segunda-feira, 21 de maio de 2012

Mais uma vez a União Européia recusa pedido da França para impedir a comercialização do milho transgênico MON810

Quantas dezenas de vezes a Autoridade Europeia para Segurança Alimentar – EFSA terá que afirmar o que todo mundo já sabe, mas alguns países teimam em não enxergar?
A notícia abaixo veio do RuralBR em 21/05/2012

União Europeia recusa proposta da França contra a Monsanto
País havia pedido a suspensão do cultivo de variedade de milho transgênico

Conhecida comercialmente por YieldGuard, variedade transgênica de milho MON 810 está permitida na França. A Autoridade Europeia para Segurança Alimentar (EFSA, na sigla em inglês) rejeitou, nesta segunda, dia 21, o pedido feito pela França de proibir a produção de uma variedade de milho geneticamente modificada da companhia norte-americana Monsanto.
Com base na documentação apresentada pela França, não há evidência científica específica que comprove risco às saúdes humana e animal ou ao meio ambiente – afirmou a EFSA.
Paris fez o pedido à EFSA de suspensão do cultivo da cepa MON 810 em fevereiro. Em novembro de 2008, no entanto, o principal tribunal do país já havia revogado um decreto do governo que impedia o cultivo de plantas geneticamente modificadas da Monsanto. O MON 810 é uma variedade de milho conhecida comercialmente por YieldGuard e é mais resistente a pragas que podem prejudicar a colheita.
(Agência Estado)
O MON810 é comercializado em dezenas de países no Mundo, inclusive no Brasil, como mostra a tabela abaixo, sem qualquer vestígio de impacto na biodiversidade ou na saúde humana ou animal.
Resumo das aprovações comerciais

País
Plantio
Alimento e Ração
Alimento
Ração
Marketing
1998
1998
1998

2000

2007
2007

1997
1997
1997

2004

2003

União Européia
1998
1998
1998
1996
1997
1997

2002
2004

2002

2002
2002
2002

África do Sul
1997
1997
1997

2000
2000

2002

1995
1996

2003
2003
Fonte: CERA

domingo, 20 de maio de 2012

Countries should support the use of safe products from whatever technology, including biotech (Sustainable development for fighting poverty - Food and nutrition security - Rio+20 - riodialogues.org)

(this post was sent to riodialogues)


Mankind will reach 9 million beings in a few decades. To increase food production, at the same time sparing water resources, land area and other vital elements, we must incorporate new technologies. To reject a priori a technology is an efficient way to hamper the fight against hunger. New products should, however, be evaluated in a case-by-case approach.  Therefore, we should encourage the use of new food production strategies, including marine food production, improved beef/milk/egg production, etc, as well as new foods as algae, mushrooms and insects. Following this line of reasoning, we should also encourage biotechnology. After more than 10 years of use, reaching now more than 150 mi. hectares in dozens of countries, with absolutely no impact either on biodiversity or health (besides those already observed with the conventional crops), biotech crops can be regarded as generally safe. 


New biotech crops will be draught tolerant, more nutritious, plague resistant and easier to manage. New fish will growth faster, less prone to disease. Pig and chicken products will be healthier and there will be less stool impact on the environment. The list of potential benefits is very large and continues to increase. Should we disregard all these potential benefits? Are fears against agrobiotech evidence-based? I do not know a single example.




Genetic modification: past and future

In the context of agrobiotech, some people argue that we cannot change the genetic content of a plant, as this could lead to a serious disruption of the environment balance. But Mankind is changing plant genomes for thousands of years: Mayas did that with corn, people in Southeast Asia did the same with bananas, sugarcane, etc. Europeans drastically changes their common vegetables by selecting natural mutants and artificially producing hybrids. Just by looking at it, who could imagine that corn came from teosintl? Or that sugarcane is a mixture of more than 4 plants which very seldom cross to each other? Even our animals (including the dog) have been “improved” to fulfill our needs. More recently, thousands of new plants came to the market, with new traits obtained by chemical of Gamma-ray  mutagenesis. They are regularly eaten and sown, without a trace of negative impact on human or animal health or on the environment. Most of these changes encompass hundreds, maybe thousands of genes. Even with mutagenesis, we cannot be sure that other genes besides the target were kept unchanged, not to say of intergenic regions. In modern biotechnology new genes are introduced or the genome is changed in a predicted way, certainly much safer than mutagenesis or inter-species crossing. 

sexta-feira, 4 de maio de 2012

EUA aprovam remédio fabricado por planta transgênica

O jornal O Globo publicou matéria que destaca o desenvolvimento de um novo remédio criado a partir das células de cenouras geneticamente modificadas. O medicamento será utilizado para tratamento da doença de Gaucher, uma rara condição que causa problemas que vão de infecções nos ossos à anemia, e que provoca o acúmulo de gordura em alguns órgãos. O remédio foi aprovado pelo FDA dos EUA, departamento de Administração de Drogas e Alimentos.

