdade, nenhuma tecnologia, isoladamente, poderá controlar adequadamente as populações de Aedes aegypti e o controle será sempre parcial, como tem sido até hoje, com raras exceções.
A atitude alarmista, trazendo informações falsas ou incompletas ao público, é condenável e não deveria fazer parte da estratégia de lutas de nenhuma instituição séria.


Um comentário:

  1. A CTNBio arpovou hoje, 10 de abril de 2014, a liberação comercial desta variedade de mosquito. Veja detalhes em http://genpeace.blogspot.com.br/2014/04/mosquito-transgenico-para-controle-da.html

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