A última ressurreição deste corpo insepulto é uma “lista de
dez coisas” advinda do cadáver putrefato do artigo do Serálini sobre os ratos
com tumor devido à ingestão de milho transgênico. As tais “Dez coisas” que o público deveria saber foram supostamente escondidas ou distorcidas pela mídia dominante (isto é, pelos cientistas de verdade, sociedades científicas e jornais menos ligados ao espalhafato apreciado pelos franceses, e não aquelas mentes “independentes”e inventivas...). Uma fonte para esta nobre lista de 10 coisas é o site http://www.prisonplanet.com/ten-things-the-mainstream-media-didnt-tell-you-about-the-seralini-gm-corn-study.html.
As tais “dez coisas” ou são erradas ou não foram absolutamente escondidas.
Vamos analisar a lista.
1)
Estudo de toxicidade X
estudo de câncer: a maioria dos cientistas sempre viu o estudo do
Séralini como um estudo de toxicidade, e não de câncer, como quer passar a tal
lista. E o considerou um estudo de toxicidade muito mal conduzido! Para
ser encarado como um estudo de câncer, o artigo deveria ter uma hipótese
subjacente de como a proteína recombinante (epsps) poderia causar câncer, com
base em dados prévios muito claros. Entretanto, falta esta hipótese para o
câncer (assim como também para justificar o estudo toxicológico).
2)
Não há outro estudo de
longa duração: a oposição mais teimosa insiste nesta cantilena. Isso é
simplesmente falso (veja-se o artigo de Snell e cols. para uma revisão sobre o
tema http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0278691511006399).
Além disso, o consumo pelo Mundo a fora de alimentos e ração formulados com esta
variedade de milho e com uma variedade de outros grãos que expressam esta mesma
proteína recombinante pode bem ser
encarado como o “maior experimento com seres humanos jamais feito” (http://genpeace.blogspot.com.br/2012/10/the-largest-experiment-with-human.html)
O resultado:absolutamente nenhum impacto na saúde humana ou animal.
3)
A linhagem de ratos
escolhida pelo Séralini foi correta: se qualquer animal que desenvolve tumores
quando velho for usado em ensaios de toxicidade, os resultados vão ser borrados
e confundidos pelo aparecimento de um número crescente de tumores. Esta é a
razão pela qual a escolha desta linhagem de ratos foi um disparate, mas
propositalmente feito pelo Séralini e seus parceiros. Para uma crítica completa
veja http://genpeace.blogspot.com.br/2012/10/brazil-officially-rejects-seralinis.html
e http://www.ctnbio.gov.br/upd_blob/0001/1725.pdf
.
4)
Ratos Sprague Dawley são
tão susceptíveis a desenvolver tumores quanto o homem: Totalmente
errado, para nossa felicidade! A totalidade destes ratos morre com tumores pelo
corpo todo se atingem a senescência, o que é muito diferente na espécie humana.
Para estudos sobre a propensão desta linhagem de ratos (e de outras) no
desenvolvimento de câncer, por favor consulte Davis et al, 1956 -http://cancerres.aacrjournals.org/content/33/11/2768.full.pdf+html;
Prejean et al., 1973 -http://cancerres.aacrjournals.org/content/33/11/2768.full.pdf+html;
Gross & Dreyfuss, 1979 -http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC411762/pdf/pnas00011-0504.pdf;
Okada et al., 1981 -http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2010671/pdf/brjcancer00452-0116.pdf.
5)
O estudo do Séralini é melhor
que o relatório da Monsanto (para apoiar o pedido de liberação
comercial): qualquer instituto de pesquisa, universidade ou empresa seguirá as
diretrizes internacionais para estudos toxicológicos. A Monsanto e dezenas de
outras instituições testaram as proteínas recombinantes produzidas por todas as
plantas transgênicas no mercado. Estes experimentos procuraram evidenciar
efeitos agudos provocados pelas proteínas ensaiadas numa faixa ampla de
concentrações. Como consta de todos os bons livros textos e manuais de
toxicologia, se não forem observados indícios de toxicidade aguda para uma
proteína que é prontamente degradada pelo fluido intestinal dos animais, não
existe qualquer razão para fazer “estudos de longa duração”. É esta a razão
pela qual nem a Monsanto nem a maioria dos pesquisadores perderam tempo e
dinheiro (algumas vezes público) fazendo estes experimentos longos.