Batizado de Elelyso, ele servirá como alternativa mais barata para outros tratamentos de reposição de enzimas. Para Rhonda Buyers, diretora executiva da Associação Nacional de Gaucher dos EUA, “é maravilhoso ter outra opção disponível”. O jornal destaca que a aprovação é uma prova do poder da tecnologia.

Veja matéria na íntegra no link abaixo:

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Transgênicos: método científico, política nacional de biossegurança e...agrotóxicos


 Car@s leitore(a)s do blog.

Em resposta aos questionamentos excelentes e opiniões expressas pela Márcia Tait, postados como comentário de um post anterior (http://genpeace.blogspot.com.br/2012/05/maioria-e-reducionismo-na-ctnbio.html), e considerando que as posições dela espelham uma preocupação de boa parte do público, trago a vocês meus comentários.

Vou começar pelo tema do método científico. Por enquanto só existe um método científico (embora haja muitas metodologias). Se ele não for seguido, o resultado do trabalho não será científico. Não há razão de temer este método, embora ao final se possa ficar chateado com os resultados... Há um sem-fim de questões ecológicas e agronômicas que tem sido eficientemente tratadas pelo método científico. O que ocorre por vezes é um choque entre o resultado do trabalho e a expectativa deste resultado. Por exemplo, quando uma pesquisa bem conduzida mostra que os agricultores familiares podem se beneficiar de um determinado produto transgênico, isso não está de acordo com as expectativas dos grupos agroecológicos. De forma semelhante, quando uma pesquisa aponta grande produtividade do milho crioulo em determinadas condições de cultivo nas terras dobradas de Santa Catarina, o pessoal do agronegócio se irrita. Mas se as pesquisas foram bem conduzidas, não adianta se irritar, mas aceitar o resultado num determinado contexto. Pois vejam, o que se passa tanto num caso como no outro é que o grupo que se sente “prejudicado”  baixa o pau no pesquisador, tentando encontrar erros ou simplesmente desqualificando o grupo de pesquisa como comprado por grupos econômicos ou por ativistas ambientais. Como se resolve isso? Ou se evita o confronto – não aceitando a priori o método científico e a ciência em geral na nossa área particular de interesse, ou se descartam os resultados que não agradam ou não se encaixam no port-folio da filosofia pessoal, confiando sempre em outras opiniões que seguem outros métodos.  As duas atitudes resolvem o impasse, mas não são sensatas.

Quero concluir esta primeira parte do post com um apelo: os aspectos biológicos dos transgênicos não deveriam ser tratados com outro método que não o científico. Tentar evitar isso é nocivo ao bem-estar do ambiente e das pessoas. Quando as conclusões científicas são incorporadas aos outros aspectos sociais e econômicos, então podem entrar várias outras formas de construção do saber, incluindo as experiências individuais e coletivas, a tradição, a incorporação de conhecimentos e práticas de outros países, etc. Se a gente separa bem isso, não tem qualquer problema. O que deixa qualquer um perturbado é insistir em rezar numa cartilha quando se fala de um outro assunto: biologistas moleculares falando em percepções sociais dos transgênicos e economistas falando na desregulação endócrina de herbicidas... há bem poucos de nós que têm trânsito em áreas tão distintas. Como corolário, é bem pouco sensato tirar conclusões científicas de observações de leigos, ainda que estes leigos sejam vítimas de uma tecnologia qualquer. É igualmente insensato impingir a voz da ciência entre uma população exposta aos ataques ou  vantagens de novas tecnologias. Cada “comunidade”, seja de cientistas, de pequenos produtores, de consumidores de produtos orgânicos ou de capitães do agronegócio, tem seu próprio ritmo e sua maneira de internalizar as informações provenientes dos demais setores. O exercício da democracia está muito mais em entender e respeitar este tempo, este ritmo, do que querer determinar qual das informações tem mais valor dentro de um pretenso quadro integrador que espelharia o país que queremos ter.

