segunda-feira, 1 de junho de 2015

Transgênicos: diálogo retomado

Como é impossível postar um comentário no site do Em Pratos Limpos (o captcha sempre retorna erros, e isso já faz anos), uso o GenPeace para responder ao texto Transgênicos: diálogos (http://pratoslimpos.org.br/?p=7803).

 Algumas observações sobre o que afirmam os autores:

a) Ao contrário do que concluem do texto acima citado, a separação entre avaliação de risco e análise de risco é técnica: a primeira, sendo exclusivamente biológica, é feita por um grupo de experts diferente das demais etapas da análise de risco.

b) O aumento do uso do glifosato, e apenas deste, tem relação parcial com o aumento do uso dos transgênicos. E porque apenas parcial? Porque o glifosato sempre foi usado e continuará sendo em muitas outras aplicações. Poucos anos depois de lançado ele já era o líder de vendas, muito antes do aparecimento dos transgênicos. Por isso, o aumento do uso ambém reflete, sim, a intensificação da atividade agrícola, mesmo no caso do glifosato.

c) Os casos de intoxicação com glifosato são muito menos frequentes do que os provocados por inseticidas ou mesmo por outros herbicidas, apesar de menos usados. Razão?  São muito mais tóxicos que o glifosato. Os estudos feitos no Mato Grosso, por exemplo, mostram que inseticidas de efeito residual, como o DDT e seus análogos, continuam fazendo estragos muito tempo depois da suspensão de uso. O mesmo estudo não tem menção sobre impacto de glifosato.

d) Não há um estudo abrangente do desfecho clínico dos casos de intoxicação por glifosato no país, embora exista uma casuística. Em outros países há suspeitas (inclusive as que foram usadas para reclassificar o glifosato), mas não há também um estudo que conclua pela existência de um impacto importante sobre comunidades. Afirmar, como está no texto acima, que “depois de exposição ao glifosato, trabalhadores rurais e suas comunidades tiveram sérios problemas de saúde” é a mais pura fantasia.

e) A agência que regula o uso do glifosato é a ANVISA. Um paralelo: quem avalia segurança de veículos nãoé a ANP, que avalia a segurança dos combustíveis... O glifosato não é um produto transgênico, mas um insumo empregado no caso das plantas tolerantes a ele. É exatamente como o caso da gasolina, que também é tóxica.


f) Por fim, de volta ao meu assunto: as avaliações de risco feitas pela CTNBio coincidem com aquelas feitas por todas as demais agências governamentais similares no Mundo. Estarão elas todas erradas?  As deficiências apontadas pelos autores acima também existem na EFSA, no OGTR, nas agências canadenses e americanas, na CONABIO e por aí vai? Ou será que o que os autores vêm como deficiência é um viés, como este de cobrar da CTNBio uma posição sobre os agrotóxicos?

7 comentários:

  1. Levando-se em consideração o apoio do Em Pratos Limpos à Biodinâmica, fica difícil imaginar que eles possuam uma visão crítica/científica para um debate de verdade. De qualquer forma, mantenham seu ótimo trabalho de informar e debater com clareza e eloquencia esse tema tão controverso e mistificado.

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  2. Não tem outra saída pra essa problemática dos contra e dos favoráveis aos transgênicos do que o diálogo. Já está mais do que na hora de todos se sentarem na mesma mesa e discutirem, você não acha Paulo? Faço minhas as palavras de uma pessoa que comentou na página do facebook da Monsanto e para quem a Monsanto não respondeu. Olha só o que essa pessoa pede: "Tenho uma sugestão: por que vocês não promovem um grande encontro ( um seminário longo) onde haja uma discussão que se centre no conjunto de informações disponiveis na literatura cientifica internacional. e não em relatórios internos, produzidos pelas empresas interessadas, cujos dados não são disponibilizados para revisão de análises independentes: uma discussão baseada na legislação, nas publicações cientificas e nos fatos associados. Chamem o Seralini, o Arpad Pusztai, o Ignácio Chapela e outros. E que os meios de comunicação divulguem esse grande encontro e que passe ao vivo na internet, no rádio e na TV. Se vocês estão tão seguros de que os transgênicos não fazem mal algum, deveriam promover esse debate".
    Por que você não começa a projetar esse grande encontro? Ninguém melhor do que você, que defende em todos os lugares isto em que acreditas, ou melhor, tens certeza. Fico no aguardo da sua iniciativa.

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    2. Os artigos publicados pelos autores que você cita já foram muito debatidos pela comunidade científica e rechacados por faltas graves em sua metodologia. Pode-se, é claro, trazer estas informações ao debate público, mas não seria correto com seus autores, porque seriam desnecessariamente expostos suas falhas. Não creio, por isso, que um debate desta natureza seja proveitoso.

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    3. Mas a pesquisa do Seralini foi republicada pela revista científica Environmental Sciences Europe e todo mundo sabe que a publicação original foi retirada pela Food and Chemical Toxicology após fortes pressões que incluíram a mudança de seu conselho editorial para abrigar um ex-funcionário da Monsanto. Quanto ao Chapela todo mundo também sabe que está havendo a contaminação genética do milho crioulo. Mas não são só estes. Tem muitas outras pesquisas mostrando que é preciso mais estudos e de longo prazo para se ter certeza que os transgênicos realmente não fazem mal algum. Fiquei sabendo que em breve será divulgado mais de 700 artigos versando sobre as incertezas na comunidade científica. Nós consumidores precisamos ter certeza de que o que damos para nossos filhos comerem é totalmente seguro e não uma manobra para concentrar o poder nas mãos de umas poucas empresas. Espero sinceramente que você , um dos maiores defensores dessa tecnologia, providencie para que esse diálogo, esse seminário, se realize o mais breve possível. Isso é imprescindível. Não adianta você e outros me dizerem que os transgênicos são seguros. Existem muitas dúvidas e elas precisam ser esclarecidas.

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    4. Esse blog ta se lixando para saúde dos outros e do planeta. Nem perca o seu tempo

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    5. Primeiro Anônimo, bom dia. Segue no link (http://genpeace.blogspot.com.br/2015/06/transgenicos-e-riscos-qual-o-consenso.html) a resposta aos seus questionamentos, que considero válidos. Obrigado pela sua contribuição.

      Segundo Anônimo.
      Os argumentos que trago são sempre baseados na ciência e em artigos de qualidade, mesmo que não esteja citados. Em alguns casos, quando o assunto ainda não está suficientemente abordado na forma de artigos, apelo para dados oficiais e faço minhas análises baseadas no método científico. Não extrapolo a partir de citações de Greenpeace, do Friends of the Earth, de Jeffrey Smith, Vandana Shiva e outros congêneres. Não existe ciência nestas fontes.

      E é justamente assim que me preocupo com a minha saúde, a dos outros e com o ambiente. Emprenhar pelas orelhas não é uma posição sensata.

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