6)
Rejeitar o estudo do
Séralini implica em rejeitar também os estudos de risco apoiados pelas empresas:
A falta de base científica (e suas consequências na metodologia a nas
conclusões) é a razão pela qual se rejeita um artigo. O artigo do Séralini
carece de ciência e tem uma metodologia muito defeituosa. A maior parte dos
estudos que apoiam as conclusões das empresas que desenvolveram os produtos GM
são cientificamente sólidos. Não há, em verdade, qualquer semelhança entre o
estudo do Séralini e artigos publicados contendo hipóteses baseadas em ciência
e com metodologia adequada, independentemente de quem os tenha feito.
7)
O estudo do Séralini
prova que os estudos das indústrias são fraudulentos: absolutamente
falso! A fraude só pode ser provada pela inspeção cuidadosa do trabalho
suspeito, jamais por comparação de resultados.
Este é um perigoso viés na discussão, porque faz de um setor o dono da verdade
e todos os demais, por comparação, automaticamente errados; além disso, o procedimento
é o nec plus ultra do autoritarismo e
da falta de método científico. Como dito no item acima, a
metodologia do artigo do Séralini é tão distorcida que não é possível uma
comparação com os artigos previamente publicados. Seria o mesmo que comparar os
resultados de um alquimista, usando seus métodos muito particulares, com os de
um químico seguindo o método científico moderno. O alquimista não está errado
porque o químico está certo, mas porque não usa o método científico!
8)
A toxicidade observada nos
estudos da Monsanto confirma o estudo de Séralini: Disparate! Se os
trabalhos da Monsanto são fraudulentos (item 7) e se confirmam os resultados de
Séralini, então, usando alógica de gângster do tal item 7, os resultados do
Séralini também são fraude. Esta seria a única conclusão lógica. Entretanto, o
que ocorre é que os resultados da Monsanto não indicam toxicidade alguma e as
pequenas variações estatísticas, totalmente irrelevantes, são interpretadas (bem
ao gosto do alquimista) como indicadores de problemas pelos seguidores de uma
oposição ideológica e desprovida de ciência.
9)
Os Governos não exigem
estudos de longa duração: falso. A maior parte das agências de avaliação
de risco adota uma abordagem escalonada nas avaliações toxicológicas, como
estabelecido pelos padrões internacionais. Se alguns critérios são satisfeitos
na primeira etapa (experimentos de toxicidade aguda), não se avança para a
realização de novos experimentos (toxicidade crônica, experimentos de longa
duração). Como efeitos deletérios NUNCA foram observados em experimentos usando
boa metodologia, empregando rações contendo diferentes concentrações de
proteína transgênica, os estudos de longa duração nunca foram solicitados. Mas
existe, sim, a previsão para isso, caso seja necessário.
10)
Mesmo estudos de curta duração já tinham mostrado toxicidade
dos OGMs: falso. Apenas os estudos “de laboratórios e de campo,
independentes” supostamente mostraram problemas, mas eles eram simplesmente
artigos muito ruins ou apenas informação fragmentária, sem cunho investigativo.
Veja, por exemplo, http://parrottlab.uga.edu/ProfParrott/pigs2013.html;http://genpeace.blogspot.com.br/2013/06/failure-to-demonstrate-any-harm-from.html
para réplicas ao artigo da Judy Carman.
Para encurtar a história: a oposição mais teimosa insiste em
contar ao Mundo como era bonito o trabalho do Séralini sobre ratos com tumor e
como foram maus seus algozes na ciência e fora dela, todos a soldo direta ou indiretamente
das multinacionais (veja, por exemplo, http://genpeace.blogspot.com.br/2013/09/duas-hipoteses-fantasiosas-sobre-riscos.html).
É simplesmente uma defesa sem sentido de um artigo muito ruim, mas serve muito
bem ao propósito de criar polêmica e confusão no cenário dos OGMs, que já é
suficientemente complexo.
Esse blog é realmente ligado ao Greenpeace ou apenas usa do mesmo nome?
ResponderExcluirNão usa o mesmo nome. Nosso blog é GenPeace (a paz do gene), como paródia ao GreenPeace.
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