Chegamos agora ao tema do “reducionismo” na política de biossegurança do país. O país tem diferentes visões sobre os transgênicos, dependendo do ministério envolvido, do político, etc. Naturalmente, a produção acaba tendo um peso muito grande na política, e a prova disso é a forma como a discussão do Código Florestal está sendo conduzida.  Também na biossegurança, entraves considerados desnecessários por uma boa parte dos setores de Governo devem ser evitados. De forma “reducionista”, o CNBS provavelmente considera que a avaliação de risco dos transgênicos (que é apenas sobre os aspectos biológicos) é suficiente para garantir a segurança do produto no país e que os aspectos sociais e econômicos devem ficar ao sabor das regras do mercado. A prova disso é que até agora ele não se reuniu espontaneamente para considerar estes aspectos em alguma liberação particular da CTNBio. Mas se isso é “reducionismo” ou pragmatismo, não sei.

Quero finalizar com alguns comentários sobre os agrotóxicos. Este é um assunto tratado costumeiramente com muito mais paixão do que com conhecimento. Entretanto, é um assunto basicamente técnico e que exige muito conhecimento nas áreas de agronomia, de biologia e de saúde, pelo menos. Infelizmente, um monte de informação que circula pela internet, inclusive as citadas no comentário anterior, está tão afastada do conhecimento técnico e científico quanto se possa imaginar, embora tragam outras visões do problema que podem ser úteis em alguns fóruns.

Todos sabem que se usa agrotóxicos (inseticidas e outros praguicidas, herbicidas, etc) há muito tempo. Não foram os transgênicos que trouxeram isso para mercado, nem de fato aceleraram seu uso. O que acontece é que a agricultura brasileira ganhou um enorme impulso na última década e com isso o consumo destes produtos também subiu muito. Então, o primeiro ponto é: não há nenhuma razão de acreditar que os plantios transgênicos exigem mais uso de agrotóxicos do que os convencionais. Assim, se o Brasil tivesse decidido banir os transgênicos da agricultura, provavelmente estaria consumindo hoje mais ou menos a mesma quantidade de agrotóxicos, desde que o aumento de produção fosse o mesmo. Claro que certos herbicidas ganharam mais uso (aqueles para os quais as plantas GM são tolerantes), mas em compensação diminuiu o uso de outros muito mais perigosos (sim, o glifosato está longe de ser perigoso como muitos outros bastante empregados na agricultura). Diminuiu também grandemente o uso de certos inseticidas, que se tornaram desnecessários nas plantações resistentes a insetos.  Para ter ideia disso é só ver o balanço do uso de agrotóxicos no Brasil feito pelo MAPA.

Agora, destes agrotóxicos, o que chega à mesa do consumidor? Pois bem a ANVISA fez uma pesquisa e descobriu que os produtos que têm algum agrotóxico acima do limite são sempre legumes, verduras ou frutas e 85% proveem da agricultura familiar ou de pequenos agricultores.  Não se achou nada em milho, soja ou algodão, que são os únicos vegetais GM do Brasil. Ora, se os agrotóxicos estão nos legumes, verduras e frutas é porque os agricultores aplicaram estes produtos nas suas plantações. Isso foi investigado, e de fato é assim: sem isso fica difícil lutar contra as invasoras, os fungos, as bacterioses, os grilos e outros predadores, enfim, tudo que diminui ou destrói a produção do agricultor.  Então devemos concluir que, se o agrotóxico chega à mesa do consumidor, deve ser causa de intoxicação alimentar. Será mesmo?  Bom, vamos aos dados do Ministério da Saúde: são menos de 30 casos notificados por ano ao longo de muitos anos. Intoxicações com agrotóxicos existem, perto de 3000/ ano, sendo 30% devido a tentativas de suicídio (com inseticidas e outros praguicidas, em geral), as outras são ocupacionais ou por acidentes, mas alimentares, francamente, quase não há. E as que foram notificadas, provieram de que alimento? Não há qualquer levantamento. Portanto, acusar os transgênicos, o glifosato ou outro herbicida qualquer é inteiramente sem base estatística. Sugiro uma leitura muito atenta ao texto http://genpeace.blogspot.com.br/2012/02/agrotoxicos-e-transgenicos-no-brasil.html, como aperitivo a um aprofundamento na questão dos defensivos agrícolas.

Na Argentina houve um tempo em que as plantações de soja literalmente mergulharam as pequenas comunidades no seu interior. A aspersão de herbicidas e outros produtos pode ter causado problemas de saúde, sim. Isso pode ter ocorrido também na Índia e talvez em outros países, mas no Brasil é terminantemente proibida a aspersão de  muitos agrotóxicos nas proximidades de casas. Isso é fiscalizado, pode ter certeza, nós não somos um país sem leis. Agora, se a causa de um aumento (contestado pelas autoridades sanitárias da Argentina) de casos de malformações foi o glifosato, de todos os agrotóxicos um dos menos tóxicos, aí é pura especulação. Numa plantação de soja dezenas de aspersões de diferentes produtos são realizadas antes, durante e depois do plantio. Quais delas podem ter causado o problema, se ele de fato existe?

