Que toda
tecnologia nova traz riscos, não há a menor dúvida. Assim também, a não adoção
de uma nova tecnologia também traz riscos, com certeza. Vamos fazer uma
metáfora rápida entre as enxadas e os jumentos e os herbicidas e os carros.
Arabicamente, comecemos de trás prá frente.
Os carros introduziram no trânsito e na vida um
elemento importante de risco. No Brasil os acidentes de
motos, carros e ônibus
matam muito mais do que boa parte das doenças e não poupam crianças nem jovens.
Se abandonássemos o uso de motos, carros e coletivos motorizados, sem dúvida
alguma reduziríamos enormemente o número de vítimas do trânsito. A população
teria que mudar sua forma de chegar às escolas, ao trabalho e ao lazer, mas com
algum esforço e desprendimento, poderíamos substituir os veículos automotivos
citados por jumentos, cavalos, burros e por carroças puxadas por mulas. Já foi
assim e funcionava muito bem, nos bons tempos do Segundo Império. Seguramente a
pressão das multinacionais empurrou goela abaixo dos brasileiros esta mania de
carros, motos, ônibus, metrôs e caminhões. Afinal, para que servem os veículos
automotores se não para fazer exatamente o que fazem os jumentos, cavalos e
outros muares?
Exatamente para fazer um dos principais papéis da
enxada, a saber - a capina, inventaram o tal de herbicida. Com ele, ao exemplo
do carro, chega-se mais rápido ao fim do trabalho, mas os acidentes se
multiplicam, ao sabor da falta de cuidado do agricultor, da mesma forma que no
trânsito os acidentes dependem da falta de cuidado do motorista ou do pedestre.
Estão certíssimos os que querem um Brasil livre desta tecnologia perigosa, que
mata e polui da mesma forma que os veículos automotivos por combustível fóssil.
Muito bem, então vamos proibir todos os herbicidas
e levar a agricultura do país na enxada. Sugiro que, na mesma época, façamos a
troca dos carros por jegues e dos ônibus por carroças puxadas por mulas, proibindo
também as motos. Assim teremos um país livre de agrotóxicos e de vapores de
gasolina e diesel, buzinas e correrias, sem acidentes no campo ou nas cidades.
Evoé!
É inútil fazer as contas para mostrar quão
insensato é sumir com os carros, motos e ônibus, fora o fato de que ninguém
quer ficar sem eles. Então, vamos fazer as contas para a substituição dos
herbicidas por enxadas, enxadões, enxadecos, estrovengas, foices, cacumbus et
caterva.
De acordo com o CONAB, temos uma área de aprox. 50
milhões de hectares plantada com grãos, onde se emprega uma mecanização
intensa. Se tirarmos todos os herbicidas de circulação (na verdade, basta tirar
4 mais usados, inclusive o glifosato e o tordon), precisaremos ter 3 homens
trabalhando por hectare (um homem por tarefa, que são 25 braças por 25 braças,
pra quem não entende nada de lavoura arcaica), o que implica em ter 150 milhões
de enxadas e todos os brasileiros no campo, fora os velhos e os menores de 10
anos.
Estupenda solução verde para nosso
país. Ou esta turma não sabe fazer conta ou quer encolher a agricultura do país
às roças pequenas, explodindo os preços no varejo e condenando o país à fome.
Haverá falta de conhecimentos matemáticos ou será um complô para levar o país
prá trás?