Estes são apenas alguns dos pontos sobre agrotóxicos, intoxicação e malformações que estão na mídia. Antes de se acreditar no que “rola na internet”, convém estudar a toxicologia dos agrotóxicos, a forma como são aplicados na lavoura, como se degradam e reciclam na natureza e como poderiam chegar à mesa do consumidor. Mas isso demanda tempo, o que pouca gente tem ou quer dispor para entrar na discussão de forma coerente. É muito mais fácil repetir o que se ouve ou lê, acreditando naquilo que está de acordo com sua filosofia particular. É mais fácil, mas ao longo do tempo traz decepções e desconforto.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Don't destroy research - Não destrua pesquisas: em apoio ao Rothamstead Institute e contra o ativismo irresponsável


An appeal from scientists at the publicly funded Rothamsted Research.

Um apelo do Instituto de Pesquisas Rothamsted, financiado com verbas públicas, para que os ativistas anti-GM não destruam os experimentos (tem hora marcada para a invasão). A pesquisa desenvolvida pelo instituto é em trigo transgênico que repele insetos e já foi comentada em nosso blog (genpeace.blogspot.com/2012_03_01_archive.html) 

Assine a petição para apoiar a ciência e os pesquisadores do Rothamsted Research clicando no botão vinho abaixo (depois do link do YouTube)


















Click this button to sign the petition calling for discussion not destruction:

Defend Science ButtonQuestions about plant science?

John Pickett“On 27th May 2012 protesters are planning to destroy our Chemical Ecology group’s scientific research because it uses genetically modified wheat. Growing wheat has an environmental toll of extensive insecticide use to control aphid pests. The research, which is non-commercial, is investigating how to reduce that by getting the plants to repel aphids with a natural pheromone. We are appealing for protesters to call off the destruction and discuss the work.”
John Pickett, Scientific Leader of Chemical Ecology, Rothamsted Research
Gia Aradottir“As scientists, we know only too well that we don’t have all the answers. But if the work is destroyed, we’ll lose years of work and we will never know whether it could reduce the environmental impact of wheat growing. Please sign our petition and oppose the destruction of our research.”
Gia Aradottir, Postdoctoral Researcher, Insect Biology, Rothamsted Research
 There is more information on the wheat trial at the Rothamsted Research website

 

Media coverage

GM wheat scientists at Rothamsted make plea to protesters Richard Black, BBC Online
GM researcher: 'Please don't destroy our crop' Today programme, BBC Radio 4
Leading researchers are sending an open letter to a group of anti-GM protesters Farming Today, BBC Radio 4
GM scientists in open letter plea to protesters Channel 4 News
Anti-GM activists urged not to trash wheat field Guardian
Scientists appeal to green protesters. Financial Times
Scientists urge activists not to destroy their GM crop The Times(£)
Scientists send open letter to anti-GM protesters pleading with them not to destroy 'years of work' Independent
 Scientists urge GM campaigners to call off protest Telegraph 
GM wheat scientists plead with protesters not to destroy ‘years of work’ after they threaten to remove crops unless experiments are halted Daily Mail
Scientists appeal to cereal killers' reason  Times Higher Education
Respect the need to experiment with GM crops. Professor John Pickett,New Scientist 
Threats spook UK GM's crop researchers. Nature
Scientists in plea to GM protesters Press Association
Biochemical Society backs campaign to support plant scientistsBiochemSoc Blog
GM crops should be protected, scientists plead to protesters Huffington Post
GM wheat scientists ask cereal killers to spare crops The Week
GM plea to protesters  British Baker
Scientists urge protestors not to trash GM trials Farmers Guardian
Scientists in plea to GM protesters Stamford Mercury

Maioria e reducionismo na CTNBio


Seguem comentários sobre as ótimas questões enviadas pela Márcia Tait a um post mais antigo (http://genpeace.blogspot.com.br/2012/03/o-que-cabe-ctnbio.html


Comecemos pela decisão científica por maioria. Num outro texto (genpeace.blogspot.com/.../vozes-isoladas-na-ciencia-quebra-de.html) discutimos quando as posições trazidas por vozes isoladas se tornam parte do “main trend”. Recomendo a leitura, porque é desta forma que a comunidade científica tem agido até agora. Em resumo, é aceito o que a maioria aceita. Esta maioria pode ser, em casos limites, de 50% +1, mas evidentemente este é um caso raro. Na CTNBio mesmo, a maior parte dos casos é de 15 para 6 ou mais. Claro que a argumentação científica discordante nem sempre é a razão do voto discordante, pois muitas vezes este é baseado em elementos de análise de risco, e não de avaliação de risco: questões de competitividade, soberania, modelo de agricultura, etc. Por isso, a discordância científica é, em geral, menos importante que a ideológica.

Sobre a origem dos indivíduos que formam a maioria, não se pode dizer que ela tem ligação com oligopólios, grupos de prestígio, etc. Cada um dos membros é, em geral, chefe de seu grupo de pesquisa e muito independente em sua decisão. A ideia de que todos tem, de forma direta ou indireta, ligação com o poder e as multinacionais, é muito falha e meio pobre de imaginação. O que une muitas vozes em torno de uma mesma conclusão não é a autoridade de A ou B, mas a aplicação do método científico na avaliação das publicações e resultados e o uso de um fluxograma de avaliação de risco que, mesmo pouco formal para muitos dos membros, acaba levando a conclusões idênticas.  Então, aí está a origem do reconhecimento, que você perguntou: a aplicação rigorosa do método científico na avaliação e de um sistema comum de avaliação de riscos na decisão.

Olhemos agora o tema do reducionismo, que aparece muitas vezes em textos que criticam a maneira de agir dos cientistas na construção do saber científico. Primeiro, é preciso não confundir o sistema cartesiano de análise com reducionismo. Os problemas a serem enfrentados por um pesquisador, seja ele da área de exatas, das ciências naturais ou da humanas, são quase sempre muito complexos. É não apenas impossível, mas temerária (porque acaba levando a resultados disparatados) a tentativa de enfrentar todo o exército de perguntas de uma só vez. Em todos os casos haverá escolha de amostras, testes de hipóteses para determinados parâmetros e muitas outras abordagens que implicam na divisão do problema em partes. Cada parte pode ser, por seu lado, avaliada sob vários pontos de vista. Não há reducionismo algum nisso, é assim que o método científico funciona. A integração de mais partes e de mais visões na análise de um mesmo problema é que pode ser reducionista, mas isso não implica em erro ou diminuição do valor científico das conclusões atingidas. Como funciona a construção de uma avaliação de risco na CTNBio? Para cada produto em avaliação, um conjunto de perguntas deve ser feito e, a partir das respostas, riscos para cada perigo identificado devem ser dimensionados. Há sempre algum grau de incerteza, como quase tudo nas ciências, mas isso não invalida as conclusões. Onde está o reducionismo? Alguns críticos acham que as questões básicas devem abranger aspectos econômicos e sociais do produto, mas como expliquei antes, isso não é função da CTNBio (http://genpeace.blogspot.com.br/2012/03/o-que-cabe-ctnbio-perus-frangos-e.html). Outros críticos acham que deveríamos incluir sempre mais informação nas avaliações, mesmo que na opinião da maioria estas informações em nada contribuam para a avaliação de risco (a informação adicional é sempre bem vinda em ciência, mas para avaliação de risco ela deve ter, além de qualidade, relevância). Por fim, ainda outros críticos dizem que os membros da Comissão não conseguem integrar os riscos individualizados num todo coeso: os críticos supõem (a maioria não vê da mesma forma) que sempre há perigosas interações entre estes riscos. Em alguns poucos casos pode, de fato, haver este tipo de sinergia ou antagonismo, mas claro que os pareceres levam em conta isso também. Em conclusão, não creio que a CTNBio venha sendo reducionista, ela apenas se atém ao que a lei lhe obriga fazer e, dentro desta função, avalia dezenas de parâmetros de biossegurança e os integra num parecer final. Assim, neste caso, o que parece reducionismo e falta de uma visão holística é simplesmente um trabalho limitado ao escopo designado por lei e pela prática de avaliação de risco. Alerta: depois dos 50 anos de idade muitos de nós temos uma visão muito mais ampla do que podem imaginar os que nos consideram cientistas tolos, que só olham para seus umbigos.

Quanto ao reducionismo nas políticas públicas de biossegurança, acho que é difícil chegar a uma posição clara, porque efetivamente o exercício de um julgamento holístico dos transgênicos, que passaria pelo CNBS, nunca ocorreu de fato. Portanto, o
que temos para concluir sobre isso são os textos das leis e decretos, o que para mim é um cipoal de difícil penetração.